Cilada

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É, né, parece que a chuva estragou o meu lance

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É, né, parece que a chuva estragou o meu lance. Tive que reescrever tudo que estava nas folhas molhadas e ainda fiquei com gripe, o que significa que hoje não estou com a mínima energia para florear demais. Eu achei que parte desse meu contrato sobrenatural era "nunca ficar doente", mas parece que ele realmente não tem muitos benefícios, só obrigações! Eu devia ter chamado um advogado.

Pelo menos a agente de saúde morta não vai virar o "fantasma do foco de água parada" ou sei lá. Sim, é assim que acontece. Se ninguém conta a história trágica verdadeira, os fantasmas voltam como assombrações ou como coisas bizarras, como a Loira do Banheiro ou a Mula-sem-cabeça. Claro, às vezes eles viram coisas mais inofensivas, tipo a Mulher de Branco, que só quer assustar quem dá carona pra ela ao dizer o clássico "foi nessa curva que eu morri". Mas, num geral, eles viram coisas sinistras, como o Corpo Seco, e depois que chega nesse nível... É irreversível.

Aí eles entram na história trágica de outra pessoa e o ciclo se reinicia de novo e de novo e de novo. Deve ter mais gente como eu porque senão o Brasil seria povoado basicamente por assombrações. Então, ei, se você que estiver recebendo esse relato também for um contratado para escrever relatos sobrenaturais trágicos, manda mensagem! A gente nunca vai se ver na vida real, mas seria legal conversar com alguém como eu pra variar...

E por falar em variar... Nada mudou. A visão começou enquanto eu digitava sem que eu pudesse dar permissão ou me preparar... Beleza, lá vamos nós.

Está de noite. E tem uma rua. E tem esse garoto que recebeu muito destaque, então ele deve ser a vítima de hoje. Ele está claramente trapaceando no jogo de cartas. Oh, que peninha, seus amigos foram embora, o que você vai fazer agora? Sair sozinho na rua? Sério? De noite... E sozinho?! Oh, o que poderia dar errado? Ah, olha o vulto ali. Aposto que é um monstro. Ou um fantasma. Ou só um assaltante mesmo. Eeeba...

Desculpa, desculpa, eu sei que eu devia descrever mais, mas a dor de cabeça está complicada e eu não estou com o mínimo saco pra fazer o trabalho hoje.


...!


Ok, quem diria que o arrepio vira uma dor lancinante quando você faz o trabalho mal feito? Haha... Ai. Está bem, está bem! Vou fazer o trabalho direito, nossa, pra quê tudo isso? Credo.

Suspiro.
Vamos recomeçar direito dessa vez...

Está de noite. Ao meu redor, uma rua de um centro comercial se estrutura. De um lado, ela é delimitada pelas muretas que separam o asfalto do declive que leva à margem de um rio largo e profundo - o rio que cruza Serra Baixa e dá a volta na base da serra. Do outro lado da rua, entre prédios de comércios e lojas, uma boate ou um bar chique, não sei dizer, tem suas luzes coloridas destacando a entrada. Várias pessoas transitam entre o lado de dentro do estabelecimento e o lado de fora, povoando a rua. A brisa que vem do rio sopra sobre mim e eu quase consigo sentir o frio que as pessoas do lugar sentiriam.

Crônicas de Serra BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora