Capítulo 1

2.5K 148 15
                                    

Arquia tinha um olhar frio, seu rosto não demonstrava nenhum sentimento, cada movimento seu era calculado. A noite já tinha caído, e mesmo estando um breu a morena tinha uma boa visão de onde estava. Prestava atenção. Escutava cada folha que caia das arvores ao seu lado toda vez que o vento passava por elas, os arbustos que se mexiam pelos animais que andavam pela área, estava ciente de tudo a sua volta. Encostada em um arbusto respirou fundo e posicionou o arco, colocou uma flecha e mirou. A sua frente tinha uma clareira onde se encontrava um homem enorme, seus braços tinham vários gomos como se fossem tumores, as veias ficavam a amostra, tinha vestes de peles de animais, ao seu lado um enorme machado, parecia pesar muito, com toda certeza um único golpe seria fatal. Ele estava de costas para ela, sentado em uma pedra comendo um pedaço de carne do tigre selvagem que tinha acabado de assar na fogueira a sua frente.

Respirou fundo. Puxou a flecha sem pressa, e por um momento tudo ficou devagar. Parecia que o roçar da flecha em seu rosto poderia ser escutado. Em uma agilidade surpreendente soltou-a, voou cortando o ar, dançando em meio a escuridão, até atingir o alvo. Atravessou a sua nuca, ele caiu no chão de costas, quebrando a parte que tinha as penas na flecha, fazendo sua agonia ficar ainda maior. Ela saiu dos arbustos e chegou perto, a expressão do homem era de completa agonia enquanto se afogava em seu próprio sangue, observou por um tempo o sofrimento dele, pensou quantos já não teria sofrido daquela forma na frente dele e pedido por misericórdia e ele negou, abusando de sua vítima, roubando-a e depois matando, nem sempre nessa ordem. Ele já tinha feito muita coisa nessa vida e essa é a consequência. Percebendo que ele ainda respirava, tirou uma flecha da aljava nas costas a colocando no arco, apontou para testa do sujeito, então soltou, aquilo era um ato de misericórdia, mesmo achando que ele não o merecia. Os grunhidos pararam e o único barulho que ficou foi do vento nas arvores, mas ela ainda o observava. Seus olhos agora estavam vazios, no entanto sua expressão era de agonia e ficou imaginando "Será se morrerei de tal forma?", mas então disse a si mesma "Não, Minha morte com toda certeza será pior, bem pior."

>>><<<

Caminhava pelas ruas da cidade como uma sombra. Usava um casaco preto que ia até seus pés, arrastando no chão, tinha um capuz que estava cobrindo todo a sua cabeça, fazendo uma sombra parcial sobre seu rosto. Quem a olhasse só poderia ver sua boca. Já estava amanhecendo quando parou na frente de um edifício que tinha dois andares, era um ponto de troca. Feroignia, esse era o nome do lugar. Tinha um desse em todas as cidades do reino de Cinéreo, depois de pagar a taxa de inscrição para eles e preencher alguns dos seus requisitos, pode pegar missões em qualquer um dos seus pontos. Claro se concluir a missão recebe a recompensa e paga uma pequena taxa para estabelecimento, mas eles já descontam antes de lhe entregar.

Algo fez barulho lá dentro, então a porta se abriu e um rapaz saiu bocejando. Ele parou. A olhou um pouco confuso então reparou que com sua mão esquerda ela segurava um saco com algo dentro, seus olhos arregalaram quando viu as manchas vermelha e o rastro de sangue que deixou na rua.

– Vivo ou morto, certo? – sua voz saiu roca, em um tom frio.

Apontou para o cartaz em um mural do lado de dentro do estabelecimento, onde havia muitos outros e todos os tipos de missão, para o mais corajoso ao mais tolo dos aventureiros. O rapaz olhou na direção apontada, no cartaz havia o rosto de um homem. Aparentava ter uns trinta anos, cabelos aparados, tinha um sorriso sanguinário nos lábios, quase dava para ver a sua sede de sangue. O rapaz ficou um pouco confuso então pareceu entender.

– E-E-Espere um pouco... v-v-vou chamar o gerente! - correu para dentro de novo, era possível escutar eles conversando.

– Está falando sério?! – cada vez suas vozes ficavam mais próximas, então um homem já de idade usando calça e uma sobretudo de seda apareceu na entrada junto do mais novo – Meu subordinado está dizendo que você pegou o "Lenhador"?! – ganhou o apelido por matar suas vítimas com o machado, depois de fazer o que quisesse com elas.

Mito - (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora