"E sabe, Nao, eu não acho que eles façam mesmo essa diferença toda no seu histórico... você é bem inteligente, não precisa dessa besteira de escola. Se quiser a gente pode fugir juntas para o Alaska. Aposto que lá, com o frio e tudo mais, eles não têm trabalhos gigantes valendo metade da nota do semestre. Até porque não dá pra desperdiçar papel assim, né? Eles devem precisar de muitas fogueiras."
Diante do silêncio da amiga, Ji Yeong percebeu que talvez dessa vez ela precisasse se esforçar um pouquinho mais. No fundo, ela sabe que as notas são tópico sensível ao extremo para Yoshikawa, então falhar no projeto realmente abalou sua confiança. Quando as notas foram anunciadas, a garota saiu em disparada da sala. Com apenas 3 minutos de atraso, Ji conseguiu escapar do professor carrancudo e soube exatamente onde sua melhor amiga estaria escondida para chorar. A 5° cabine do banheiro do terceiro andar era o ponto secreto de tristeza delas - poucas pessoas usavam os sanitários desse andar, visto que estavam em obras ainda não concluídas. Com um suspiro, tentou novamente:
"Ok, se eu te contar um segredo, você abre a porta e conversa comigo? Eu sei que você não gosta da sua voz de choro mas eu realmente não me importo, nana" ainda sem resposta, a garota encostava-se na porta da cabine, sentada abraçando os próprios joelhos. Olhou novamente pela pequena fresta embaixo da porta. As botas pretas de Nao ainda estavam paradinhas lá "Tudo bem, lá vai. Eu sei que disse que não contaria ainda mas acontece que eu talvez esteja apaixonada pe-"
Sua fala é interrompida pelo som de um corpo batendo contra o chão, que Yeong não demorou a perceber ser o próprio. Quando a porta se abriu de repente e sua cabeça emitiu aquele baque como uma bola de basquete quicando, Ji permaneceu deitada na mesma posição, abrindo lentamente os olhos para checar o que em 1 segundo já havia constatado: aquela não era Yoshikawa Nao.
A garota alta e magra que a encarava de cima não parecia muito menos chocada do que Yeong, o que a acalmou e divertiu um pouco. Especialmente porque de seu ângulo, a figura a olhava confusa de cabeça para baixo. O que houve ali? E quem é essa?
"Você não é a Nao!" reclamou, manhosa como uma criança.
"Não diga... Você não deveria se deitar assim no chão de um banheiro público. Não é muito higiênico" A desconhecida ofereceu-lhe a mão, que Ji Yeong rapidamente acolheu.
E, uau, que mão macia. Era grande e ossuda, não como a de uma bruxa, mas como a de uma mulher poderosa, cheia de anéis nos dedos e unhas bem cuidadas, mas não enfeitadas. Ji quase fechou os olhos para se concentrar melhor na sensação gostosa daquele aperto firme sobre si, até ouvir a outra pigarrear.
"Não vai levantar mais não?'
Ah, é. Que estraga prazeres. Sorrindo sem graça, Ji Yeong se recompôs e ficou de pé, achando graça da diferença de altura de pelo menos uns 10 cm entre ambas.
"Você deveria ter vergonha de fingir ser quem não é assim" a mais baixa apontou o dedo, acusando em um tom brincalhão e fazendo um biquinho.
"Eu não fingi nada" a moça riu, um pouco debochada "você que veio e começou a falar e falar... só não quis interromper".
"Meu Deus! Eu ia te contar-"
"Sim, por isso interrompi a brincadeira. Não quero saber intimidades de uma desconhecida, não é legal" interviu, séria.
"Meu nome é Ji Yeong! E o seu?" estendeu a mão para um cumprimento, que demorou um pouco mas acabou por ser aceito "sua mão é tão macia! Que hidratante você usa?"
"Não uso hidratante" a mais velha recolheu a própria mão, dirigindo-se ao lavabo, seguida de perto pela garota empolgada.
"Tudo bem... olha, esse banheiro ainda não está completamente reformado então você não deve usá-lo para... você sabe, número 2".
"Não estava usando o banheiro"
"Mas você-"
"Não estava usando o banheiro para a utilidade de um banheiro" a garota emburrada virou-se abruptamente após lavar suas mãos. Suas feições não eram exatamente rudes, apenas frias. Embora fosse intimidante, Ji Yeong não cedeu.
"Moça, seus olhos- você estava chorando?"
"Você deveria ir checar a sua amiga" virou as costas novamente, encolhendo-se um pouco ao se afastar em direção à saída. E realmente, por um segundo a mais nova se esqueceu do porquê estava ali, em primeiro lugar.
"Lembre-se! Ji Yeong do 2°A! Se quiser falar do seu não-choro ou, sei lá, qualquer coisa..." o tom de sua voz foi diminuindo à medida em que era abandonada pela outra.
"Sae-Byeok. Kang Sae-Byeok" ouviu, antes que o último passo para fora do banheiro fosse dado, deixando Ji Yeong paralisada rindo consigo mesma.
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A 5° cabine
Hayran KurguA adorável Ji Yeong e a misteriosa Sae Byeok se conhecem em uma situação inusitada e se reecontram em uma festa um tanto decepcionante. Talvez por isso suas personalidades conflitantes se encaixam tão bem, afinal. Mas... um romance? Com uma garota?