Gilda

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VISÃO DE GILDA

Não foi fácil entrar naquela sala com Monica, apesar de tudo eu não queria prejudicar Helena, mas nossa história já tinha ido longe demais. Eu não me orgulhava de jogar toda culpa na garota, porém eu sabia que era a única forma de desencanta seu sentimento por mim. Tendo em vista que nos últimos meses, mesmo tratando ela mal, Helena conseguia me cativar com seu jeito carismático, ela ia conseguindo criar brechas e acabava por provocar os meus sentimentos.

Agora eu estava aqui dentro do meu carro, com a culpa corroendo meu peito e não parando de pensar nela.

Aquele beijo, a conversa com Monica e todos aqueles sentimentos.

NO OUTRO DIA.

Eu tentei fugir das ligações e mensagens de Monica, mas ela foi implacável. "Amanhã ás 15h" foi à mensagem que eu recebi de apito final. Provavelmente o horário era para não encontrar com Helena.

Cheguei ao Gaia 14h40 com o frio na barriga que me acompanhava desde dia anterior, fui subindo as escadas com um nervosismo tremendo e com certa culpa. Eu ia destruir o coração de uma jovem que não tinha culpa dos sentimentos que carregava.

--- Gilda --- A voz de Monica preencheu o recinto

--- Monica --- o aceno foi breve

--- Você parece meio cansada --- Monica tentou descontrair o momento

--- Por favor, seja breve --- eu falei com certa seriedade.

--- Conversei com Helena, foi uma conversa densa e delicada, mas consegui resolver algumas situações--- ela deu uma pequena pausa e continuou --- Não pense que estou privilegiando Helena e muito menos tentando sair em sua defesa, mas gostaria de pedir que você não fosse tão rígida nas acusações. --- Monica pediu como uma mãe pede por seus filhos e surpreendeu-me.

--- Nunca quis prejudicar Helena, mas suas atitudes eram insustentáveis. Era extremamente inadequada a forma como ela se portava. --- eu tentei iniciar um raciocínio.

--- Eu sei --- ela interrompeu --- Helena deixou claro ontem quando relatou sua versão. --- finalizou

Eu gelei no mesmo momento

--- Crianças têm mentes férteis e criativas. Não me surpreenderia pela criatividade da historia que ela deve ter contado --- eu falei tentando me defender, não tinha entendido a fala de Monica.

--- Ela contou a mesma historia do que você --- Monica disse cirúrgica.

Eu ainda estava com dificuldades de entender as falas de Monica, ela parecia analisar com tanta profundidade o meu ser. Eu comecei a ficar desconcertada.

--- Ela confirmou a minha versão? --- perguntei

--- Mais do que isso, ela se disponibilizou a pedir desculpas e se retratar --- Monica pontou.

--- Não será preciso --- já estava incomodada com a situação e gostaria de finaliza-la

--- Eu acredito que será bom para vocês duas essa conversa, Helena foi extremamente admirável em reconhecer seu erro, se prontificou em pedir desculpas e fazer uma retratação. --- Monica disse de maneira convincente.

--- Reconhecer os erros? Afinal o que diabos Helena disse? --- falei já exasperada com tanta enrolação.

--- Ela confirmou toda sua versão; assedio ameaças e etc.

--- Bom então vocês que devem cuidar da punição --- eu falei tentando esconder o certo tom de culpa em minha voz. Ainda não tinha acreditado que tive a coragem de falar que Helena me ameaçou.

--- Na verdade a punição deve ser feita pelo diretor.

--- Você tem em mente a punição que o Diretor Junior fará?

--- Olimpíadas de matemática.

Nesse exato momento a culpa me atingiu em cheio, Helena vivia falando das olimpíadas.

--- A punição não está muito severa? – eu questionei

--- Para assédios e ameaças eu acharia branda --- ela disse irônica --- porém, para flertes é injusto--- ela completou.

--- Monica você está insinuando que

Antes de concluir minha frase ela interrompeu

--- Eu vi as câmeras de segurança --- ela falou

Minha cabeça virou, meu estomago embrulhou e em 46 anos de vida nunca pensei em passar por tamanha situação. Pensei em meus filhos, meu marido e meus pais.

--- Monica --- eu sussurrei

--- Gilda eu não irei prejudicar você --- ela tentou me tranquilizar --- Eu quero que você apenas converse com Helena. --- ela disse me observando

--- Helena é uma criança, ela me desrespeitou, encurralou e fez-me chegar nessa situação ridícula --- a raiva em minha voz já era nítida --- eu não quero conversar ou esclarecer. Eu tenho marido, filhos e família. Eu só quero respeito o suficiente para fazer meu trabalho e não precisar passar por mais situações constrangedoras. --- tentei acalmar minha respiração, mas foi em vão.

--- Gilda, eu entendo sua aflição. Contudo, Helena não é uma menina ruim. Se você conversar com ela vai encerrar esse assunto de uma vez por todas. --- Monica falou mais branda e com uma voz mais doce, ela estava intercedendo pela garota.

--- Eu nunca entendi toda essa proteção com a menina --- eu questionei.

--- Você não precisa entender o meu trabalho --- ela finalizou.

Encaramo-nos pela ultima vez, pedi que não fosse mais importunada em relação ao assunto e a única coisa que esperava de Helena fosse o respeito em sala de aula. 

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⏰ Última atualização: Nov 09, 2021 ⏰

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