América do Sul - 20 horas depois
— A magia alimenta. A magia nutre o solo. A magia causou esta guerra. Duas Américas em conflito, travando uma batalha que dura meses. Até quando permitiremos que a magia destrua vidas? — Com a voz grave e o rosto duro, Eloysa olhou novamente para o rascunho em sua mão, exausta pela leitura.
— Não aguento mais ser usada como "telespectadora cobaia". — Segurando uma xícara de chá frio, Fabi fez uma careta. — Sou a irmã mais velha, deveria me tratar com carinho e respeito.
— Passei horas redigindo isso para o Jornal Sulista. Espero que dessa vez, meu texto seja utilizado por aqueles "âncoras babacas"! — Eloysa fechou seu laptop e colocou a mão sobre o objeto, utilizando a magia de seus dedos para recarregá-lo.
Obrigada a escutar os ensaios da caçula durante a madrugada, Fabi memorizou o discurso até a última vírgula. Responsável pelo comitê de relações internacionais, a irmã mais velha trabalhava para uma organização privada que buscava apaziguar o conflito entre as Américas. Era a décima chamada telefônica que ela ignorava, dedicando sua manhã inteiramente à irmã mais nova.
— Você quer que eu seja educada ou sincera? — A almofada no colo de Fabi voou na direção do rosto da irmã.
— Que espécie de pergunta é essa? Se vai partir meu coração, faça isso rápido. — Eloysa tentou disfarçar o sorriso, mas fraquejou quando sua irmã fez "Aquela Cara".
— Você não passa de uma estagiária infeliz, Eloysa! — Debochou Fabi, gargalhando. — Aposto que desistirá do estágio em menos de um ano. — Ela parou, segurando o queixo. — Pior! Talvez não dure seis meses.
Entre o choque e o riso, Eloysa custou a crer na falta de fé que sua irmã tinha em seus objetivos. A estagiária sacudiu uma peça de roupa na cara de Fabi, provocando-a.
— Eu acredito no seu sonho de intermediar uma trégua nessa guerra — pontuou Eloysa, ajeitando seus pertences na bolsa. — Deveria acreditar no meu, também! Mas, já que deseja tanto uma aposta, vamos lá. Se por acaso você for a ganhadora, ficará com esta blusa que você adora — a peça de roupa era azul listrada e agora cobria o tronco de Eloysa. — Se eu ganhar, você pagará uma parcela da minha faculdade. — Antes que a outra aceitasse, ela corrigiu: — Uma, não! Três.
— A pirralha cresceu mesmo, vejam só. — Quando Fabi encarou o tecido, ela não pôde evitar o brilho no olhar. — Quer saber? Combinado! — selou o pacto, prestando continência.
— Contarei os minutos, até que você quite meus boletos — ambicionou Eloysa, imitando o gesto militar.
Energizada pela pressa, a jovem saiu pela porta principal, gritando "tchau". Antes que ela desaparecesse na correria do dia a dia, Fabi colocou a cabeça ao lado do batente e berrou:
— Sabe que pode contar comigo, certo? Se precisar de grana, posso arrumar...
— Cala boca! Não vem bancar a boa samaritana só porque constatou que perderá a aposta.
— Então, que vença a melhor, Garota do Jornal. — Fabi balançou os dedos como um leque, abanando na direção da saída. — Pedirei estrogonofe para o almoço. Não atrase!
As irmãs dividiam uma moradia simples, situada no coração da cidade de São Paulo. A placa da rua, vulgo poleiro, servia como ponto de referência para Eloysa. "Me encontre abaixo da placa suja de cocô de pombo" era mais certeiro que GPS.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MAGO
FantasyEm um mundo regido pela Magia, duas nações estão à beira de um conflito, colocando em risco a existência da humanidade. Usando seu conhecimento prévio, Eloysa deseja, apenas, conscientizar os humanos. Após receber uma enigmática mensagem, a ela cabe...