Capítulo 14

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Minhas mãos tremiam enquanto revirava o quarto em busca de meus pertences. A pantufa que estava no chão foi esmagada na mala, uma mala que a pouco foi desfeita para ser feita novamente um dia depois. Que desperdício. Meus produtos de limpeza e banho foram colocados de maneira bagunçada na necessaire. Paro por alguns segundos e me olho no espelho. O tom rosado que se estendia por meu nariz e bochechas denota meu choro que está por vir. As lágrimas em meus olhos me lembravam suas palavras...

"Não vou me casar com Lucy e sabe por quê? Porque desde o momento em que vi Lena me apaixonei. Não me casarei com alguém que não amo.".

Mexo minha cabeça em negação e pego minha necessaire, logo a fechando para jogá-la em cima da cama ao lado da mala. Minhas roupas estendidas perfeitamente em cada cabide agora estão amarrotadas, meus sapatos lindamente alinhados foram desarrumados. Fecho a mala com um pouco de esforço, tentando ao máximo não desistir de minhas inusitadas decisões.

Chamei um táxi minutos depois. Sento na cama pensando no que vou falar à Samantha e em como vou me desculpar com Alex. Por Deus, o quanto vou magoar minha sobrinha. Uma ideia surge nas profundezas da minha mente e não posso deixar de atendê-la. Levanto-me e caminho a passos rápidos até a mesa em meu quarto próxima à janela. Busco um papel pelas gavetas até que encontro um bloco de aparência antiga e uma caneta tinteiro preta.

Perfeito, penso comigo mesma. Desato-me a escrever e a botar para fora tudo aquilo que estava me consumindo por dentro. Lágrimas não foram poupadas e algumas até caíram por meio de uma palavra escrita e outra, borrando e criando um caos ainda maior do que planejei.

Me perdoe, digo enquanto beijo aquele papel, dobrando-o em seguida. Verifico o horário no meu celular e percebo que o táxi chegaria a qualquer momento. Levanto e carrego minha mala. O peso daquela bagagem em nada se comparava ao de minhas palavras deixadas naquele pedaço de papel simples que agarrava com tanto afinco. Fecho a porta atrás de mim e percebo um empregado não muito longe do que um dia foi meu quarto.

— Com licença! — falo e ele se vira. Por sorte o conhecia — Joseph!

— Senhorita! Em que posso ajudá-la? — caminha até mim com um sorriso no rosto que logo se desfaz ao perceber minha aparente cara de tristeza.

— Joseph, preciso que faça um favor para mim... — falo incerta e sinto que choraria a qualquer instante.

— Claro, senhorita, qualquer coisa — responde preocupado

— Pode entregar isso à Kara? — dou a carta como se o estivesse entregando um de meus bens mais preciosos, a tremedeira das mãos o fazendo desenvolver certa pena de mim.

— Certamente, senhorita — dá um sorriso fraco. Olha para a mala em minha mão antes de proferir: — Espero vê-la novamente.

— Eu também, Joseph... Eu também — suspiro e o abraço. — Obrigada por ter sido gentil comigo.

— Eu que o digo, senhorita! A sua presença sempre será importante para nós! — sorri e eu o acompanho.

— Foi bom conhecê-lo.

Viro com um pesar e o deixo para trás, começando a andar um pouco mais rápido do que gostaria. Apenas necessito sair daqui. Preciso de um novo ar, um que não esteja viciado com o perfume da pessoa de inicial K.

Descer cada degrau daquela escada me cansou a cada dia que passei aqui, hoje não tinha porque ser diferente. A sensação que tinha era que estava em uma esteira e não importava o quanto corresse, o quanto doesse minha panturrilha, pois não chegaria a lugar algum. Mas tinha algo naquele momento que simplesmente ignorei as dificuldades. As desci de cabeça erguida. Obviamente tomando o maior cuidado do mundo, afinal estava de salto alto. Já bastava o turbilhão na minha cabeça, um osso quebrado só seria um impulso divino para nunca mais voltar.

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