LOS TRES

S01E06

Darius onn*

  Nascendo da escuridão, do mais absoluto nada, aonde a realidade simplesmente não existe, separo minhas pálpebras aos poucos, com muito esforço, deixando meus olhos expostos para a forte luz branca que irradia por todos os lados.
  Pisco algumas vezes, sinto fragmentos de minha consciência se juntando uns aos outros, formando lembranças e sensações das quais gostaria de esquecer para todo o sempre.
  Observo em volta, vejo que estou em algum tipo de quarto com paredes brancas, cheias de quinquilharias médicas e dois armários cinzas, havendo uma única porta, distante e inacessível graças às amarras que se encontram em torno dos meus pés e pulsos, prendendo-me naquela maca que tem cheiro de doença.
  Cerro os punhos e percebo que não sinto muitas das minhas partes, principalmente uma perna, a direita para ser mais exato.
  Ouço uma voz distante e meio abafada dizendo algo, talvez chamando os três médicos que rapidamente entram como fantasmas de branco naquela sala.

Darius: O que foi... - Tento levantar o pescoço, mas um deles me impede de fazer demasiado esforço, explicando que preciso repousar devido a queda proposital que ocorreu na escadaria do colégio.

  Ouço com atenção uma moça de jaleco branco explicar que minha perna, exatamente aquela que não sinto, está sobre efeito de uma anestesia pesada, pois se encontra com vários ossos gravemente faturados que, por milagre ou acaso, vão se recuperar lentamente sem fazer necessário o uso de pinos.
  Algumas outras partes do meu corpo, como as mãos, clavícula e tornozelo também sofreram sérias torções, que foram examinadas com o máximo de cautela possível.
  O pior de tudo talvez tenho sido uma veia arterial que passa próxima da virilha, a mesma que durante o impacto acabou com um rasgo próximo que quase atingiu a corrente potente de puro sangue vital.
  Escuto tudo aquilo como se fosse um plano de fundo, algum tipo de som ambiente, afinal meu pensamento volta em um flashback para o exato momento em que me jogo escada à baixo, em completo desespero e agonia.
  Pelo menos aquela crise de ansiedade terrível finalmente passou, não só ela mas todas as outras coisas deixaram de existir para mim por alguns incalculáveis momentos, vivenciados através da minha experiência de quase morte.
  Agora com os sentidos já parcialmente despertos, vejo meus pais vindo correndo ao meu encontro, chorando e soluçando de alegria ao perceberem que estou acordado.

Mirian: Querido, nós ficamos desesperados quando soubemos do acidente! - Exclama aos prantos.

Caul: Seguimos a ambulância como loucos até esse hospital, eles disseram que a coisa era grave e que fariam o melhor que pudessem. - Completa a sessão de preocupação fraternal, envolvendo o ombro de minha mãe com o braço.

Darius: Está tudo bem agora, eu só pisei em falso... - A médica que estava na sala preenchendo uma prancheta interrompe sua tarefa e olha para mim, com certeza tentando entender o que acabei de dizer. - Eu não sei, pode ter sido por distração minha.

Mirian: Podemos te colocar em um colégio que não possua escadas ou...

Darius: Mãe, eu já disse, estou bem... - Sorrio de canto, para tentar convencer.

Caul: Só estamos preocupados contigo, campeão. - Coloca a palma de sua mão em meu peito ralado.

Zara: Oh, você acordou! Eu fiquei tão preocupada! - Minha irmã aparece de repente na sala de recuperação, jogando a mochila, que por alguma razão estava carregando, em cima de uma poltrona enquanto caminhava até mim.

Darius: Não pensou que eu te daria paz, pensou? - Sussurro em tom mega irônico.

Zara: Não, não pensei. - Vejo uma lágrima sair de seu olho e escorrer entre a covinha que se forma na bochecha dela, por conta do seu sorriso largo.

Mirian: Vamos esperar lá fora, para não exceder o número de visitantes por sala. - Avisa doce e convenientemente, o sentimento oposto que é transmitido pela cara do meu pai, que sai do local com os punhos cerrados.