Capítulo 2

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— Ah que ótimo! Todos os meus pertences agora estão com outra pessoa! Simplesmente ótimo! — falo irritada comigo mesma

Espera! Outra pessoa? K... De onde eu conheço alguém com K? Ka... Kara! — Minha mente acende uma luzinha como se mostrasse a possível pessoa que estaria com a minha mala — Mas espera, se minha mala está com Kara, por mais que eu a "conheça", não faço ideia de onde ela mora... que ótimo! Vou ter que comprar novas peças de roupa... pelo menos o meu diário, minha vida, está em minhas mãos... pelo menos isso...

— Ok, não tem muito o que fazer agora — repito comigo mesma

Saio do quarto e Sam já havia falado com Alex confirmando o jantar às 20h. Decido sair para comprar algumas coisas que vou acabar precisando, "até porque não vou ver minha mala tão cedo" e acho melhor passar na empresa do meus pais para deixar claro minhas intenções aqui. Checo no relógio e ainda são 16h. Me despeço de Sam, pego um táxi e sigo para a L-Corp. Chegando na recepção, não precisei me explicar visto que todos ali pareciam se dar conta de quem eu sou. Apenas pedi a informação de onde era o andar de meus pais, para a recepcionista, e segui para o elevador.

Aperto o último botão "clássico de mamãe", e espero pacientemente as portas metálicas abrirem a minha frente, revelando minha figura. Assim que isso acontece, observo o ambiente que trabalharei em pouco tempo e sorrio com isso. Algumas coisas precisam ser mudadas, apesar de gostar da decoração de mamãe. Caminho a passos lentos até a secretária que se encontra a minha frente, já me esperando com um sorriso no rosto. "Cordial" — pensei

— Olá — me apresento

— Senhorita Luthor, é um prazer conhecê-la, sou Jess — "simpática, gostei" — gostaria de um café, água, um chá? Desculpe, não sabia que estava vindo...

— É muito gentil da sua parte Jess, obrigada. Mas não, queria apenas que me levasse até meus pais por favor. — Falo e dou um leve sorriso

— Claro. A senhora Luthor está em uma reunião com o conselho, mas o senhor Luthor está em sua sala revisando alguns documentos. Gostaria de vê-lo? — pergunta em expectativa

— Sim, por favor — falo e a mesma faz um gesto me pedindo para segui-la. Bate na porta e escutamos um "entre" de papai.

— Senhor Luthor, com licença, a senhorita Luthor está aqui para vê-lo — fala Jess para meu pai e na mesma hora ele tira seus olhos dos documentos em sua mesa e os direciona para a mim. Assim que me vê, abre um sorriso capaz de iluminar qualquer lâmpada em uma rua escura.

— Cariño! — papai exclama com tanta vontade que me enche o coração saber que ele estava contente em me ver — não sabia que vinha! — se levanta vindo em nossa direção e logo Jess pede licença saindo nos deixando à sós.

— Pai! — falo o abraçando apertado — que saudade! — deixo algumas lágrimas saírem.

Faz anos que não o vejo. Assim como Sam, faz exatos 5 anos que não vejo meus pais. Ele continua do mesmo jeito de sempre. Seus traços, apesar de mais velhos e abatidos, o que presumo ser pelo cansaço, continuam lindos como sempre. Seus cabelos estão em um tom mais grisalho do que me lembrava e seu cheiro de loção pós barba continua o mesmo presente em minha memória. Papai tinha um jeito extrovertido de ser, completamente diferente de mamãe. Quando mais novo, seus traços latinos eram mais aparentes, pelas várias fotos que me lembro crescer vendo, mas hoje em dia, quase não são, exceto por seus olhos amendoados e os cabelos lisos e ainda escuros, apesar de grisalhos. Sua família era proveniente de Cuba, e por mais que tenha crescido em Paris, sempre buscava praticar e aprender cada vez mais sobre suas origens. Acho uma graça quando o mesmo me chama de "Cariño" e me lembro perfeitamente bem das longas horas que ficávamos conversando, entre chás e mais chás na biblioteca, em espanhol quando era mais nova. Mamãe nunca gostou de espanhol, e acha uma língua diferente e esquisita. Eu sempre a achei interessante e adorava conversar com papai assim. Ele me contava com tanto orgulho suas histórias de quando mais novo ainda em Cuba que só fazia com que o meu desejo por aprender e falar a língua crescesse mais. Com o tempo, acabamos deixando nossas conversas de lado para agradar mamãe. Aprendi o inglês que era o que ela sempre quis para mim e o francês era minha língua materna, então nunca tive problemas com o mesmo. Por mais que tenhamos parado de conversar em espanhol, gosto de saber que isso é algo nosso. Como se compartilhássemos um segredo.

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