Capitulo 19

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Eu sinto como se eu não tivesse mais forças para lutar, sinto como se meu corpo fosse arremessado de um lado para o outro, sem me dar a chance de me defender, mas, sabe de uma coisa? Tá tudo bem, é, tá tudo bem, até porque, é no deserto que a gente tem água direto da rocha, maná quentinho do céu, sombra e Papai sabe até onde a gente é capaz de aguentar, Ele é o oleiro, e um oleiro sabe até onde um vaso pode ser apertado, amassado antes de ele ceder completamente. 

Hoje faz duas semanas que a Sosso está internada, e os médicos simplesmente nãos descobrem o que ela tem, já foi considerado uma metástase, descartada depois de muitos exames, tudo parece estar em ordem, mas a infecção simplesmente não vai embora, é como se ela tivesse brincando de esconde esconde, e ver minha pequena daquele jeito, tava arrancando meu coração, pedaço por pedaço.

- Ela vai ficar bem raio de sol - o Pedro diz me apertando em um abraço, abaixo de Deus, ele tem sido meu alicerce - Você não confia em Deus?
- Claro que confio - digo - mas ver ela desse jeito. 
- Eu sei - ele diz afagando meus cabelos.

Era raro os momentos que ela estava acordada, pois os antibióticos que eles estavam ministrando nela, eram muito fortes, e pelo que os médicos me diziam, eles não estavam fazendo nem cosquinhas na bactéria, sabe o que me assusta mais? É ver o médico entrar, e falar que não sabe como ela tá viva. 

O Pedro fica ali comigo até o horário de vistas acabar, e a enfermeira praticamente expulsar ele do quarto.

- Qualquer coisa me liga - ele diz segurando meu rosto.
- Tá bom.
- Te amo raio de sol - ele me dando um beijo nos lábios - fica com Deus.
- Também te amo, vai com Ele também, me avisa quando chegar. 

Ele pega a sua bolsa, já que tinha vindo direto do serviço, me dá outro beijo na testa, e vai embora.

- Somos só eu e o Senhor de novo - falo olhando para a Sosso que ainda dormia - ai Pai, eu não sei mais como orar, como pedir, eu já pedi de todas as maneiras possíveis - digo sentindo meus olhos se encherem de lágrimas - eu tenho medo de pedir que seja feita a Sua vontade, e ela não for a mesma que a minha. Mas eu confio em Ti, e nesse momento, eu realmente deixo em Tuas mãos, porque não está no meu controle, nunca esteve Pai. Só te peço que não me abandones. 

Quando finalmente consigo pegar no sono, passa das 03h00 da manhã. 

- Alina? 
- Sim - digo olhando para uma menininha na minha frente.
- Você é realmente muito linda - ela diz com um sorriso lindo.
- Obrigada - digo sorrindo também - Você também é muito linda princesinha - digo sentindo meu coração transbordar, um amor que eu nunca tinha sentindo ainda.
Vejo ela sair saltitando, quando tento ir atrás dela, sinto algo me puxar.
- Ainda não é a hora - ela diz sorrindo e me lançando um beijo.

Acordo sentindo meu coração como uma escola de samba no peito, olho para Sosso e vejo aquelas bolas azuis me encarando.

- Oi meu anjinho - digo me sentando na cama.
- Oi - ela diz com a voz bem fraquinha, mas seu sorriso se encontra ali.
- Como você está?
- Quero ir pra casa Lina - ela diz e seus olhos se encherem de lágrimas.
- Eu sei meu amor, eu sei - me sento mais perto dela, e ela deita a cabeça no meu colo. 

Fico ali fazendo um cafuné em seus cabelos, e sua voz me desperta.
- Lina?
- Oi.
- Você sabia que Jesus é muito lindo?
- Sabia sim.
- Não Lina. Ele é realmente muito lindo - ela diz sorrindo.
- Acredito em você.
- Você acha que eu vou ver ele quando chegar em casa? - ela diz já sonolenta outra vez.
- Ele está em todos os lugares meu amor.
- É você tem razão. 

Sinto o peso das palavras dela acertarem em cheio meu coração, mas afasto qualquer pensamento que podia ser formado. 

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