capítulo 15

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Três dias depois fiz uma entrevista de emprego em uma grande empresa de
turismo no Catete, para uma vaga de recepcionista. Como eu falava inglês
fluentemente e um pouco de espanhol, minha entrevista correu muito bem e a
mulher dos recursos humanos me garantiu que logo entraria em contato
comigo.
Saí de lá todo feliz, pensando em pegar o celular e ligar para Jungkook. Mas tive
medo de incomodá-lo no trabalho ou em alguma reunião. Mais tarde eu falaria
com ele. Era quase hora do almoço e estava faminto. Entrei em um pequeno e
aconchegante restaurante ali perto da empresa de turismo e me acomodei em
uma mesa, perto da janela. Um garçom veio e me entregou o cardápio.
Sorrindo, agradeci e o abri, pensando que se Jeon estivesse ali minha
felicidade estaria completa.
– Olá. Posso falar com você?
Ergui os olhos para a mulher que se dirigia a mim e estava parada à minha
frente. Era a mulher mais linda que já vi na vida. Era impossível não notar de
imediato sua beleza, pois era realmente impressionante.
Ela devia ter entre quarenta e cinquenta anos, mas sua pele bronzeada era
lisa, macia, perfeita. Alta e esguia, usava um vestido extremamente elegante,
azul-marinho, reto até os joelhos, com um fino cinto vermelho marcando sua
cintura. Seus cabelos eram de um preto retinto, lisos e presos na nuca,
expondo seus traços finos, a estrutura óssea de seu rosto perfeita. Os olhos
eram grandes, negros e amendoados. Era mesmo muito bonita. Senti-me
estranhamente abalado por seu olhar profundo, que parecia perfurar o meu.
Por fim consegui indagar:
– Quer falar comigo?
– Sim. Desculpe incomodá-lo, mas é importante. – sua voz era rouca e macia.
– Nós nos conhecemos?
– Não. – Ela me estendeu a mão esguia, onde apenas um anel de brilhantes se
destacava –  Jeon L. Miná.
Fiquei imóvel por um momento, quando ouvi o sobrenome. Seus cabelos
negros, sua beleza espetacular, o formato do nariz afilado se tornaram
extremamente familiares, como os de Jungkook. Era a mãe dele.
– Jeon Lee- Miná . – Falei, ainda surpreso, apertando a mão dela.
Lembrei que Jungkook não a deixou entrar em sua casa e do modo que ele ficou
depois, totalmente descontrolado. Senti que não devia falar com ela, que
deveria ser leal a ele mesmo sem saber qual era o problema entre os dois.
Entretanto não sabia ao certo como agir.
– Como a senhora me conhece?
– Vi você saindo da casa do meu filho e o segui. Preciso conversar com você.
– A senhora me desculpe, mas prefiro não me envolver entre...
– Por favor, Jimin. É só um minuto. Por favor. – A vulnerabilidade em sua voz
e o desespero em seu olhar me amoleceram. Indeciso, fiquei sem saber como
agir, mas ela insistiu. – Por favor. Serei breve.
– Sente-se.
– Obrigada.
Lee  Miná sentou-se com elegância. Era extremamente feminina e
naturalmente charmosa. Pude ver de quem Jeon puxara seu encanto.
Naquele momento o garçom se aproximou - perguntando se queríamos alguma
coisa e Miná falou:
– Vinho. Você me acompanha em uma taça, Jimin?
– Sim.
Deixei que ela escolhesse, sem conseguir tirar os olhos dela. Estava muito
curioso, porém ao mesmo tempo incomodado, pensando o que Jeon diria de
tudo aquilo. Quando o garçom se afastou, ela fixou seus olhos em mim e
percebi que eram realmente negros, não castanho-escuro como da maioria das
pessoas.
– Eu sempre tento falar com meu filho, mas ele não me recebe. Às vezes fico em
meu carro, fora da casa dele só para vê-lo passar e matar a saudade. Vi você
algumas vezes e hoje criei coragem para vir conversar com você.
A tristeza que emanava dela me comoveu.
Mas me mantive em silêncio.
– Percebi que você era especial, pois nunca o vi morar com alguém. E ele
parece feliz. Antes de tudo, tenho que agradecer a você por isso.
– Senhora...
– Por favor, me chame de Miná.
– Miná, eu acho que não é uma boa ideia conversarmos. Não sei bem o que
aconteceu, mas...
– Jungkook não tem culpa de nada. Eu sou a errada e o magoei. Mas me
arrependi. Tudo que peço é um meio de chegar a ele e pedir perdão. É meu
filho único, Jimin. Não temos mais parentes, somente um ao outro. Não
aguento mais viver com o desprezo dele.
– Será que se insistir, se continuar falando com ele...
– Como? Ele nem olha para mim!
Recostei-me na cadeira, sem saber o que dizer. O garçom veio com as duas
taças de vinho, nos entregou e se afastou com uma leve mesura.
– Algumas coisas que fiz são imperdoáveis. Não posso contar tudo, pois não sei
se Jeon gostaria e não quero irritá-lo ainda mais. Aceito toda a culpa. Só
preciso de uma oportunidade para pedir perdão. Por favor, Jimin, me ajude!
Ela se inclinou para frente e segurou minha mão, seu olhar suplicante me
fazendo vacilar.
– Como eu posso ajudá-la?
– Converse com ele. Peça para ele me ouvir nem que seja só por um minuto. É
tudo que preciso!
Fitei sua mão bonita, bem tratada, segurando a minha. Notei pequenas
manchas na pele, da idade. Por mais que ela fosse linda e parecesse mais nova,
aquelas manchas demonstravam que a idade passava para ela. O tempo
também passava. Será que Jeon se arrependeria um dia, por não tê-la
escutado?
– Miná, meu relacionamento com ele é recente. Somente agora está deixando
de ser conturbado, mesmo assim ele não me conta coisas particulares nem fala
da senhora. Não tenho o poder de fazê-lo mudar de ideia.
– Você tem, Park . Você é diferente dos outros, ele gosta de você. Ou não
estaria com você todo esse tempo, dividindo o mesmo teto. Pelo menos tente.
Converse com ele.
– Olha, não posso prometer nada. Mas vou tentar.
– Obrigada. – Aliviada, Miná soltou minha mão e se recostou na cadeira.
Tomou um gole do seu vinho e sorriu para mim. – Não sei como posso
agradecer.
– Acho que não vai adiantar muito. De qualquer forma, se a senhora quer
mesmo falar com ele, não desista. É a única mãe que ele tem. Em algum
momento vai ouvi-la.
– É o que mais quero. Sabe, eu temo morrer sem o perdão dele.
– Há quanto tempo estão sem se falar?
– Muito tempo. No início, eu insisti muito. Até que o afastei mais. Deixei o
tempo passar, para ver se a raiva dele abrandava, mas não adiantou. Porém
nunca desisti. É que ele tem um gênio muito forte. Não perdoa nunca!
Também tomei um gole do meu vinho, pensando que ele havia me perdoado.
Eu não estava mais em uma coleira, sendo prisioneiro dele. Eu dormia em sua
cama, comia em sua mesa, era  para mim  que ele voltava no final do dia.
Ele me ofereceu emprego e a mansão dos meus avós. Eu podia afirmar
categoricamente que Jungkook perdoava sim, mas não ousei expressar minha
opinião. Não sabia até que ponto o problema entre eles era sério, porém devia
ser, ou ele não desprezaria a mãe daquele jeito.
– A senhora quer almoçar comigo?
– Não posso. Já tomei muito do seu tempo, obrigada por me ouvir e
por intervir a meu favor. Serei eternamente grata.
– Não precisa. Vou tentar, não garanto nada.
– Já é mais do que mereço. – Ela fez menção de pegar dinheiro na bolsa para
pagar o vinho.
– Por favor, deixe comigo.
– Obrigada, querido. – Ela sorriu serenamente e se levantou. Estendeu-me a
mão e eu a apertei. – Espero que você seja muito feliz.
– Obrigado. A senhora também.
Ela acenou graciosamente com a cabeça, ajeitou a bolsa no ombro e se afastou
em um andar elegante, meio sensual. Pensei que ela não falou que queria que
eu fosse feliz com Jeon, somente feliz. Mas logo afastei aquele pensamento,
preocupado em como contaria tudo aquilo para ele.

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