CAPÍTULO 4 - The way we used to do

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Parecia uma ótima ideia, a de Jamia, de invadir a casa de meu pai no meio de uma quarta-feira à noite. Ou foi o que nós três achamos quando ela propôs à mesa de jantar. De algum jeito, antes de sair, ela acabou desistindo e terminei com Gerard em um táxi descendo na frente da casa do meu pai. Como consegui entrar na casa dele sem fazer barulho, não sei porque aquela altura ainda estava tendo um efeito rebote do álcool.

Estava frio e Gerrard não tinha pego o sobretudo dele, notei. Deixamos o sapato na entrada como mandava o código da casa do meu pai, com um Gerard balbuciando como aquilo era nostálgico e subimos para o meu antigo quarto na ponta dos pés.

Cada passo que eu dava, cada degrau que eu subia, era como se voltasse no tempo. Eu indo na frente, Gerard atrás de mim, indo para meu quarto para fazer qualquer merda. Era confortável, era um lugar que eu conhecia e uma posição que eu adorava. Sorri por me sentir em casa.

"Okay, está em algum lugar aqui", eu falei. Não vi Gerard entrar e se maravilhar com meu quarto. Como nos velhos tempos, ele caminhou e se jogou na minha cama, que tinha o mesmo edredom de sempre.

"Nossa, tá igualzinho", ele falou, passando a mão pelos posters que ele mesmo tinha me dado. "Eu lembro quando a gente comprou esse aqui. Foi no mesmo dia da camiseta", ele apontou para o poster do Misfits que eu deixava bem perto da minha cabeça.

Gerard se arrastou para o lado e bateu com a mão ao seu lado, me chamando. Como fazíamos quando éramos mais novos, me deitei ao seu lado. No teto, vi os adesivos de estrelas que tínhamos colados há muitos anos e nunca tive coragem de tirar. Apontei para o teto. "Você lembra?"

"Claro que eu lembro. A gente achava que elas brilhavam no escuro", ele riu.

"Em minha defesa, na embalagem estava escrito que brilhavam mesmo! Algumas caíram, mas eu colei de novo."

"Você destruiu o desenho da constelação de escorpião que eu tinha feito ali, no canto", ele apontou.

"Era uma constelação?"

"Claro, você nunca prestou atenção?", questionou.

Na sequência, Gerard virou seu rosto. Eu podia sentir sua respiração perigosamente perto e aquilo me arrepiava. De certa forma, era totalmente como voltar no tempo. Essa intimidade que dividíamos era o que mais me fazia falta. A sensação de que tínhamos um ao outro e éramos invencíveis.

"Não", confessei. Depois da minha resposta, ele voltou a olhar para as paredes do quarto. Eu podia ver em seu rosto que para ele também era como voltar no tempo. Devia ser confortável para quem vai para outro lugar ter essa experiência de poder voltar e ter tudo igual. De certa forma, nada tinha mudado ali dentro naquele quarto.

"Meu deus, o seu iMac. Só você para ter isso ainda", Gerard falou rindo.

"Ele ainda liga, quer ver?"

"Não acredito!"

Com muito custo, saí do lado de Gerard, com velocidade estonteante. Sentei-me na cadeira desconfortável e apertei o botão, sabendo que aquele item não ia demorar menos de dez minutos para ligar.

"Que fim levou o seu blog?", Gerard se escorou em seus cotovelos e agora estava parcialmente sentado.

"Meu blog? Que blog?"

"Aquele que você postava seus poemas e textos."

Fiquei em choque quando Gerard lembrou do meu falecido blog (nem eu mesmo lembrava daquilo). Eu não sabia se as pessoas liam e muito menos ele. Tinha compartilhado o endereço com ele uma vez, quando mostrei uma letra de música e não sabia que ele ainda pudesse se lembrar do link. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha.

What if? [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora