Entregue a Você (Livro 1)

8

Coloquei a minha roupa de ginástica da Dior, saí do meu quarto e desci para o saguão. Ir para o bairro onde a Kamily mora, com um dos carros do meu pai, não seria uma boa ideia. Só por eu estar indo em um bairro violento, com um conjunto de ginástica que é quase o preço de um apartamento, eu já estou correndo perigo.

Comecei a correr pelas calçadas de Frédéric Albert, a cidade é bem tranquila nas zonas nobres, mas os bairros mais pobres são conhecidos por serem muito violentos, por isso eu contratei a equipe de segurança que fica sempre sob aviso.

Três homens começaram a correr atrás de mim e duas mulheres na minha frente, como eu sabia quem eles eram, não me preocupei. Quando entrei no bairro onde Kamily morava, consegui distinguir as diferenças entre os bairros, ruas malcuidadas, lixos espalhados pela calçada, cheiro de maconha, pichações nas paredes e carros abandonados.

— Senhor, por favor fique alerta.

O segurança passou por mim em uma corrida lenta. Apenas confirmei com a cabeça e continuei correndo, as mulheres na minha frente olham discretamente para todos os lados.

Parei em frente à pequena casa, os meus seguranças cada um  parou em um lugar que tinha a visão à porta da casa. Bati na porta e Kamily abriu, ela está vestindo um baby-doll de seda, o que me fez pensar se ela estava com alguém. O ar saiu dos meus pulmões, dificultando a minha respiração e minhas mãos começaram a suar.

— Luka? O que faz aqui?

— Preciso falar com você, eu posso entrar?

— Entra, você com essa roupa da Dior vai ser roubado a qualquer hora.

— Tenho seguranças para isso. — ela olhou para os lados — Eles estão disfarçados.

Entrei na pequena casa. Para uma garota de programa, ela não se importa com a aparência da casa e nem com o tamanho ou luxo. Me sentei no sofá para duas pessoas e ela me entregou um copo de água.

— Deve estar com sede, pelo tanto que está suado.

— Quando você foi lá para casa eu fiquei mais suado. — bebi um gole grande d'água — Vim aqui fazer um acordo com você.

— Que tipo de acordo?

— Eu sei que você não gosta de ser garota de programa.

— Você não sabe de nada.

— Uma garota de dezoito anos deveria estar focada nos estudos.

— Eu não vou perguntar como você sabe a minha idade, porque você tem dinheiro e pode conseguir tudo.

— Parece que alguém não prestou atenção nas coisas que eu falei ontem à noite. — me levantei e fiquei de frente para ela — Só escute o que eu tenho para falar com você, se não quiser aceitar é escolha sua.

— Eu vou escutar, mas não garanto que aceitarei.

— Ok. Pelo seu comportamento na minha cobertura eu percebi que você não gosta do que faz. Então eu quero te propor em namoro. — ela abriu a boca para argumentar, mas eu encostei o meu indicador em seus lábios — Só escute, nós não vamos namorar de verdade, você só irá aparecer em eventos sociais e em algumas fotos para a imprensa e como pagamento eu vou pagar os seus estudos e te dar uma quantia de três mil reais por mês. O que me diz?

— Quer dizer, se eu aceitar, eu irei ser a sua namorada troféu?

— Sim e não. Nós podemos chegar a um acordo bem prazeroso para nós dois — fiquei a poucos centímetros de distância dela.

— Todos saberiam da minha vida?

— Provavelmente, tanto porque eu sou um solteiro convicto há vinte e quatro anos e de repente eu vou estar namorando uma garota de dezoito anos.

— E quando tudo acabar?

— Cada um de nós irá seguir o seu caminho.

— Eu vou poder usufruir de tudo — sua mão entrou para dentro da minha calça e segurou o meu pau.

— Será uma honra te servir.

— Então eu aceito — ela tirou a mão de dentro da minha calça, mas continuo com o seu corpo colado ao meu.

— Mas teremos que fazer uma mudança radical na sua vida, começando com esse buraco. A mídia vai te acusar de muita coisa se souber que eu estou namorando uma garota de um bairro pobre.

— Ei? Vou ter que me mudar para onde?

— Para o meu apartamento.

— Está falando da cobertura luxuosa.

— A cobertura é dos meus pais, meu apartamento é no andar debaixo.  Também teremos que ir fazer compras, você não pode aparecer ao meu lado com as suas roupas.

— Está falando que a minha roupa é ruim.

— Não essa que você está usando, quer dizer, se fosse seda de verdade seria melhor, mas aquela roupa que você saiu lá de casa, não é roupa apropriada para namorada de um bilionário.

— Você não está querendo fazer muitas coisas para mim, não? Eu sei que você tem muito dinheiro, mas eu e você seremos apenas um casal fake e todo o dinheiro que você gastar comigo eu não vou ter como te devolver.

— Vamos pensar uma coisa de cada vez. Pegue apenas as coisas úteis que mais tarde venho te buscar para nós irmos às compras.

Dei um beijo rápido em seus lábios macios, não dei tempo para ela pensar em falar algo. Saí pela porta da frente e os seguranças arrumaram sua postura.

Acabei de colocar todas as minhas roupas nas malas, meu tênis nas caixas e os restos das coisas dentro de uma caixa. Os seguranças levaram todas as minhas coisas para o meu apartamento, peguei o meu celular e liguei para o meu pai.

— Sim, Filho.

— Eu só estou ligando para informar que eu vou morar no meu apartamento.

— Qual o motivo?

— É que eu conheci uma garota e não quero que ela pense que eu sou um filhinho de papai.

— A portas sempre estarão abertas para você

— Obrigado, agora vou acabar de me arrumar.

— Tchau.

Encerrei a ligação e peguei duas malas minha e as levei para a sala principal. Estou colocando muita coisa em jogo saindo da casa dos meus pais por uma garota que não tenho nem um envolvimento romântico. Sair da cobertura é como se eu fizesse corte de gastos, não vou poder usufruir dos luxos dela, não vou poder pegar os carros dos meus pais, não poderei mais morar de graça, não irei ver mais às minhas irmãs com frequência durante a noite, não terei mais uma despensa cheia e não terei as minhas contas pagas.

Será que vale a pena trocar toda mordomia por uma garota que não amo?

— Senhor, suas coisas já estão todas no apartamento.

— Obrigado, agora você pode ir.

— Com licença.

Chegou a hora de dizer adeus ao local que eu chamei de casa por vinte e quatro anos, os carros que eu costumava dirigir e ter a minha família a poucos metros de mim. Mas vai ser bom um novo começo, apartamento que eu vou pagar por ele, um carro que eu mesmo comprei e um corpo quente ao meu lado toda noite, mesmo que seja só por pouco tempo.