Prólogo

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Cidade de Osaka, Osaka, Japão
26 de outubro de 2002.

Ueno Sayuri possuía todas as suas memórias em Osaka. Sua mãe, Ueno Suyen, tentou por alguns meses que a filha, ainda pequena, se adaptasse a grande correria e multidões da cidade de Tóquio, entretanto, não teve êxito em sua missão. Aquela era a única memória o qual Sayuri possuía de sua mãe cedendo as suas vontades – ainda conseguia se lembrar de seu corpo de sete anos de idade voltando para Osaka dentro de um carro, com o seu pai, Ueno Katsuo, reclamando no banco do motorista e sua mãe tagarelando sobre o quanto gastariam para restabelecer a sua vida em Osaka novamente. Entretanto, a pequena Sayuri de sete anos não fazia ideia de que aquela sensação de não pertencimento perduraria até os seus vinte anos de idade, quando também se sentia da mesma forma. Mesmo estando em Osaka, Sayuri não podia evitar aquele sentimento estranho, que parecia vir de suas vísceras, de que não pertencia a lugar algum. Tudo lhe parecia estranho, apático. Talvez fosse a maneira que foi criada – seus pais nunca foram dos mais afetuosos – e quando o seu avô, o único que lhe entendia no planeta, faleceu, ela sentiu-se completamente desolada. Agora, era simplesmente um corpo magro vagueando para lá e para cá, tentando agradar os seus pais e fazer o possível para estar bem com todos. Ueno Sayuri sempre teve dificuldades em se adaptar a novos ambientes, e era o seu avô que a ajudava com esse excêntrico traço de personalidade. O homem havia falecido fazia aproximadamente um ano, mas vez ou outra, quando acordava, a jovem Sayuri ainda podia quase como ouvir a voz dele. Talvez fosse esse o motivo de amar tanto Osaka – o seu avô vivia lá, e mesmo que trabalhasse muito, os dois sempre se encontravam. Suyen, sua mãe, torcia o nariz todas as vezes, mas não havia como quebrar esse elo fora do comum que existia entre os dois. Sayuri não sabia dos detalhes, mas cresceu sabendo que a sua mãe não se dava bem com o seu avô. Ao chegar na adolescência, questionou ao homem de cabelos grisalhos, que apenas riu e a respondeu de forma singela que "o relacionamento entre pais e filhos pode ser bem complicado" e isso lhe bastou, já que ela sabia bem do que ele estava falando. Ela e seus pais não tinham exatamente um relacionamento de dar inveja a ninguém. Costumava se sentir muito mais em casa quando estava rodeada dos tios, irmãos de sua mãe e do seu avô, que sempre a tratava exatamente como família. Mas o seu avô havia falecido, e os seus tios agora estavam muito ocupados regendo os negócios da família, que em breve seria o que ela faria também. Suyen abrira mão de toda a herança que o avô havia deixado a ela, a transferido completamente para o nome de Sayuri, que poderia fazer o que bem queria com o dinheiro. Suyen não necessitava mesmo do dinheiro – junto ao esposo, havia multiplicado o capital da empresa da família dele desde o início do relacionamento e vivia muito bem. Por conselho de seu pai, Sayuri custeava os estudos na Universidade e investia todo o resto da herança, além de claro, usar os juros para manter sua vida em um pequeno apartamento próximo ao Campus. Entretanto, herdar uma grande fortuna de seu avô lhe trouxe também algumas responsabilidades. Era assim que Sayuri carregava o seu relacionamento – como uma grande e imensa responsabilidade, já que Matsuno Itao e ela foram basicamente intimidados a iniciar um relacionamento, devido a família Matsuno ter uma grande parte das ações da empresa de seu falecido avô. Sayuri levava o relacionamento como uma oferta de gratidão ao homem que ela mais amou em toda a vida e a quem queria honrar até o seu último suspiro. O relacionamento com Itao não era nada fácil: o rapaz fora criado em uma redoma de vidro, o qual apenas ele e mais ninguém importasse. Dessa forma, não media as palavras quando ia fazer uma crítica e nem era de seu feitio se importar muito com o sentimento de seu próximo. Porém, Sayuri aguentava até o último segundo. Pelos negócios de seu avô e por sua verdadeira família, que a acolheu tão bem na infância, quando sentia-se uma estranha na casa de seus pais.

Naquele fim de tarde, era ele que ela ia encontrar. No dia seguinte, teria um jantar em sua companhia e de mais algumas pessoas importantes, e sempre o encontrava para que acertassem os últimos detalhes. De pé, do outro lado da porta de seu apartamento, sentia uma sensação estranha em seu estômago. Definitivamente era um fardo estar em sua presença, mas nada daquilo era sobre ela. Tinha que ser forte e suportar o temperamento de Itao, para que tudo corresse bem e para que ela não fosse o empecilho no plano de administração de seus tios. Falsificando um sorriso em seus lábios, Sayuri respirou fundo e tocou a campainha. Faria tudo por alguém que, um dia, a fez sentir algo que ela nunca sentiu: Que pertencia a algum lugar.

A Joia Flamejante (Kakashi Hatake + OC)Onde histórias criam vida. Descubra agora