Terça-Feira chegou, ela acordou cedo, mas não saiu da cama, ele também acordou, mas não ousou dizer uma palavra, muito menos se mexer. Em três horas ela deveria estar no aeroporto, mas a cama era exageradamente quentinha e confortável... Talvez, só talvez, não fosse pela cama, mas sim pela companhia. Ela estava fazendo o peito dele de travesseiro, as pernas estavam entrelaçadas, a mão dele fazia um cafuné tão gostoso no cabelo dela.
Quatro dias. Só quatro dias. Em quatro dias ela se divertiu como nunca, não era seu primeiro carnaval na Bahia, mas dessa vez foi diferente, antes ela ficava obcecada pelas marchinhas, as vezes ia ver os desfiles, amava a liberdade que sentia ali, mas dessa vez, queria estar presa, a ele. Desde o primeiro olhar quando ela entrou no carro, desde o primeiro sorriso que trocaram um para o outro, desde o primeiro beijo no rosto, desde o começo, era ele. O meio sorriso que abalava todas as estruturas, o jeitinho que ele virava a cabeça que fazia ela aceitar tudo que ele propusesse, as mãos que se moviam incansavelmente enquanto ele falava, aquele cacho específico do cabelo dele que sempre ficava fora do lugar... Quão brega seria dizer que se apaixonou em quatro dias?
Ele não queria saber se seria brega, cafona, ou qualquer adjetivo negativo, só queria afirmar todos seus rápidos porém sinceros sentimentos pela carioca. Nunca havia se sentindo assim por ninguém no mundo, poderia soar tosco, mas sentia que ela era o amor da sua vida, o amor eterno, que ele ganhou de presente atrasado de Natal... Exagerado? Talvez, mas ele sempre foi um pouco emocionado. À primeira vista, a achou misteriosa, queria decifra-la, mesmo com medo de levar um fora, ela o deixava intrigado. Quando a viu no dia seguinte, com glitter no corpo inteiro, rindo da cantada terrível dele, sabia que era a pessoa certa.
— Meredith, eu... — Ele respirou fundo, ela levantou a cabeça e o encarou. — Olha, eu to levando a maior chance de ficar apaixonado por você, e eu queria saber se você tem alguma coisa contra.
— 434,9 km.
— 434,9 km de coisas contra? Difícil, mas eu consigo refutar tudo isso.
— Bobo! — Ela riu. — 434,9 km de São Paulo pro Rio.
— Eu iria todo dia por você. — Ele passou a mão no rosto dela. — Iria até a pé.
— A pé você ia demorar alguns dias, então não seria todo dia. — Ela apertou o nariz dele. — Eu gosto de você, também tô muito na sua, mas...
— Não, não, não. Sem "mas", por favor.
— Mas... — Ele não deixou ela terminar de novo, a calou com um beijo intenso.
Depois de ficarem mais uns minutinhos enrolando na cama, porém, sem voltar a tocar no outro assunto, eles levantaram, ela o ajudou a arrumar as malas, apesar do vôo dele ser horas mais tarde que o dela. Ele a levou até o hotel, a ajudou também com as malas e dirigiu até o aeroporto, o silêncio tinha se instalado e virado melhor amigo deles.
Nesses dias Meredith pensou tantas vezes como seria ter a companhia do Andrew todos os dias, calculou todas as probabilidades de conseguir manter qualquer relação com ele, quando ouviu ele dizer que estava apaixonado, encheu-se de expectativas, mas, agora, indo em direção ao fim desse feriado, sabia que não passava de uma idealização muito tosca. A vida se afunila, ela teria suas prioridades no Rio e ele em SP, foi extremamente imaturo pensar que um dia poderia dar certo.
Ele compartilhava do mesmo pensamento, mas não por vontade própria, e sim por ter interpretado que aqueles dias não significaram pra ela tanto quanto pra ele, pensava que pra ela tinha sido só alguns dias de diversão. Se sentia ridículo, havia compartilhado todos seus sonhos, seus medos, suas histórias mais secretas, com alguém que ele jurava ser a mulher da sua vida, mas não passava de uma ficada no carnaval. Repetia pra si mesmo que não era mais um adolescente cheio de espinhas com as mãos suadas para se comportar desse jeito, não existia motivo pra decepção ou mágoa, foram poucos dias pra ele ter depositado tanta expectativa, essa desilusão era responsabilidade exclusiva dele, então, apenas respirou fundo e estacionou no aeroporto.
— Quer que eu espere com você? — Ele perguntou.
— Não... Olha, Andrew...
— Eu já sei. — Ele sorriu mas não chegou aos olhos. — Esquece isso, eu vou esquecer também.
— O que? — Ela perguntou confusa.
— Nós... Eu e você... Eu sei que falei aquilo mas, foi um erro meu.
Ela não queria acreditar no que estava ouvindo, estava prestes a fazer a maior declaração, expor todos seus sentimentos, iria dizer que se fosse pra ser a vida cruzaria os caminhos de novo, e recebeu um balde de água fria.
— Ah... Ok. Certo. Então, tchau. A gente se encontra em outro carnaval. — Ela deu uma risada forçada, ele fez o mesmo.
— Até, Mer.
Ela desceu do carro, entrou no aeroporto e sumiu da vista dele, seria exagerado dizer que ela levou o seu coração? Mas era verdade. Foi rápido, seco, nenhuma despedida dramática, sem um último beijo, se isso era o normal dentro daquele contexto, por que os dois se sentiam tão incompletos?
●
fim.
ou não, não sei..
![](https://img.wattpad.com/cover/286928457-288-k715444.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Clareiamô
Fiksi PenggemarEssa é uma fanfic curtinha baseada no EP Musical: Anavitória Canta para Foliões de Bloco, Foliões de Avenida e Não Foliões Também.