Fatalidade

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Ah, nada como ouvir a risada de uma criança

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Ah, nada como ouvir a risada de uma criança... É tão fofo.

A menos que você esteja morando só e essa risada tenha ecoado às 3 da manhã.

No seu quarto.

Vindo da escuridão.

E é por isso, amigos, que eu estou dormindo na sala agora. Já estou pesquisando sobre a quitinete mais próxima.

Eu não sou covarde. Sério. Ter essa "profissão" me fez perder o medo de muitas coisas. Mas crianças fantasma? Elas me dão medo. Muito medo. E se essa conseguiu passar por todas as barreiras místicas e objetos sagrados que eu coloquei em casa, então é algo para eu me preocupar.

Acho que, de todas as assombrações que já encontrei, as que se parecem com crianças são realmente mais perturbadoras. Ou são trágicas, como o Negrinho do Pastoreio, ou são diabólicas, como o Romãozinho. Ah, esse moleque... Ele já fez coisas que eu acho que deixaria até o capeta com medo. Falo sério. Tenho trauma até hoje desde que vi um relato de uma vítima dele.

Falando em relatos... Parece que a cidade ficou mais calma. Nenhum relato chegou até agora. Até que enfim uma folga.




!

... Eu e minha boca grande.

É como diz o ditado: "Nada é tão ruim que não possa piorar". Parece então que foi o arrepio que me acordou às 3 da manhã, não o calafrio normal de quando tem assombração por perto. Como eu sei? Bem, estou sentindo o aperto nas entranhas de quando eu demoro para relatar.

Ugh! Ok, ok, eu já estou com o celular na mão mesmo, então vamos ao trabalho. É uma pena só que terei que transcrever tudo para o papel depois.

Semicerrando os olhos e ficando de pé no meio da sala, eu me concentro e começo a ver o ar tremular. Estranhamente nada muda no ambiente além da repentina clareza da luz do dia, que invade minha casa por todas as janelas. Surge a silhueta de uma mulher rechonchuda de meia idade, mas a imagem dela não é muito clara, como se estivesse borrada e cinzenta. Ela parece apressada. Usa um longo vestido de malha decorada e carrega uma imensa pilha de roupas dobradas que bloqueiam sua visão, de modo que só nota tarde demais os brinquedos espalhados no chão. A mulher escorrega e cai. Depois, claramente com dor, ela se levanta enraivecida e grita "ANA JÚLIA!".

Uma garotinha de talvez uns 10 anos de idade aparece, tensa. Assim que a viu, a mulher dá um esporro sobre como a menina deixava os brinquedos largados por aí sem cuidado nenhum, como nunca obedecia quando a mãe mandava que ela os guardasse e disse dramaticamente que podia ter morrido com aquele escorregão. Por fim, declarou que a garota não ia mais para a casa da Letícia porque estava de castigo. Antes de ir embora com a pilha amassada de roupas, a mulher ainda mandou a garota arrumar os brinquedos.

A menina ficou com o rosto vermelho e fez bico, cruzando os braços.

Estranho. Senti um calafrio como se fosse um arrepio. Um segundo arrepio.

Crônicas de Serra BaixaOnde histórias criam vida. Descubra agora