I'm lonely just like you

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Ele era tão novo quando teve o seu coração quebrado, em tantos e incontáveis pedaços. E apesar de tentar me convencer o contrário, eu já tive o meu também. 

Ele gasta seu dinheiro com algo que o faça sair dessa realidade, busca pela noite um momento de refúgio de si mesmo e dos seus sentimentos, aqueles que ele não consegue controlar e deve ter medo de sentir, de se deixar levar. Ele não compreende a grandiosidade de tais sensações.

Algo dentro de mim está gritando para eu estar onde ele está, e acho que estou, mesmo que a gente fale línguas distintas ou que tenhamos tantas diferenças, estamos em apenas uma sintonia, em uma harmonia completamente desarmonizada. 

Eu necessito falar para ele, o que ele carrega é igual ao que tenho dentro do meu peito. É tão forte, queima todo o caminho pelo qual passa, agindo sempre em silêncio, onde encontra aconchego, se instala, e não quer nunca mais ir embora.

Me identifico com o que vejo nele, sei que preciso entender melhor o que faz aquele olhar lindo ficar tão vazio, mas mesmo assim, não consigo evitar de me sentir tão conectada com ele. Almas opostas e vazias se identificam de longe. E eu carrego aqueles mesmos olhos, talvez mais ocos que os dele.

Ele tem que saber que não há motivos para esconder, as coisas que ele sente eu sinto. Sou solitária igual a ele. Nos dias ensolarados, nas noites mais escuras, sem conseguir dormir, pensando em como eu poderia ser e em como sou. É esse vazio no peito que faz com que nos sintamos sozinhos por dentro, é isso que nos entrelaça, a gente só não sabe disso. 

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Foi o primeiro texto que escrevi sobre ele.

Quando cheguei naquela noite, apesar da hora avançada, eu necessitava retirar de dentro de mim tudo o que meu corpo estava sentindo, cada palavra sufocava pedaço por pedaço meu.

A simples lembrança do seu olhar me percorrendo mexia com meus sentidos, a lembrança do seu tom de voz no meu ouvido me trazia êxtase, ainda carregava comigo o peso de sua respiração no meu pescoço.

Não me permito pensar nisso por muito tempo, eu não deveria, estava indo para um lugar completamente escuro, desconhecido, que aguçava meus sentidos e me fazia querer mais. 

Me lembro da sua instabilidade, e que aquilo ocorreu por efeito do álcool, como ele mesmo me disse. E é por isso que não posso me prender a essas sensações repentinas, não sei se aguento mais uma ferida em minha vida.

Mesmo assim, não consigo deixar de pensar que, sobre efeito de bebidas, ninguém fala nada que realmente não queira. 

{...}

Aproveitei meu domingo para me organizar, não trabalhava, então tirava a maior parte do meu tempo para escrever e atualizar meu pequeno blog.

Não sei como me sentia em relação ao texto que fiz sobre Michael, algo muito diferente das emoções que tinha o costume de escrever. 

Assim que publiquei recebi alguns comentários de pessoas dizendo que aquilo estava diferente. Eu tinha consciência disso. Eu não publico textos assim, na hora, gosto de escrever, reler mais tarde com meus sentimentos calmos, aí sim julgo se está bom ou não. 

Mas eu não iria mudar aquele texto, eu sabia que não.

Ao chegar na faculdade, no dia seguinte, fui direto ajudar Ágata com algumas dúvidas em atividades.

- Obrigada pelo convite, acabei não conseguindo agradecer no sábado... –Tento não desviar muito o meu tom de voz do habitual. Lembrar daquele dia me faz palpitar.

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