Capítulo 18

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Eu não sabia que ficar em casa, ao mesmo tempo que podia ser entediante, poderia ser ótimo também. 

Faz uma semana desde do último dia que eu dei aula, nos primeiros dias eu fiquei igual aquele meme "Tá, e agora? O que eu faço". Mas não tive muito tempo para ficar nele, logo comecei a seguir minha mãe para igreja, e fiquei encarregada do ministério infantil da igreja, pensa na minha surpresa, quando a pastora veio me perguntar se eu aceitava. E agora meu tempo é dividido em: cuidar das crianças, seguir minha mãe nas visitas e nas células, tocar meu violão, ler a bíblia, orar e encaixar as conversas com o Pedro nos intervalos e antes de dormir. 

- Vamos filha? - minha mãe diz aparecendo na porta, hoje a gente iria fazer uma visita no hospital do câncer, confesso que em um primeiro momento, eu fiquei receosa, mas no fim, estamos aqui, a caminho. 

Assim que chegamos na igreja, a van que nos levaria já estava lá, oramos antes de ir, e seguimos caminho.

***  

Assim que fomos identificadas na recepção,  a moça nos encaminha para o andar onde tudo seria preparado, era uma sala que eles normalmente faziam reuniões. O pastor nos contou, que muitos que estavam ali, queriam ir para a igreja, mas não podiam deixar o hospital, então ele traria a igreja até eles. 

Depois de arrumamos as coisas, colocamos a santa ceia que seria ministrada em uma das mesinhas do canto, e logo dá a hora que estava marcado para o começo do culto, a gente tinha perguntando se podia tocar o violão, mas a enfermeira achou melhor não, para não atrapalhar os outros pacientes.

- A paz do senhor - o pastor Jeremias diz assim que a sala está lotada. 

Fico emocionada em ver tanta gente, alguns mais novos, outros mais velhos, a maioria ligado em um tubo de oxigênio, ou na máquina de quimioterapia, todos ali, com sede de ouvir a palavra de Deus.

- A enfermeira não nos deu muito tempo - ele continua, abrindo um sorriso - então tentarei ser o mais breve possível. 

Logo ele começa a mensagem, depois oramos, aos que eram batizados, a gente entregou a Santa Ceia. E depois cantamos.

- Quando o pastor volta? - uma senhora pergunta após finalizarmos o culto.
- A gente vai tentar voltar o mais breve possível dona Lurdes - ele diz e a abraça.
- Agora vamos fazer as orações nos quartos - a pastora Paula diz - alguns queriam estar aqui, mas não tiveram condições de sair da cama. 

Nos dividimos de dois em dois, e fomos até os quartos que a enfermeira nos indicava, em cada quarto que eu entrava, era como se meu coração diminuísse um pouquinho mais, ao mesmo tempo que vimos a felicidade nos seus rostos, também viamos a dor, o sofrimento.

- Obrigado por ocês terem vindo - um senhor diz assim que terminamos a oração, ele estava com oxigênio, mas mesmo assim respirava com tremenda dificuldade, e sua voz estava tão cansada. Mas víamos o brilho em seus olhos - pensei que iria embora, sem receber a última ceia do meu Senhor. 

Sinto meus olhos se encherem de água no mesmo momento, eu estava junto da pastora. Vejo o momento que ela pega em sua mão, e sorri para ele. 

- O senhor já é uma rosa muito bonita - ela diz sorrindo - tá mais que preparado. Papai do céu tá te esperando viu? 

Ele dá um sorriso, e então saímos do quarto, respiro fundo.

- Esse bateu - digo sorrindo para ela - bem do lado esquerdo.
- Sabe o que é mais lindo Alina? É que mesmo com toda dor, sofrimento, a fé deles continua inabalável.

E mais uma vez eu tenho que segurar as lágrimas, em todos os quartos que entramos para fazer a oração e ministrar  a Santa Ceia, por mais que não tivéssemos demorado mais que dez minutos, em nenhum momento vimos alguém reclamar, ou murmurar contra Deus, todos eles estavam felizes por a gente estar ali. 

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