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Os âncoras interromperam a programação para comunicar aos sul-americanos sobre o surgimento da torre em São Paulo. Imediatamente, a dupla de repórteres externos, incumbidos de filmar tudo de perto, zarparam para o local, arrastando câmeras, microfones e dois estagiários.

— Nosso primeiro trabalho nas ruas — murmurou Okyam, cutucando a amiga. — Cadê seu entusiasmo? Você estava sonhando com essa oportunidade há semanas!

— Precisa ver algo. — Ela ergueu o celular na cara dele, mostrando a misteriosa mensagem. — Parece que tenho um encontro. A pergunta é: com quem?

— O mundo prestes a ruir e um estranho decide te chamar para sair? — Okyam tomou o aparelho, franzindo a vista para reler o recado. — A pergunta deveria ser: você é azarada ou sortuda por conseguir um encontro no meio da crise global?

Eloysa fez uma careta, tomando o celular para si. A mensagem foi excluída e o número remetente, com mais algarismos que o normal, foi bloqueado.

Com um solavanco, o furgão da reportagem freou no meio-fio, a centímetros do ônibus parado no meio da avenida. Os curiosos congestionavam as ruas, mirando celulares, recarregados por magia corporal, na direção da torre. Centenas de gravações tomaram conta das redes sociais, alimentando a sede dos internautas por informação.

Os estagiários, usando coletes com a logomarca do jornal, seguiram a repórter eufórica e o cameraman rabugento. Os jornalistas abriram caminho entre a aglomeração, a câmera servia como uma placa de "afaste-se". A missão dos profissionais experientes era filmar o melhor ângulo e transmitir o ocorrido para a audiência do Jornal Sulista.

— ... Como podem ver, a estrutura monumental surgiu repentinamente... — comunicou a repórter, gesticulando com uma mão e segurando o microfone com a outra.

Abandonados lá atrás, Okyam e Eloysa faziam gravações com pequenas câmeras, registrando o momento para futuras reportagens. Os paulistanos erguiam as cabeças para cima, maravilhados com a visão; fitar a torre exigia boa musculatura no pescoço. De perto, nenhum olho humano conseguiria enxergar o topo da torre que desaparecia na imensidão celestial.

— Tudo para nos tornarmos jornalistas — sussurrou Eloysa, e seu amigo repetiu o mesmo.

— Eles lutam entre si e fecham os olhos para o problema que poderia nos unir — soluçou uma estranha mulher, ao lado de Eloysa. Tirando os olhos do visor da câmera, a estagiária sentiu o arrepio gelar sua espinha. — Somos uma só América, separados pela ganância, guerreando como neandertais armados com magia.

A dona da voz era uma cidadã de meia-idade, com semblante cansado e mãos trêmulas. Distante da multidão, a idosa encarava a torre com olhos sombrios. Eloysa quis dizer algo, mas não conseguiu pensar em nada.

— Eu sinto muito, criança. Minha geração gastou mais tempo construindo armas mágicas, do que lutando pela paz — continuou a senhora. — A magia foi incapaz de derrubar esse monstro chamado ódio...

— Talvez, passar por tudo isso faça parte do processo para alcançarmos a paz... — Antes que a última palavra deixasse seus lábios, a estagiária se calou.

Percebendo, tarde demais, o machucado na cabeça da senhora, Eloysa espantou-se quando a mulher desmaiou em seus braços. Assustada, a jovem gritou por socorro, chamando a atenção dos curiosos para si. O cameraman mirou o focinho da câmera na direção dela, e por alguns segundos, a imagem de Eloysa foi transmitida para todo o país.

A farda preta no meio da multidão concedeu alívio a jovem. O policial correu em sua direção, berrando comandos num rádio comunicador. Naquela distância, as palavras não chegavam até os ouvidos da estagiária, porém, as pessoas mais próximas do agente da lei entraram em pânico. Diversas pessoas se afastaram, correndo. Sirenes ecoaram de todas as direções, inflamando o caos generalizado.

Okyam avistou a amiga, e na tentativa de ajudá-la, foi empurrado para o outro lado da calçada. Foi nesse momento que comboios militares estacionaram na avenida, formando uma barricada humana entre a multidão e o lado leste da praça. Soldados desceram dos veículos, mirando armas colossais na direção das nuvens.

— SAIAM DAS RUAS! — vociferou o general, usando um megafone conjurado por encantamento.

O pio ensurdecedor desceu dos céus, rasgando os tímpanos da multidão. Eloysa abandonou a estranha no chão e correu para o prédio mais próximo, o cheiro de ferro perfurando suas narinas. Confusa, ela mirou a cabeça para o alto, avistando cinco águias de ferro, enormes, despejando uma tempestade cintilante pela cidade. As bombas mágicas caíram, explodindo como fogos incandescentes. O show de luzes, que encantava pela beleza, ceifava vidas inocentes, enquanto a torre permanecia incólume, sem nenhuma rachadura.

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