"...meu corpo gostaria de ser tocado por aquelas mãos quentes e grandes, cheias de malícia e independência."
Joana
Não sei dizer exatamente por quanto tempo permaneci em contato com sua mão grande e quente, mas o leve pigarrear ao meu lado, faz a realidade se tornar palpável para desfazer o contato com rapidez.
Também sou a primeira a desviar os olhos, quando suas sobrancelhas erguem, ainda me analisando. Encaro dona Tetê, que mantém um semblante curioso em nossa direção.
— Vocês já se conheciam?
— Não! — respondo de imediato, uma rápida olhada em sua direção e o seu cruzar de braços sobre o peito mostra que ele se recorda muito bem de mim.
— Acredito que não, mas quem pode saber? Já estive em muitos lugares. — Seu tom é quase um alerta.
— A Jô veio de uma cidade muito pequena, menor que Santino e precisa de uma ocupação.
— Tem alguma experiência de trabalho? — Sei que a pergunta é feita diretamente a mim, mas a covardia não me permite encará-lo.
Cruzo os braços estendidos em frente ao corpo, assim como fiz quando entrei no pulgueiro e pousei meus olhos nele, atrás do balcão.
— Não — respondo, mais baixo do que pretendia.
Miro o balcão à minha frente, agindo feito uma criança medrosa, sinto uma mão delicada e quente espalmar na minha lombar e dar um leve impulso para frente. Sutil e imperceptível, dona Tetê me passa apoio e incentivo.
Finalmente ergo os olhos fitando, mais uma vez, a miríade de questionamentos naquele olhar tempestuoso. Engulo em seco e empurro os ombros para trás, solto as mãos na lateral do corpo e busco aquela fagulha corajosa dentro de mim.
— Não tenho experiência, ainda não tive uma oportunidade. Mas garanto que sou ágil e esperta. Faço conta de cabeça também. — Consigo tornar minha voz mais firme, segura das verdades que saem no discurso.
Sua cabeça tomba de lado, quase imperceptível, ainda me avaliando com atenção, até diria com interesse genuíno.
— Vai ficar com esse zóio matador até quando, Tadeu? Dê logo uma chance pra menina — dona Tetê intervém.
— Podemos fazer um teste amanhã, de dia. Tenho experimentado algumas receitas, preciso de alguém que me auxilie na cozinha. — Ele sinaliza com a cabeça para a porta da retaguarda.
— Vai ter coisa boa pra servir? — a loira pergunta, bastante interessada.
Finalmente ele quebra o contato comigo, solto o ar que comprimia meus pulmões, aliviada por sair do seu radar, mesmo que temporariamente.
— Estou testando algumas coisas. Porções e pratos rápidos. Muitos forasteiros vêm em busca de algo para comer, essa parte era a mais defasada do bar.
— Realmente não tinham muitas opções para comer. Boa ideia.
— Tu chega aqui amanhã, por volta das 15h. — Tadeu volta a me encarar.
— Tá certo. Agradecida pela oportunidade.
— Faça valer a pena, Joana. — Pode ser coisa da minha cabeça, mas senti uma empolgação em seu tom.
— Ela fará. Pode ter certeza — dona Tetê responde por mim quando percebe meu estado paralisado. — Vambora! Até mais ver, Tadeu.
Ele acena com a cabeça para a loira, mas seus olhos ainda permanecem em mim, curiosos, intrigantes, buscando respostas que eu duvido muito ter para sanar seu estado de espírito.
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[Degustação] Na Pegada do Patrão - Livro 3
RomantizmTadeu, por muito tempo, viveu em busca do seu lugar no mundo. Filho único de mãe solo, saiu em busca da sua origem paterna até que as pistas o levaram para Santino. Assumiu o bar da cidade, com desejo e vontade de fixar raízes e dar outro rumo no ca...