A derradeira lembrança de Arquia foi do calor de Nefera, dos braços de sua amada que envolvia em uma última esperança de mantê-la consigo. Em algum momento despertou naquele lugar, não estava viva, no entanto não se sentia completamente morta, tinha a sensação de estar boiando, não sabia por quanto tempo se encontrava nesse estado, o controle não lhe pertencia, uma leve correnteza a levava sem rumo, estava coberta pelo manto da escuridão, e mesmo que uma sonolência inexplicável a estivesse tentando dominar, talvez enfim a leva-la para a outra vida, ela escutou vozes, parecia uma discursão, uma delas já conhecida.
- Arquia merece uma segunda chance de viver sua vida! – Alev falava com emoção, algo inédito para a morena – Ela sacrificou-se por uma raça inteira, não, por um mundo!
- Foi uma escolha dela Alev – a voz era etérea, a mais nova conseguia sentir o poder emanando de suas palavras.
- Minha Deusa isso não pode ser chamado de escolha – Alev parou, como se estivesse escolhendo suas próximas palavras a serem ditas – A garota abriu mão de muitas coisas ao longo de sua vida, cresceu escutando que aquelas eram suas únicas escolhas, e depois de tanto sofrimento, enfim ela encontrou alguém que fez sua alma parar de sangrar, só para escutar de mim que não teria isso por muito mais tempo – o Arcanjo respirou fundo, como se não consegue-se manter suas emoções – Isso a despedaçou, e mesmo assim ela não parou, seguiu em frente já sabendo o que a encontrava no fim.
– Não é tão simples como pensa, não como quando ela teve seu o crânio esmagado e você usou parte de si mesmo para mantê-la no mundo terreno. Ela chegou no além-mundo – a voz hesitou – Só há uma forma dela aguentar a jornada de volta para seu antigo corpo sem que sua alma se despedaça.
- Se tiver uma forma temos que tentar! – o ser divino disse de uma folego só.
- Um anjo deve se fundir a alma do humano, e isso é algo que não ponderar se desfeito, a cada reencarnação permaneceram juntos e o status de Arcanjo será perdido, e em consequência ela se tornaria algo inédito para os atuais humanos, e isso poderia acarretar em ódio gratuito – o ser etéreo esperou por um momento – Vocês estariam prontos para isso? – Arquia sabia sua resposta, se isso depende-se apenas dela, por um instante teve esperança de talvez ver a loira novamente, algo se contorceu dentro de si em aflição, parece que faria a passagem para a outra vida.
- É isso? – Alev perguntou, sua voz carregada de seriedade – Se isso é o necessário para que a pessoa que tornou possível o extermínio do mal que caminhava sobre a terra – sua voz saiu como se contivesse uma risada – é uma pequena barganha a se pagar. Aceito! – Arquia sentiu uma pontada de alegria a atingir na mesma hora.
- E você criança? Está pronta para o ódio que pode lhe esperar por ser diferente dos outros, as dores lhe alcançaram e o desespero que lhe pode atingir se voltar para sua antiga vida? Você tem a chance de começar uma nova vida, do zero, um livro em branco – a morena não precisava pensar, antes mesmo de Alev dizer sim sua decisão já havia sido tomada.
- Você pode me garantir que nessa nova vida não haverá dor ou desespero? Que meus pais não me abandonaram? Que não haverá sangue em minhas mãos? Que não terei que sacrificar nada novamente? – a mais nova falou com cada gota de emoção em seu ser, já sabendo a reposta.
- Não, não posso garantir tais coisas – o ser etéreo parecia realmente abatido pelo que tinha acabado de falar.
- No entanto eu posso garantir que mesmo que todos me odeiem, um deles ainda me amará – madeixas loiras brilharam em sua memória – Então minha resposta é sim. Eu aceito voltar para minha antiga vida! – Houve silencio por um tempo que pareceu uma interinidade.
- Então que assim seja! – o ser etéreo disse em derrota.
Luz a cobriu, cegando-a, o calor a envolveu, parecia que alguém havia a abraçado com os braços e as penas, a engolindo com o corpo, Arquia sentiu certa agonia, como se algo a estivesse tentando devorar.
