S01E04

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Chloe onn*

  Como em quase todos os dias da minha vida, acordo graças ao som alto das aulas de pilates que minha mãe assiste pela televisão da sala, que por coincidência fica exatamente dois andares abaixo do meu quarto. Aquela droga parece penetrar e vibrar pelas paredes até vir de encontro ao meu corpo na cama.

  "Uhhhhhh! Que merda!" - Penso com ódio, enquanto me levanto e boto minhas pantufas rosas e macias.

  Nervosa, caminho até a porta como se fosse um vulcão em erupção ambulante, com o objetivo de descer as escadas e chegar até a minha mãe, que provavelmente está suando feito uma porca em cima do carpete branco.

Chloe: Ei! - Grito, mas ela parece distraida e mergulhada demais naquela barulheira toda. - ABAIXA ESSA COISA!

  Com um suspiro exausto, a mesma agarra o controle da televisão e diminui o volume no quinze, se virando para mim e me encarando com uma cara suada e com claro incômodo.

Chloe: Você me acordou, de novo. - Cruzo os braços.

Margareth: Ótimo, saiba que tem muita louça para lavar na cozinha. - Responde e também cruza os braços, como se estivesse me enfrentando de alguma maneira.

Chloe: Eu não vou fazer nada, preciso me arrumar e ir para a escola. - Me viro e saio andando, até ser verbalmente impedida pelas clássicas ameaças dela.

Margareth: Nesse caso, levando em consideração sua inutilidade e reclamações escolares, está de castigo de mesada.

Chloe: O QUE? VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COMIGO!

  Eu grito, esbravejo como um verdadeiro dragão irado, mas graças à aula de pilates que novamente está no nível de volume capaz de explodir tímpanos, aquela víbora parece não me ouvir ou, simplesmente, me ignorar com firmeza.
  Saio daquele cômodo ainda mais nervosa, sem saber o que vai ser de mim sem receber a grana semanal que minha mãe me dá, aquela que é minha por direito, já que após o infarte do meu pai o dinheiro não é só dela.
  Vaca ordinária, sinceramente, espero que seus tendões explodam durante os exercícios.

Zara onn*

  Enquanto ando a caminho da escola, aproveito o tempo livre e sossegado para entregar alguns currículos online, já que preciso muito de um emprego para finalmente sair da casa dos meus pais e ir para outro lugar que não seja uma prisão em miniatura. Só não sei quando terei alguma resposta, ou se terei.
  Acredito já ter enviado uns trinta e-mails diferentes só nessa manhã, e uns quinze mais ou menos na madrugada de hoje. A esperança é a última que deve morrer aqui, até por que se nada melhorar, eu acabarei sendo a primeira.
  Lembra que disse agora pouco que o ambiente estava calmo e tudo mais? Bom, acho que isso não vai ficar assim, já que comecei a ouvir o chamado de Darius vindo de umas duas quadras de distância para trás de mim.
  Droga, é impossível sair de casa e ir até o colégio sem que ele perceba.

Darius: Tá mesmo tentando correr do melhor jogador, maninha? - Diz com sarcasmo ao me alcançar.

Zara: Talvez eu devesse aprender a andar mais rápido. - Digo em tom de deboche.

Darius: Zara... - Entra na minha frente, fazendo com que eu pare diante dele.

Zara: O que foi, Darius? - Respiro fundo, pois sei que quando meu irmão faz suspense, é sinal de que altos dramas estão por vir.

Darius: Não sinto que somos mais tão próximos como antes. Foi algo que eu fiz? Por que, se for esse o caso, me desculpa?

  Não esperava, de jeito nenhum, um pedido de desculpas vindo dele. Sinto que em relação a toda a diferença que sofri dentro da minha própria casa, Darius notava e no fundo sabia que aquilo era errado, mas nunca fez nada a respeito.
  Ele sentir que a culpa do nosso distanciamento é, em partes, dele, já faz eu me sentir muito mais em paz.  E como um gesto repentino e genuíno, por conta também da falta de palavras que tenho para responde-lo, simplesmente o envolvo em um forte abraço.

LOS TRESOnde histórias criam vida. Descubra agora