Capitulo 02

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Alguma coisa me perturbava. Eu sabia que devia acordar logo. Um alerta de

perigo soava em minha mente. Mas eu me sentia confuso e desorientado. O

que estava acontecendo? Mexi-me, sentindo-me deitado em um colchão macio,

com lençóis perfumados.

Abri os olhos pesados, lutando contra a dormência. Parecia que eu tinha

dormido por horas. Sentia frio. O ar condicionado estava ligado e minha roupa

parecia gelada contra a pele.

Fixei o olhar na parede branca. Havia penumbra, mas luz o suficiente para

perceber o quadro pintado por uma criança. Meu quadro. Eu o pintara aos sete

anos, acho. Com minha avó.

Franzi o cenho, confuso. Aquele quarto. A casa dos meus avós. De repente,

lembrei-me de tudo e o pavor me engolfou. Assustado, tentei me levantar

rapidamente. Sentei-

-me na cama de supetão e quase perdi o ar quando algo repuxou o meu

pescoço e ouvi barulho de metal. Algo rodeava meu pescoço.

Respirei irregularmente, sentindo o coração acelerado de medo. Levei as mãos

ao pescoço. Uma argola de metal o rodeava. Uma corrente saía dela e prendia-

se no ferro do espaldar da cama. Empalideci. Eu estava presi.

- Uma coleira. - A voz grossa e masculina, aveludada do jeito que eu lembrava,

veio de um canto perto da janela. - É assim que se impede um cão de fugir.

Prendi o ar, olhando naquela direção.

As cortinas estavam fechadas e havia uma poltrona perto da janela. Pude ver o

vulto dele ali, sentado de pernas cruzadas, quase engolido pelas sombras.

Porém sua presença era muito real.

Minha pele se arrepiou toda. Fiquei imóvel, mal ousando respirar. Eu sentia o

olhar dele penetrando em mim. Lembrei-me do modo que eu reagira a ele pela

primeira vez, fora de mim, trêmulo, fascinado. Aquilo nunca acontecera de

novo. Agora se repetia.

Permeado e aumentado pelo meu medo.

Tentei pensar. Eu precisava manter a calma. Precisava ser inteligente. Mas era

difícil. Ele esperara por seis anos para se vingar. Não esquecera. Fora rápido. O

ódio dele poderia ter aumentado todo aquele tempo? Como eu poderia ter

calma estando preso, acorrentado, à mercê dele? O que eu poderia esperar

além de sofrimento, vingança, estupro e talvez até morte?

Arfei, soltando o ar dos pulmões. Tremia tanto que devia ser visível. Mantive o

olhar fixo na direção dele, embora tivesse vontade de deitar, me encolher e

chorar. Minhas narinas ardiam. Meus pensamentos se embaralhavam. Foi

então que pensei no meu primo. A preocupação com ele me deu forças para

murmurar:

- O que você fez... com Jin?

- Essa é uma pergunta confusa. - Vi-o descruzar as pernas e se levantar.

COLEIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora