PRÓLOGO

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20 de junho de 2003

Título:

*mudar título*

Post:

Eu sei que ninguém lê esse blog, que não passa de uma sequência caótica de pensamentos que cruzam a minha cabeça. Isso me conforta de certa forma, eu acho, porque esse post é um dos mais pessoais que já escrevi.

Hoje é o dia da festa de despedida do Gerard. Eu deveria estar só feliz porque ele conseguiu a porra da bolsa pra estudar e trabalhar em Tóquio, que ele tanto queria. Mas a real é que to um pouco triste porque eu vou perder o meu melhor amigo.

Se você falar pra mim "mas Frank, ele não vai morrer, ele só vai mudar. E tem e-mail e telefone", eu vou mandar você se foder, okay? Porque é completamente diferente do que ele morar duas quadras pra baixo da minha rua. É completamente diferente mandar uma porra de um e-mail do que aparecer na casa dele pra gente ir na locadora e ficar discutindo com o Sam, o cara que trabalha lá e acha que tem sempre razão. São essas nuances que a gente vai perder.

A vida vai continuar, certo? Ele vai achar um melhor amigo pra ele do outro lado do mundo. Eu vou ter meus outros amigos (acho que o Jim vai ficar mais feliz agora porque sempre teve um pouco de ciúme do Gerard) e... Sei lá. Eu não queria ter que me despedir do Gerard. Mas sabe quando eu sairia de Jersey? Pois é, nunca.

Eu lembro do dia que a gente se conheceu. Eu vi um tumulto no meio do pátio da escola, o Nate e os outros babacas do futebol americano ao redor de uma pessoa, quase batendo. Quando me aproximei, vi o cara que parecia mais um vampiro. Uma cara de pouquíssimos amigos, um uniforme vestido de um jeito que claramente deixaria os padres putos e palavras que desafiavam o cara mais popular da escola. Acho que foi a ousadia que me fez me embrenhar no meio daquelas pessoas e tomar as dores de Gerard - falando uns nomes de uns amigos do meu tio que não eram exatamente pessoas que iam para o céu. Era o primeiro dia de Gerard na escola católica.

"Você é louco?", perguntei para ele. "De provocar o Nate assim?"

"Eu quero é que ele se foda."

A ousadia, certamente, mas também a inteligência dele. E o jeito como ele encarava a vida e como ele tinha sempre alguma solução para qualquer coisa. Às vezes, até para as coisas que não tinham solução.

Quando minha mãe morreu, meu mundo acabou. Eu tinha só 14 anos e uma série de planos, mas fui massacrado pela crueldade da vida. Foi Gerard que veio até o meu quarto, abriu as cortinas, mandou eu tirar o pijama porque íamos dar uma volta. Ele ficou lá comigo durante o primeiro mês. Quando eu não conseguia dormir, Gerard não me deixava sozinho e virava noites jogando Final Fantasy comigo. Quando eu não queria pensar, me enfiava em seu carro e me levava até a locadora pra alugar "A Hora do Pesadelo" pela enésima vez.

Gerard ficou comigo na fila da estreia do primeiro filme do Harry Potter e não reclamou de passar horas em pé para assistir aquele filme que só eu queria tanto. No geral, ele nunca reclamava muito de nada e essa é uma das coisas mais fodas dele. É como se tudo estivesse sempre bom pra ele.

É engraçado pensar que, se eu olhar pra parede aqui de trás desse computador, vou ver os posters que ele me deu. Se eu olhar pro meu quarto, num geral, consigo até ver ele sentado ali na cama enquanto eu termino meu trabalho de geografia (um clássico). Consigo ver ele pegando meu violão pra tocar "parabéns pra você" em uma corda só de um jeito horrível que me faz retorcer de vergonha alheia só pra ele rir. E consigo ver ele tentando solar "Sweet Home Alabama" e não acertando uma nota.

Sei lá, é difícil pensar em algum momento da minha vida sem ele. Tudo vira uma aventura com ele. Tipo no baile de formatura que criamos finalmente coragem para pixar o muro do fundo da escola. Eu comprei as latas de tinta e escondi dentro do meu terno e a Jamia, a garota que eu tinha levado para o baile, me perguntando que porra era aquela e eu tentando desconversar. Daí Gerard saiu de perto da Kate, me encontrou e nós fomos. Ele fez um desenho meu e um dele que parecia mais uma caricatura do que qualquer coisa. Mas até que ficou bonitinho. Eu escrevi algo que não me lembro. Não, pera, acho que era "where do we belong? anywhere but here". É, era isso mesmo.

Achei que a gente fosse perder o contato quando ele passou na School of Visual Arts, em Nova Iorque. Fizemos um drama, ficamos tristes, mas ele ia e voltava todos os dias, então nada mudou. E então eu comecei a Rutgers e vi que não ia conseguir ficar depois do segundo semestre (era insuportável) porque eu queria ser músico. Quer dizer, eu quero ser músico. Ou melhor, eu sou músico.

Eu queria que Gerard estivesse aqui para ver meu show com a Pencey na semana que vem, mas ele já vai ter ido. Foi ele que me ajudou a fazer as camisetas pra vender. O desenho foi dele e passamos duas tardes inteiras na garagem da minha casa fazendo as porras das camisetas uma por uma.

Que merda.

Ele fala que nada vai mudar, assim como não mudou quando ele foi pra Nova Iorque, mas eu sei que vai mudar. E isso me assusta muito.

Eu tava com ele quando ele mandou o e-mail para a vaga e, honestamente, eu achei que fosse um golpe. Algo como "as fotos da festa ficaram ótimas.exe", mas era sério. Era um cara que trabalhava com ele no Cartoon Network que mandou um e-mail falando que estava no Estúdio Ghibli e que havia uma vaga de animador júnior ou aprendiz de animação, sei lá. Eu ajudei ele a escrever o e-mail, fizemos aqui, neste Macintosh azul que eu ganhei do meu pai de Natal. Gerard gosta muito de anime, mas nunca imaginei que fosse o suficiente para levar ele para o outro lado do planeta.

"Ai, Frankie, nada vai mudar". Ele diz que vai ser como quando começou na SVA, mas eu sei que ele fala isso para não me ver sofrer.

Merda, Gerard, o que eu vou fazer sem você aqui? De um tempo para cá, venho pensando na sua ida, na minha vida sem você e... me dói até de escrever. Eu não quero ficar sem você. Eu te amo, eu te amo tanto. Eu acho que te amo mais do que eu deveria. É, eu acho que não só te amo, acho que estou apaixonado por você, mas agora você vai para o outro lado do mundo. E eu to aqui guardando todas as forças do mundo pra falar isso pra você ou para, sei lá, te convencer a ficar ou talvez só te dar um beijo, mas eu não sei se vou conseguir.

Que ódio dessa merda. Eu queria que você fosse um pouco mais burro, sabe? Um pouco menos competente pro seu amigo não lembrar de você e te chamar pra ir pro Japão. Pro Japão, Gerard!

É isso, acho que estou apaixonado pelo meu melhor amigo e eu juro, eu não queria. A real é que, olhando pra trás, acho que eu sempre estive apaixonado pelo meu melhor amigo. Agora eu que me foda, né? Sempre assim. Que merda.

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frnkiero, seu post foi arquivado como rascunho. 

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NA: oie, amores! voltamos com essa fic que vai ser só alegrias, amor e good vibes. espero que gostem e me acompanhem nessa jornada! nos vemos amanhã! 🖤

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