06

85 24 77
                                    


Imersa, outra vez, no passado, a estagiária recordou-se de sua irmã, ainda pequena, provando roupas novas. As duas sempre se juntavam, desfilando com trajes chamativos e listrados, os preferidos de Fabi.

— Ei, levante! — A voz de Okyam destruiu o devaneio, transportando-a de volta para a realidade.

Forçando o corpo dela pelas ferragens, o jovem retirou a amiga do veículo amassado. Mancando, assustada e com cortes na boca, Eloysa correu, reconhecendo a rua, mesmo no meio da destruição. Um déjà vu a fez abraçar o próprio corpo.

FABI! Seu cérebro gritou, de repente.

Quando o pé direito dela pisou na placa da rua, partida ao meio, precisou olhar duas vezes. As casas do lado esquerdo se amontoavam em pilhas de escombros. Do outro lado, as moradias ardiam com chamas azuis, o odor de magia misturando-se ao cheiro de fumaça.

A magia alimenta. A magia nutre o solo. A magia causou esta guerra. — Seu discurso, escrito no dia anterior, saiu de seus lábios como o sussurro de um fantasma.

Fracassando na tentativa de detê-la, Okyam congelou, ao observar os pés de Eloysa caminhando para o que um dia foi sua casa. As paredes estavam tombadas, os móveis, esmagados, pareciam peças de um quebra-cabeça sombrio e as telhas se espalhavam pelo quintal.

— Eu... Eu sinto mui... — Okyam tentou falar, mas Eloysa o interrompeu, gritando "não".

Ela ajoelhou-se diante da destruição e começou a revirar os restos de concreto com as próprias mãos, utilizando a magia que queimava dentro de si. Movendo os entulhos, ela sabia muito bem o que estava procurando, mas rezou para não encontrá-la.

Ela não está aqui. Com os dedos sangrando e o rosto esperançoso, Eloysa continuou. Estava determinada. Raiva. Medo. Saudade. Todos os sentimentos lutavam para tomar controle de seu corpo.

Ela não está aqui. Ela não está aqui.

Okyam assistiu à cena, sem saber o que fazer. Foi quando sua amiga viu algo. Entre o tijolo pontiagudo e o porta-retratos estilhaçado estava uma mão inerte, os dedos quebrados.

Ela está aqui!

Em choque, Eloysa desenterrou a irmã, mergulhando os punhos nas ruínas. Guardando as lágrimas, ela aceitou a ajuda do amigo, que se aproximou, silencioso. Os olhos de Fabi encaravam o céu nebuloso, perdidos em um mundo inalcançável. A morte fez seu corpo parecer mais frágil, pequeno e desprotegido, por isso Eloysa despiu a blusa de listras azuis e colocou sobre os ombros dela, cuidadosamente.

— Você ganhou a aposta... Eu... Eu desisto daquele maldito estágio — murmurou, abraçando a irmã.

Ali, em céu aberto, corriam risco, a qualquer momento, as naves norte-americanas poderiam retornar, Okyam sabia disso. Ele tentou, mas era incapaz de invadir o espaço da amiga, de intervir na despedida. Fabi era tudo o que Eloysa tinha, ela merecia o tempo necessário para dizer "adeus".

Passaram-se minutos, talvez horas. O anoitecer, aos poucos, tomava seu lugar nos céus. Distante dali, diversos sons chegavam aos ouvidos deles: vozes, tiros e pios agourentos de águia metalizadas. Contudo, a interrupção do momento foi causada pelo celular de Eloysa, que voltou a vibrar. A mensagem anterior foi atualizada e agora faltavam "seis horas para o Fim". Ela deitou o corpo da irmã sobre os escombros, levantou-se e fitou seu amigo, percebendo que não estavam sozinhos.

De longe, o par de olhos os observava. Trajando roupas largas e com um tecido que cobria o rosto, a pessoa parecia uma estátua. Cauteloso, Okyam afastou a amiga, temendo um ataque repentino.

— Quem é você? O que quer? — Quis saber Eloysa, ainda abalada.

O desconhecido colocou a mão no bolso, retirando um objeto reluzente. Apertando os botões do celular, o estranho enviou outra mensagem para o contato salvo no topo da sua agenda. Eloysa sentiu seu celular tremer, outra vez.

— Eu a encontrei, finalmente. E preciso da sua ajuda, agora. — O timbre de voz indicava que o tal "MAGO 25" era mulher, mas o jeito de falar despertou algo em Eloysa. — O desfecho se aproxima e assim como a guerra, ele é implacável.

— Seja lá o que for, não posso ajudá-la. Eu não quero! — rebateu Eloysa com rispidez. — Fique longe de mim.

Ela virou as costas e se apoiou no braço do amigo. Eles começaram a descer os escombros, quando a estranha insistiu:

— Eu não vejo somente a sua dor, Eloysa. Eu sinto, também. Todo o seu sofrimento faz parte de mim. Faz parte do que eu sou. Do que nós somos... Eu e você compartilhamos a mesma alma. Seu luto é o meu luto. Sua angústia é a minha angústia.

Eloysa voltou sua atenção para a mulher enigmática, que dava pequenos passos. Okyam, confuso, olhava de uma para a outra, atônito.

Deveria ter contado mais estrelas — ressaltou a estranha.

Com os olhos arregalados e a respiração irregular, Eloysa sentiu o coração bater a mil por hora, enquanto seu cérebro negava-se a acreditar. Ela morreu anos atrás, não pode ser... Isso é impossível.

— Mãe? — Indagou a ex-estagiária.


♜♜♜

✨Depois de muita Magia e frenesi, diga-me, o que está achando da história?✨

A 3ª e última parte de MAGO estreia dia 26 de Novembro

MAGOOnde histórias criam vida. Descubra agora