Capítulo 10

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Arquia não sabia o que fazer, a sensação dos lábios da outra nos seus era algo novo. Bom. Seu peito se aquecia, sua mão estava na nunca da loira, enquanto a outra mão desceu até sua cintura a puxando para mais perto. Queria sentir seu corpo, o calor passava de uma para outra. Já tinha beijando antes, mas um beijo nunca a fez sentir tão faminta por mais. Muito mais.

Um estalo, como um galho se quebrando, se fez presente. A morena se afastou da loira a colocando atrás de si mesma, com sua lâmina já em mãos. Foi automático, proteger Nefera do perigo a frente. Os arbustos se mexeram. A morena segurou firme no cabo da espada, pronta para atacar. No entanto o que saiu da mata foi uma pequena raposa vermelha. Balançando o rabo e mexendo as orelhas, olhando em volta com suas orbes verdes, e foi nesse momento que encarou Arquia, mirando-a, como se quisesse dizer algo, mas então o animal piscou se escondendo de novo na densa floresta.

- Era só um animal - falou Nefera - Já pode abaixar a espada - Sentiu o toque da outra em seu braço a fazendo se virar para ela. Arquia olhava para a loira, seu sorriso, sua feição calma. Bela e perfeita. Então outra imagem surgiu na sua mente. A outra deitada em um lago vermelho. Seu próprio sangue. E perto dela Augustos, segurando uma lamina, olhando, com sua feição dura, recriminando-a.

"Sentimentos devem ser eliminados. E os causadores deles também. Você sabe disso. Não é?!" - Aquela frase ecoou com a voz de seu mestre. Como se tomasse conta de sua mente.

Escutou a voz de Nefera a chamando. Longe. Foi quando percebeu que a loira ainda estava ali. Que o beijo realmente aconteceu. Arquia soltou o ar que estava segurando e pela primeira vez percebeu que seu coração estava batendo acelerado. A muito tempo não sentia isso. O primeiro sentimento que aprendeu a eliminar. Medo. Medo não por si, mas pela outra. Pela segurança da mulher a sua frente.

- Arquia? - a loira a pareceu diante de seus olhos. Preocupada. - Você está bem? - a mão de Nefera se aproximou de seu rosto, os dedos dela roçaram sua face, e por instinto a outra recuou do toque. Dando um passo para trás. Se afastando da loira, de seu calor confortável, seu corpo já sentia falta, reclamando da ausência.

- Não faça isso novamente! - arfava. Piscou várias vezes, tentando se recompor. Colocou a espada em seu devido lugar nas costas. E respirou fundo. Tinha que voltar ao seu normal. Se aparecesse alterada, ele notaria. Seu mestre perceberia que algo estava errado.

- Como assim?! - a outra parecia confusa. Franziu o cenho. Seus poços de água cristalinas brilhavam com a luz da lua - o que não posso fazer? - Indagou se aproximando.

- Me beijar! - falou um pouco alterada. Abaixando a cabeça - Não sei o que estava pensando mais não pode mais acontecer. Esses sentimentos que sinto quando estou com você. Não posso senti-los - Não mais. Pensou consigo mesma - Isso... Isso é errado! - Levantou a cabeça para dá ênfase no que estava dizendo.

Foi muito rápido. As duas mãos estavam em seu rosto. Embora a outra já estive a centímetros de distância. A beijando, sem dá tempo para pensar. O mesmo calor, o mesmo sentimento, estava tudo ali de volta, de novo.

- Me diga que é só eu que sinto isso - a loira cortou o beijo, agora encarava os lábios da morena, com os braços em volta do seu pescoço, a prendendo junto ao seu corpo. Desceu uma das mãos até o peito da outra - Só eu sinto esse calor pelo corpo, o coração acelerar, só eu me sinto bem perto de você, só eu quero mais beijos?! - olhava em seus olhos, querendo respostas.

Arquia sentia tudo o que a loira estava dizendo e ia muito além. E era esse o problema. Sentimento como esse, que a muito tempo lhe foram proibidos. A mulher a sua frente lhe atraia, não podia negar essa verdade a si mesma. No entanto não devia dizer em voz alta. Se seu mestre descobrisse. Fleches de uma lembrança surgiram. Muito sangue. Um corpo. Um órfão e como ela se tornaria um discípulo de Augustos. E um amigo. Arfou. Um cadáver. A lembrança do que teve que fazer para sobreviver. Muitas crianças, mas apenas uma se levantaria sobre elas.

Se desvincilhou de Nefera, afastando-se dela, dando-lhe as costas, sem hesitar, não falou, só queria o máximo de distância possível da outra, de tudo aquilo que estava acontecendo naquele momento.

- Espere! - a loira segurava seu braço a impedindo de avançar.

Arquia se afastou bruscamente de seu toque. Lembrando de quem era. E o que aquilo significava. O cordão em forma de terço em volta do seu pescoço, com um pingente de uma cruz. Sua colera. Apertou os olhos segurando a cruz entre as mãos. Queria arranca-lo, era como se lhe apertasse, sufocando. Usou cada gota de compostura que tinha e todo o treinamento que recebeu. Abriu seus olhos e disse aquilo que era esperado do tipo de ser que ela se tornou. Do tipo de pessoa que foi criada por um mostro. E também se tronou um.

- Eu sou Arquia de Sangue, discípula de Augustos, leal a igreja. E nada do que diga irá mudar isso! - Tudo foi dito de um folego só. Seu rosto era uma máscara de frieza, mas cada palavra doeu como se tivesse levado facadas em seu peito. A feição de surpresa da outra dizia que ela não esperava isso. Arquia se virou dando as costas, fazendo sua capa rodopiar no ar.

Deixando Nefera para trás.

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O Senhor das Trevas olhava em volta do que foi seu berço por séculos e sua prisão. Dos seus noves Generais, só haviam sete ali. Faltavam dois. Os mais propícios a problemas. Os que já tinham chegado estavam ajoelhados. Ansiosos. O que não era de se estranhar. A cada dia chegava mais crools para se juntarem as forças no pé da montanha, e cada vez mais os humanos se aproximavam, ganhado terreno. Eles queriam ir a campo, e colocar em pratica o propósito de suas vidas. Fazer aquilo pelo qual foram feitos. Causar o caos.

Um barulho foi ouvido do lado de fora. Passos vinham entrado no recinto. Um crool de armadura se dirigia abrindo espaço entre todos. O Senhor das Trevas levantou uma das mãos para que a criatura parasse. E lhe dissesse o que estava acontecendo.

- Diga o que houve! - Sua voz ressoava com tom de ordem. Franziu o cenho.

- Meu Senhor! - sua voz era grave e arranhada como se tivesse acabado de aprender a falar - Nossos batedores avistaram os dois últimos Generais! - Arfava. Como se estivesse correndo o caminho todo até ali.

- E onde se encontram que ainda não estão aqui? - Perguntou o encarando com certo interesse. Seus olhos brilhavam.

- Próximos ao acampamento dos humanos - o crool falou com a cabeça baixa, esperando a reação de seu lorde.

O Senhor das Trevas sorriu. Como se saboreasse cada palavra. Os humanos veriam um pouco do verdadeiro terror. Pensou o ser mais perverso que caminhou pela terra consigo mesmo.

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