salle de bains

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Ser representante de turma não era muito difícil, depois de duas semanas a direção chamou o Neto, ele me ajudava nas partes mais difíceis e no final eu só tinha que anotar na agenda de sala os conteúdos. Depois dos últimos acontecimentos com Gilda eu decidir me afastar um pouco do Gaia, eu tinha impressão que ela me achava uma "maníaca perseguidora de idosas" dessa forma que Loretta apelidou-me. Após ler a conversar de Gabi com Gilda eu percebi que realmente eu era um incomodo para ela e muita das vezes desrespeitosa, isso me machucava porque nunca tinha sido repelida dessa maneira. Nas conversas com Gabi ela relatava o quanto desagradável era conviver com meus fletes. À vista disso decidir esquecer o assunto e prosseguir minha vida.

--- Você concluiu a agenda de segunda-feira? --- Neto disse abrindo a porta da sala para mim.

--- Sim --- falei sem muito animo entrando em sala

--- Você é corajosa! Aula de segunda a sábado com retorno dia de terça e quinta, eu já teria desistido --- Neto elogiou-me.

--- Não é coragem é necessidade, não quero ser "Bi reprovada" --- falei fazendo aspas com a mão.

Ele riu e fomos para os nossos lugares esperando o professor do 1º horário chegar.

Como terça-feira o 2º e 3º horário era de Gilda já tinha me espertado para cabular aula, mas o professor do 1º horário não facilitou e me chamou para ajustar algumas pendencias da turma. Quando conseguir me desvencilhar e fui abrir a porta para tentar fugir dei de contra com Gilda na porta da sala.

--- Querendo fugir Helena? --- ela falou me encarando.

Eu apenas ignorei sua provocação e voltei para o meu lugar. Eu sempre sentava nas primeiras cadeiras, por conta do meu astigmatismo, todavia hoje tinha decidido sentar mais atrás quase na metade da sala. Eu passei a aula concentrada em escrever as anotações do quadro e não desviava meu olhar da lousa por nenhum segundo. No momento em que terminei minhas anotações percebi que boa parte da turma ainda copiava. Um dos grandes problemas de ter disfunções nos rins é a necessidade de urinar toda hora e o nervosismo aumentava essa necessidade. Levantei-me e fui até a porta da sala, dei uma chamada em Gilda e fiz sinal que iria limpar meus óculos com a inspetora. Ela acenou com a cabeça e deu-me permissão.

Eu sabia que era muita criancice não falar com ela ou sentar lá atrás, mas naquele momento era a única forma que eu achei de protege-me, Gilda era bipolar e eu estava começando a me cansar de seu humor.

No momento em que sair de sala fui direto ao banheiro do andar de baixo, quase ninguém o frequentava era usado apenas pelos alunos do Cursinho/Pré-Enem. Entrei na cabine e comei a mexer no meu celular.

--- Você acha bonito cabular aula? --- Uma voz falou assuntando-me

--- Puta que pariu --- eu esbravejei assustada procurando a voz.

--- Aqui em cima --- a voz suave proferiu.

Eu olhei para cima e vi uma moça de cabelos castanhos com olhos claros pendurada na porta do banheiro, provavelmente em cima do vaso sanitário querendo bisbilhotar quem estava se escondendo.

--- Olá --- falei saindo da cabine --- Você não tem medo de cair? --- disse apontando sua travessura.

--- Você nunca se pendurou na porta do banheiro? --- ela disse como se fosse uma coisa obvia a se fazer.

Neste instante eu analisei a reposta que daria, afinal não queria chamar a garota de idiota, mas gostaria de adverti-la pela atitude infantil de bisbilhotar pela porta.

--- Não costuma ser minha prioridade no colégio --- falei encostando-me à porta do banheiro.

--- Você está fugindo da de quem? --- ela disse encostando-se ao meu lado.

--- Gilda --- disse baixo

--- Eu me chamo Monique --- ela disse ficando na minha frente

--- Helena --- respondi endireitando minha postura para ficar a sua altura.

--- Barretos? --- ela exclamou curiosa.

--- Sim, como você sabe? --- indaguei

--- Então você não assiste aula e se enfurna no banheiro --- ela disse contrariada.

--- O que? Não! --- falei não entendo sua fala.

--- Seu nome --- ela interrompe-me e prosseguiu --- está na lista de chamadas do 1º ano, você nunca está nas aulas, mas seu nome sempre é assinado.

--- Faço meu 1º ano de tarde, tive uns problemas ano passado e não conseguir termina-lo --- disse com intuito de esclarecer o mal entendido.

--- Devemos ir embora, daqui a 15 minutos o sinal vai bater e caso os inspetores pegue nossas cabecinhas estamos fritas! --- ela falou virando-se para ir embora.

Monique era demasiadamente engraçada e bonita, eu tinha um encanto por olhos castanhos e Monique tinha os olhos castanhos mais bonitos do planeta. Quando subir as escadas, fui acompanhando seu andar e prestando atenção na sua conversa sobre coelhos. Ela era muito animada e eu não conseguia esconder os meus sorrisos quando ela começava a falar.

--- Acho que você está frita! --- ela falou direcionando o olhar para porta da minha sala.

Ao olhar na direção de seu olhar eu vi uma Gilda irritada na porta me fitando.

--- Foi bom te conhecer viva! --- ela disse rindo e se despedindo com um abraço de lado.

Eu fui me aproximando de Gilda com um nervosismo, minha perna tremia e meu coração só faltava sair pela boca.

--- Você me disse que ia limpar o óculo com a inspetora --- ela falou brava, percebia-se sua irritação pelo tom de voz grave e o olhar irritado.

--- Na verdade eu pedi para sair de sala --- disse evitando seu olhar.

--- Você está brincando comigo? Você acha certo abandonar a sala de aula para ficar se agarrando pelos cantos do colégio? --- ela disse exaltando-se.

--- Eu não estava me agarrando com ninguém --- falei calma tentando evitar uma discursão.

--- Você é cínica! Uma hora me importunando e logo depois importunando outras garotas --- ela queria briga e eu já tinha entendido isso.

--- Professora Gilda me respeite --- falei serena.

---- Respeito? Nessa ultimas semanas você me desrespeitou e afrontou. Eu fui benevolente com suas atitudes, mas agora não serei Helena. --- ela falou mais calma.

--- Você não é benevolente comigo, você me ignora e despeita em qualquer espaço. Não responde minhas dúvidas, não demonstra cordialidade e ainda me acusa de um favoritismo inexistente --- naquela altura já estava irritada com tamanha afronta.

Ela recuou e eu me aproximei

--- Você me afasta mesmo querendo próxima, você me repele, porém me quer de volta no mesmo instante... Eu não sou seu brinquedo --- falei colocando minha mão na parede no lado do seu rosto.

Ficamos caladas nos encarando e pela primeira vez ela me deu abertura para ter um contato mais intimo.

Eu toquei no seu rosto

Eu toque na sua boca

Eu acariciei suas bochechas

E ela só observava meus movimentos.

--- Vamos entrar na sala --- ela disse afastando-se de mim.

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