- Não resista criança – a voz de Alev se fez presente – Só estou tentado protege-la para que sua alma chegue intacta em seu corpo – Arquia tentou relaxar, e então começou a se sentir confortável, se deixou mergulhar na sensação já familiar.
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Nefera ainda segurava o corpo de Arquia em seus braços, frio e sem vida, não sabia quando havia chegado ao chão, nem quanto tempo havia se passado, apenas o continuo murmúrio que saia de seus lábios, as lágrimas incessantes.
- Arquia acorde, por favor – sua testa colada com a da morena agora pálida – por favor, meu amor, acorde, por favor – seu coração se recusava a acreditar que as coisas tinham acabado dessa forma, que até mesmo em seu fim o Senhor das Trevas a fazia sentir tanta angústia, levando consigo seu único ser amado.
- Arquia, eu imploro, desperte – uma mão se fez presente em seu ombro, chamando sua atenção, a loira olhou para cima, e lá estaca Joshua, rastros de lágrimas ainda permaneciam em seu rosto de feições duras.
- Ela deve ter seu descaso merecido Nefera – as palavras ditas pelo homem a sua frente pareciam doer tanto nele como doía nela. Franziu o cenho, abaixando a cabeça, seu pranto misturando-se com seus soluços, não queria acreditar, mas ela sabia, aquela garota que abaixava suas defesas apenas com ela, que lhe sorria docemente com a mesma facilidade que cortava seus inimigos, que lhe abraçava querendo protege-la enquanto estava tão indefesa quanto a loira, que sempre lhe beijava como fosse seu último beijo, voraz e faminta. Que lhe amava mutuamente.
- Eu sei – sussurrou em meio ao choro, engasgando-se com suas próprias emoções, sem se preocupar em conte-las. Buscando forças onde sabia que já não tinha.
Lentamente deitou a morena no chão, a falta do peso do corpo da outra era torturante, como se fosse errado. Nefera recuou alguns passos, cada um deles como se pisasse em seu próprio coração. Deu espaço para que o comandante pudesse se aproximar, ele parou ao lado do corpo que um dia pertenceu a uma garota forte e determinada, o homem fechou os olhos com uma ruga no meio da testa, suspirou os abrindo enquanto se inclinava para pega-la em suas mãos, mas então uma luz surgiu do corpo da garota, a cobriu dos pés à cabeça, e cada vez mais aquele brilho se fortalecia, todos recuaram em busca de segurança, menos Nefera. Esperou. Desejando esperançosamente o melhor, juntou as duas mãos sobre o peito, segurando o ar em seus pulmões. Quando enfim a luz se foi, a sua frente respirando estava a imagem de algo que a loira só viu em livros de fantasia da sua época. Feérico. Orelhas pontudas, a mais nova estava mais alta, cabelos em tom azul, quando seus olhos abriram em dourados, um risco preto se encontrava no lugar da pupila, um olhar felino a encarava. Dúvida e curiosidade reinavam nas feições da garota.
- Nefera? – presas surgiram em meio a pergunta.
- Arquia? – a loira questionou soltando todo o ar quem tinha em seus pulmões.
- E quem mais séria?! – ela sorriu com as presas brincando a mostra em sua boca. Estendeu a mão em sua direção – Meu amor?! – uma pergunta, um pedido, uma suplica. A mais velha caiu, seus joelhos no chão, envolveu o rosto da outra com as mãos e a puxou para um beijo urgente soltando apenas quando o ar lhe faltou.
- Nunca mais ouse me deixar! – falou em meio ao choro – Está me ouvido? Nunca mais!!
- Farei o possível para que isso não aconteça novamente – levou sua mão de encontro até a face da outra, fazendo um pequeno carinho com o dedão em sua bochecha – Eu prometo.
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Mito - (Romance Lésbico)
FantasíaArquia é uma caçadora de recompensa em Cinéreo, um dos grandes cinco reinos, ela ver seu mundo mudar depois de lutar com uma fera horripilante e voraz, pois tal criatura se transforma em uma mulher loira, e encantadora chamada Nefera, fazendo a more...