2019

S'il vous plaît

Alguns dias depois da terça-feira.

Estava em êxtase, Gilda me dava liberdade de encara-la, de pegar em sua mão e abraça-la coisa que antes ela criava um muro.

Hoje era quarta-feira e a quarta tornou-se mais empolgante por um motivo; EDUCAÇÃO FISICA. Depois da minha cirurgia fazia quase um ano que não jogava futebol e hoje rolaria um amistoso entre as turmas do 1º e 2º ano.

--- Você está viva! --- Monique falou atrás de mim.

--- E você está sempre querendo me assustar --- disse já abrindo um sorriso com a sua presença.

--- Você está prepara para apanhar? --- ela falou sarcástica.

Quando o jogo começou decidimos fazer um rodizio, eu ainda me sentia fora de ritmo. Fiquei sentada assistindo Monique jogar e apesar de não ocuparmos as mesmas posições (Monique como meia-lateral e eu como zagueira) ela tinha muita habilidade, seu corpo era atlético e bem defino.

--- Largou as velhas e começou a querer o leite ninho? --- Loretta aproximou-se de mim e começou a observar Monique.

--- Você é demais --- falei rindo.

--- Vamos entrar daqui a 3 minutos, para de babar na menina e começa a aquecer --- Loretta falou alongando-se.

Quando entrei na quadra com Loretta fui logo ao meu posto de zagueira, conversei com as outras meninas e decidimos deixar Loretta no meio campo auxiliando as zagueiras e atacantes.

Mal tinha se passado 5 minutos de jogo quando Loretta deu um passe belíssimo para abrir o placar e dai foi bale. No 1º tempo ganhamos de 3x0.

No 2º tempo o jogo começou meio xucro, as meninas se batiam muito e numa disputa de bola bateram forte na perna de Loretta, ela decidiu deixar o campo e eu fiquei no seu lugar na meia-lateral. Nesse momento virei saco de pancadas do 1º ano, não conseguíamos levar a bola perto da área de ataque sem sofrer diversas faltas ou lesões. Faltavam 2 minutos para terminar o jogo quando fui infeliz em errar um passe e da passagem para um gol do 1º ano, a jogadora que fez o gol veio tirar uma graça e ai a briga se generalizou.

Monique estava comigo na direção fazendo massagem na minha perna, eu sentada no banco e ela agachada no chão massageando minha panturrilha toda machucada. No meio da briga tive que usar meu corpo para afastar as meninas, resultado fiquei toda dolorida.

Quando me levantei do banco para ir ao encontro do corredor de saída fui parada por um esbarrão de Gilda.

--- Aconteceu alguma coisa? --- Gilda disse analisando-me

--- Eu caí de mau jeito na educação física--- falei tentando esconder os arranhões do meu braço.

--- Não minta Helena! Você estava no meio de uma briga --- Gilda indagou não muito feliz.

--- Ela na verdade foi separar a briga --- Monique interrompeu e continuou --- As meninas pegaram pesado com ela, Helena é uma ótima jogadora, mas uma péssima lutadora --- Monique disse tentando esclarecer os fatos.

Nesse momento o olhar de Gilda foi direto em Monique, ela analisou a menina da cabeça aos pés e percebeu que a mão de Monique pousava em minha cintura.

--- Helena não sabe lutar e nem jogar futebol --- ela tirou o olhar de Monique e fitou-me --- Ela só sabe jogar xaveco. --- Com tom debochado ela retirou-se do local.

Era nítida a provocação que Gilda jogou para cima de mim por causa de Monique, ela deve estar pesando que estou arrastando asa para Monique. Quando firmei minha perna no chão despedi-me de uma Monique.

--- Helena sua perna está batida, deixe-me te ajudar! --- Monique tentou intervi em minha partida.

---- Muito obrigada Monique! Amanhã conversamos --- falei querendo finalizar o assunto.

Ela não estava na sala de professores, não estava nos corredores e quando esta quase para desistir de achar Gilda. Eu encontrei-a perto da cantina, quando fui aproximando-me fiquei surpresa ao ver que estava acompanhada por um homem.

--- Gilda --- chamei

Ela e o homem viraram no mesmo instante e me encararam. Quando o olhei eu percebi que já tinha o visto nas fotos do facebook de Gilda.

--- Helena já falei que você deve me chamar de Professora Gilda --- ela falou meio acanhada e sem jeito---

--- Não precisa ser tão ríspida com suas alunas na minha frente Gilda --- O homem falou sorrindo para mim.

Boa tarde --- disse o encarando --- Gostaria de falar com a professora Gilda --- falei virando-me na direção de Gilda.

--- Meu expediente acabou --- ela falou indiferente, segurou a bolsa com a mão direita e a chave do carro com a mão esquerda. Estendeu a chave do carro para o homem e indagou --- Querido você já pode ir ligando o carro ---

--- É urgente Gilda! --- disse já impaciente com sua indiferença

---- Você tem 5 minutos para tirar suas dúvidas --- ela falou com um falso sorriso no rosto.

Esperei o homem se retirar e disse.

--- Quem é esse cara? --- falei de um jeito serio

--- Você atrasou meu almoço por essa besteira --- Gilda se virou com a intenção de ir embora, porém meu reflexo foi mais rápido e eu a segurei.

--- Não! --- silenciei por uns segundo e afrouxei meu aperto em seu braço --- Você está chateada comigo e eu não entendo por qual motivo, mas eu quero esclarecer qualquer mal entendido --- suspirei --- Por favor! , fazia tanto tempo que você não me tratava dessa forma.

--- Meu marido --- Ela disse afastando-se do meu corpo

--- O que? --- proferi sem entender sua colocação

--- O cara que você viu ele é meu marido! --- ela esclareceu.

--- Puta merda --- eu falei surrando tentando assimilar a noticia.