CAPITULO 3 - MINHA MORTE

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6:30, 30/11/2021

"Noticia do dia: Corpo do jovem Antony Vieira, principal suspeito do massacre a escola, acaba de ser encontrado em baixo de uma ponte abandonada. Seguiremos acompanhando para mais informações desse misterioso caso."

》CAPITULO 3

Momentos antes, 21:00, 29/11/2021

- Então aí está você... Antony.

Uma voz misteriosa surgiu atrás de mim. No susto, me virei bruscamente.

- Á-Álvaro? - Gaguejei, não podia acreditar no que eu via. - O que você está fazendo aqui?

Álvaro é meu irmão mais velho. Faz uns anos que ele se mudou da cidade para fazer faculdade. Ele nunca deu notícia, evitou toda a família. Ele sumiu completamente.

- Ue, vim fazer o meu trabalho.  - Respondeu ele, com o olhar mais tranquilo que eu já vi.

- Do que você está falando? - Perguntei a ele, furioso - Você some por anos, não dá noticias e depois não quer me dar nenhuma explicação?

- Antony...eu não devo nada a um criminoso. - Respondeu ele, me pegando pelo rosto - Você se perdeu, cara.

Eu não podia evitar as lágrimas. Aquele era realmente meu irmão, o qual eu me inspirei a vida toda. Agora, eu o tinha decepcionado, e eu não poderia mudar mais nada.

- Álvaro... - Tentei falar algo, mas não me aguentei em lágrimas- Você está bem, ainda bem que você está vivo!

- Eu não me importo mais com suas lágrimas, irmãozinho - Falou ele friamente, me pegando pela minha camisa ensanguentada - olha para você... você é um monstro!

Sim... eu era um monstro.... eu acabei com vidas, acabei com famílias.
O que eu fiz com a minha vida...

- O que você veio fazer aqui?? - Perguntei a ele, me soltando - me entregar para a polícia??

- Não... te entregar para a polícia seria pouco, muito pouco. - Respondeu ele, friamente

- Então, você vai me deixar ir? - Perguntei a ele, o que fez ele gargalhar impiedosamente.

- Não, irmãozinho tolo. - Respondeu, pegando algo no bolso - eu não vou te deixar ir, juro pela minha vida.

- Então.... - Arregalei os olhos, ele iria fazer isso comigo?

- Sim, isso mesmo... - falou ele, mostrando o que ele tinha em sua mão - você não pode mais viver em sociedade.

- Não.... - Senti meu corpo travar - Por favor Álvaro.... não....

- Agora você sente o desespero não é? - Ele olhou para o meu rosto como se sentisse nojo de mim. - As outras pessoas que você matou serão vingadas por um único tiro.

Ele estava com uma arma na mão. Ele veio ali para me matar.

- Álvaro... - Eu tentei tirar a arma de sua mão, falhando miseravelmente - Você não me ama?

- Antony, eu não vou sentir pena de você! - ele falou, me dando um chute no rosto, o que me fez cair - Apartir do momento em que você matou a primeira pessoa, você deixou de ser o meu irmão. Eu não sou irmão de um assassino nojento.

Meu irmão apontou aquela arma para o meu peito. Senti muito medo. Então foi assim que as pessoas que eu matei se sentiram? foi assim que elas reagiram?
Naquele momento eu tinha certeza: Eu iria morrer.
Um estrondo pôde ser ouvido. Senti meu peito queimar ardentemente. Eu fui baleado pelo meu próprio irmão.
Senti a chuva cair e meu corpo adormecer.
Meu irmão estava indo embora, me deixando ali, caído. Seus passos pareciam pequenos pulos, que foram desaparecendo com o tempo.

"Morrer é assustador, não é?"

(...)

14:00, 03/07/2014 (Flashback)

- Antony, Álvaro! - Gritava Amadeu, enquanto procurava as crianças.

Era um dia especial. Eles iriam pela primeira vez à praia.

- Papai, papai! - Gritou Antony, animado - O Álvaro disse que lá na praia vai ter grandes cavalos marinhos e que a gente vai cavalgar neles!

- Álvaro, pare de mentir para o seu irmão! - reclamou Amadeu, puxando a orelha de Álvaro - Antony, na praia não tem cavalos marinhos gigantes, e muito menos você vai poder cavalgar neles.

- Ah... - Antony ficou desanimado - Então o que vamos fazer na praia?

- Nós vamos aproveitar a água do mar, Antony- Falou Angela, se aproximando e dando um abraço por trás no seu filho. - inclusive, sabia que a água do mar é salgada?

- É sério mamãe?? - perguntou Antony, ficando novamente animado - Dá pra tirar sal de lá para cozinhar??

- Deixa de ser burro, Antony! - Falou Álvaro, dando um peteleco em sua testa - Você é besta ou se faz?

- Olha ele manhêê! - Falou Antony, fazendo biquinho como se fosse chorar - Ele me chamou de burro e de besta!

- Álvaro, não xingue seu irmãozinho! - Falou Angela - vocês tem que se apoiar sempre!

- Ei, Antony! - Falou Álvaro, tocando a cabeça de seu irmão que era bem menor que ele - Você sempre pode contar com seu irmão mais velho, nada de ruim vai acontecer com você. Eu sou o seu herói.

- Tá certo, irmão! - Falou Antony, abraçando a cintura do irmão mais velho - eu te amo, irmão!

(...)

21:30, 29/11/2021

É... eu acho que estou no meu fim...
Estou sentindo minha consciência indo embora... é como se eu estivesse me desconectando desse mundo.

Se eu pudesse voltar ao início, o que eu faria de diferente?
Se eu tivesse esse poder, eu gostaria de impedir que o Álvaro fosse para a faculdade.
Toda a culpa da minha tristeza profunda e o motivo pelo qual eu usava meus remédios da felicidade, foi a partida do meu irmão.
Eu me senti tão sozinho. Eu esperava notícias dele e não tinha nenhuma.
Me senti abandonado pela pessoa que mais admirei durante toda a minha vida.

Minhas forças estão indo embora...
Então é essa a sensação de morrer?

Fechei meus olhos lentamente. Aquela seria a última vez.

Eu estou morto.

(...)

- Antony! ainda não acabou!

□Continua□

0555 [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora