Outono, renascimento de Antônio

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       Já é meio-dia e o que você já fez Antônio? Seu primo já está terminando a faculdade enquanto você ainda nem começou. Levanta dessa cama Antônio, vá fazer algo que preste, ninguém vai te dar o pão na boca, você tem que buscar e o tempo está passando Antônio! Faça isso, faça aquilo, não viva isso! Não é assim, acredite, eu sei o que é melhor para você, eu sei o que é melhor. No entanto, não conquistei e nem vivi metade dos sonhos que tinha para mim.

       Meu caro amigo, Antônio! Por onde tem andado? O que tem feito e estudado? Não tenho visto notícias, não postou nada em suas redes sociais, se afastou repentinamente e nem jogar quis mais. O que tem feito, Antônio?

       Aqui e acolá cobram de Antônio o que ele nem sabe responder, não quer responder. Sente-se claustrofóbico mesmo estando em lugares públicos largos, as pessoas o prendem enquanto ele quer observar o mundo, por outros olhos e sem cobranças, algo saudável que traga mudanças. Papéis tem cortado mais do que uma faca afiada, as palavras o sufocado mais do que uma corda apertada, o veneno tem entrado, mas não foi pela picada de uma cobra.

      Antônio caro Antônio, é um preço caro a se pagar se você se importar com tudo que vão te dizer. O sufoco o separa do ar, a pressão pesa de tal maneira, que fica difícil caminhar, a tontura entorpece sua mente de maneira que é difícil enxergar, Antônio decide parar. Enquanto pensava passaram-se horas, dias, semanas e alguns meses.

      O outono chegou, trazendo consigo suas folhas de tons alaranjados, sua paleta de cores amarronzadas, as árvores passam a se despir delicadamente, pois sabem que precisam realizar o processo. Assim como as árvores, Antônio percebe que precisa se despir, deixar para trás cargas que não lhe pertencem, não agregam em sua vida e tampouco produzem crescimento. Um processo lento e gradativo, é difícil se despir do que você acreditava ser sua proteção, sua solução. O inverno ainda chegará, não é da noite para o dia que as coisas vão melhorar, Antônio sabe disso, ele compreendeu o processo, aprendeu com e sobre suas limitações, está vivendo com elas se preparando para o dia em que irá florescer, brilhar sentindo a brisa fresca sem se importar se está sendo elogiado ou insultado.

      Não é porque as folhas e flores murcham que não há mais vida, nessas horas as raízes e os troncos mostram sua beleza, sua resistência e persistência. A estrutura e a base que Antônio construiu vão guiá-lo, todavia, essas bases precisam ser construídas por Antônio, somente por Antônio, pois sua vida e seu futuro pertencem somente a ele. Ana Flávia não viverá por Antônio, nem Guilherme, nem Rafaela, mas Antônio viverá por si mesmo.

     Então cresça Antônio, se edifique com o que te faz sentir vivo, se alimente com o que supre suas necessidades, a vida é dura e muitos invernos virão. Durante dias nublados nem sempre você verá o sol, mas pode sempre ter certeza que ele está lá, o calor chegará até você Antônio. Você vive, renasce e se transforma, não é preso a uma única versão de si, existem muitas opções para se viver por aí, apenas se cuide Antônio, para que então você viva intensamente, sem medo do futuro eminente.

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