Tenta Acreditar

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Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Nenhuma notificação.

Três dias e nenhum dos dois cedeu. Ele não faria isso, não ia ceder, ele pensou ter encontrado a pessoa certa no mundo e não queria perder nenhum minuto, queria dar um jeito, queria ficar junto. Ela até gostava dele, mas não tinha jeito, e sabia que a partir do momento que digitasse qualquer coisa, o encheria de expectativas inválidas, e ela queria muito mais ter responsabilidade afetiva com ele do que ter o conforto de falar com ele, não podia magoa-lo.

Não ia dar certo, foi melhor assim, talvez, o universo, os astros, os portais energéticos e as estrelas cadentes já tivessem decidido, e só eles precisassem de um drama para entender. Talvez aquele romance fosse exatamente daqueles que vemos nos comentários de vídeos clipes acompanhados de frases genéricas como "Amores que não são para ser vividos" ou aquele clichê de "Amor para sua vida e amor da sua vida". Talvez um dia ela contasse a história dos dois de modo inspirador para sua futura filha quando ela terminasse o primeiro namoro. Talvez.

Se era irreal, se não era pra ser, se não tinha jeito, porque ela não conseguia arrancar ele de dentro dela?

Nenhum story, nenhum post, nenhuma curtida, nenhum retuite.

Se era irreal, se não era pra ser, se não tinha jeito, porque o sumiço dele a consumia devagar?

Qual nome disso? Amor? Bobagem. Pelo menos ela se convencia que era bobagem a cada minuto do dia, porque se fosse, se ela amasse o Andrew, não poderia ser mais estúpida de tê-lo deixado ir.

Um mês depois, o que era certeza antes se transformou em "Talvez desse certo". Sempre que surgia oportunidade ela citava algum momento com ele. Quando tocava aquela música que ele gostava na festa, ela só pensava em gravar um áudio cantando alto. Se pegou assistindo várias o filme do Leonardo DiCaprio que ele gostava, várias vezes mas não entendeu nenhuma vez, queria que ele estivesse junto para explicar cada cena confusa.

Dois meses. Ele postou uma foto no feed, uma paisagem acompanhada de uma taça de vinho. Conceitual. A legenda dizia "De volta para casa", em italiano. Depois, os stories começaram a aparecer, vídeos com os amigos, rindo alto, dançando, bebendo, nada diferente do que ela estava fazendo, mas, por algum motivo isso a incomodava.

Quatro meses. Ela já havia silenciado o perfil dele, estava saindo com um colega de trabalho, Nathan Riggs. E olha só, por pura ironia do destino, estavam de mudança para São Paulo, devido ao grande crescimento da Nobis, precisavam de um escritório lá, e eles seriam os responsáveis junto com Amelia e Callie.

Péssimo timing.

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- E a Arizona? - Amy perguntou para Callie enquanto tirava as caixas do carro, levando para dentro do escritório.

- Ela tá feliz, fazendo planos... Quer que eu more com ela.

As três entraram na sala despejando as últimas caixas, e se jogaram no chão, exaustas.

- Isso não é demais? - Mer falou encarando o teto.

- Meredith, você tem que superar esse seu medo de compromisso. Eu e a Arizona já perdemos muito tempo com essa besteira de casualidade, estamos no mesmo estado agora, sem pretexto ou joguinhos, só vamos fundo.

- Olha, eu sou a personificação do estereótipo que mulheres saficas são "emocionadas" - Ela faz sinal de aspas com as mãos. - mas, a Carina alimentou minhas expectativas, pra depois, entrar em um avião sem plano de volta.

- Ainda nessa?

- Como se você não estivesse ainda na do Andrew.

- Eu não estou, fui eu quem não quis nada com ele.

- Então porque você tá enrolando o Riggs? Você não engana ninguém.

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Dezembro chegou e lá estava Meredith Grey, fazendo compras para o Natal junto com seu namorado. Ela cedeu ao clichê, entrou de cabeça num relacionamento, seria muita falta de responsabilidade afetiva dizer que era com intenção de esquecer o Andrew, então ela não dizia, mas pensava.

Nathan era uma pessoa boa, bonito, simpático, engraçado, inteligente, a fazia feliz. Num almoço, ele perguntou para ela, o que eles tinham, com medo, ela o intimidava, tinha medo de que qualquer passo em falso a levasse para longe, ou o levasse para longe, mas ela só respondeu suavemente: Namorados.

Sem tremer, sem vacilar, sem fugir. Mesmo querendo.

Andar de mãos dadas no shopping, cantar no carro, dividir a pia do banheiro, ela nem sabia que queria tanto isso até ter. Ela jantou com a família dele na véspera de Natal, foi mágico, eram carinhosos, receptivos, ela se sentiu em casa. Ele segurou a mão dela durante o jantar, dançou a noite inteira abraçado, a beijou na queima de fogos.

Se era tudo tão bom, por que ainda parecia faltar algo? Hora certa, pessoa errada. Ela queria tudo aquilo, mas não com ele, e sim com ele.

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Ano novo, vida nova. Ela repetiu pra si mesma quando o relógio bateu 00h00, depois beijou Nathan, que prometeu que aquele ano seria dos dois, ela só tossiu baixo sem saber responder. Estavam no apartamento da Callie, o álcool já dominava todo o lugar, e ela ria alto na cozinha, jurava que tinha o mundo inteiro ali, com seus amigos, e mais vários amigos estranhos e hippies da Arizona.

Em uma fuga para atender o telefone na sala de entrada, ela se encostou na porta, depois de falar com o Alex, e numa fração de segundos sentiu a maçaneta acertar suas costas, alguém tentando entrar.

- Aí. - Ela resmungou e puxou a porta.

Talvez fosse o álcool, talvez um sonho, mas ela estava enxergando o Andrew ali diante de seus olhos com uma camisa branca e uma garrafa de vinho.

ClareiamôOnde histórias criam vida. Descubra agora