Perigos Invisíveis

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Boa leitura, doces!~

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A tábua de madeira pesada se soltou com tudo dos pregos enferrujados, uma das farpas escapando para perfurar uma das mãos que a seguravam. O rapaz, no entanto, não fez muito caso sobre o machucado ao simplesmente arrancar a lasca de sua pele e limpar o sangramento na barra da camisa manchada.

A ferida ardeu, obviamente, mas ele não tinha paciência para dar importância para isso ao terminar de posicionar a tábua sobre as demais já fincadas na areia e fechar o telhado improvisado que fizera. Em seguida, tentou usar algumas folhas verdes que encontrara para fechar as brechas por onde a água poderia passar, assim que caísse a chuva que se anunciava no horizonte.

Ele ainda pensava num jeito de se aquecer durante aquela noite, uma vez que estaria sem a fogueira que vinha usualmente fazendo com os conhecimentos básicos de sobrevivência que aprendera desde cedo.

Ao mesmo tempo, os peixes e cocos que conseguira na praia, e tentara racionar para que durassem mais, estavam em seu limite. A comida logo ficaria escassa de novo e ele não queira nem pensar no que teria de fazer para conseguir mais. Pescar com lanças improvisadas era mais difícil do que imaginara, principalmente com a refração fazendo os peixes parecerem estar em posições diferentes das reais.

Por suas contas, fazia uma semana desde que caíra na água. Uma semana desde que Amaro lhe apontou a arma, com aquele maldito sorriso cínico, e tentara matá-lo com um disparo em seu livro favorito.

Bom, ele não conseguiu.

A bala passou capa, folha e verso, mas a espessura do volume amorteceu a pancada de tal forma que a única coisa que se Felix recebera foi um machucado feio no centro do peito, mas nada mais.

Então, a questão fora lidar com uma forma de não se afogar nas águas geladas, coisa que foi resolvida com esforço ao encontrar um caixote de madeira flutuando no horizonte. Ele vira quando aquela carga caíra, no exato momento em que o caos tomou ambos os navios. Era muita sorte, pensando agora, que a corrente o tivesse mantido por perto, frente à intensa confusão sob a  superfície, e mais ainda que ele tivesse realmente conseguido subir, mesmo que sem apoio.

Não interessava o que havia dentro e nem como raios aquela caixa enorme de madeira fazia para boiar, ainda que ele depois houvesse descoberto serem apenas algumas tralhas inúteis, provavelmente para fazer o teatrinho que Amaro armara no barco.

Depois disso, aguentou a dor apenas por tempo o suficiente para chamar Changbin pela marca, confrontando a ardência do sal contra a ferida com os dentes cerrados, antes apagar por completo, encolhido contra a superfície flutuante. O peito parecia pesar uma tonelada e ele só conseguia pensar no bebê. Tinha de proteger o bebê.

O Choi-Kang acordou algum tempo depois, supondo que não devia ter passado muito mais do que algumas horas, visto que ainda boiava à deriva, e tentou contato de novo, recebendo apenas o nada pesado de ambos os lados da marca.

Ficou frustrado ao perceber que o Seo devia estar concentrado os esforços da ligação em achá-lo, não na comunicação em si, ao passo em que seu próprio lobo estava quase ignorando todas as suas outras funções para dar foco total ao filhote em sua barriga. 

Não houvera pancada para atingi-lo e, mesmo ao cair, Felix o fizera de costas. Entretanto, o lobo em sua alma, como reflexo das preocupações de sua parte humana, se recusava a tirar a atenção da criança, como se fosse uma garantia de que tudo estava e ficaria bem.

Isso dividia o ômega. Era grato a ele por proteger seu bebê, um serzinho minúsculo que ainda nem era de conhecimento de todos. Todavia, ao mesmo tempo, queria poder falar com seu alfa e garantir a ele que estava bem, que a dor da ferida no peito era excruciante, mas nada realmente letal até o momento, e que eles poderiam buscá-lo com menos desespero e notificar a Aurora de seu estado.

Filhos da AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora