Capítulo 6

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Min Yoongi

A noite estava quieta, o silêncio dentro da casa pesado e denso, como se o ar estivesse espesso demais para respirar. Eu estava no meu escritório, mas não conseguia me concentrar. Meu olhar flutuava pela tela do computador, mas minha mente estava longe, em algum lugar entre o passado e o presente. Eu sabia que ela estava ali. Sabia que SN estava na casa, no quarto dela, e isso me atormentava mais do que eu queria admitir.

Eu não estava pronto para vê-la ainda. Não depois de tanto tempo. Não depois de ter me afastado dela, de tudo o que aconteceu. O que eu deveria fazer? O que ela pensava de mim? Eu sabia que ela não tinha ideia de quem eu era agora, nem do que aconteceu depois das lembranças da nossa juventude. Eu não queria que ela visse o homem que me tornei.

Mas a sensação de estar tão perto dela, sem poder tocá-la, sem poder vê-la... era insuportável.

Com a mão ainda no mouse, olhei mais uma vez para as câmeras de segurança. A imagem do quarto dela apareceu na tela. Ela estava deitada, quieta, seus cabelos espalhados sobre o travesseiro. Eu sabia que ela estava dormindo, mas, no fundo, uma parte de mim desejava que ela estivesse acordada. Para que eu pudesse finalmente encarar a realidade e, quem sabe, dizer algo. Qualquer coisa.

Respirei fundo e observei por um tempo. Não sabia o que estava esperando, mas não conseguia desviar o olhar. Talvez fosse o desejo de ver um pouco da garota que eu conheci. Ou talvez fosse só a necessidade de me sentir próximo, de me convencer de que ainda havia algo entre nós.

Foi então que algo mudou. Uma expressão no rosto dela, como se o pesadelo estivesse se tornando real demais. Ela se mexeu na cama, os lençóis sendo arrastados com força. Seus olhos estavam fechados, mas seu corpo, ah, seu corpo estava agitado. Eu a observei com a respiração presa. Ela estava tendo um pesadelo.

A agitação dela se intensificou. Ela começou a tremer, as mãos apertando os lençóis como se tentasse se agarrar a algo, mas sem sucesso. Então, de repente, ela gritou. O som foi abafado, mas claro o suficiente para que eu sentisse um aperto no peito. A dor que ela estava vivendo naquele momento parecia tão real quanto a minha própria. Eu não queria estar vendo aquilo, mas não conseguia tirar os olhos dela.

Ela se contorceu, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu podia sentir a angústia dela, como se cada uma das suas lágrimas fosse um peso que eu também carregava. A vontade de correr até ela, de interromper aquele pesadelo, de acalmá-la, foi esmagadora. Mas, o que eu poderia fazer? O que eu poderia dizer?

Eu sabia que ela ainda não sabia da minha presença ali. Sabia que, se eu me mostrasse agora, seria mais doloroso para ela do que qualquer pesadelo. Então, fiquei ali, na escuridão do meu escritório, assistindo, impotente.

Mas aquela sensação de que eu não podia ficar de braços cruzados me corroeu por dentro.

Me levantei, a decisão tomando conta de mim antes que eu pudesse processá-la completamente. Talvez eu não estivesse pronto para isso, mas ela não deveria passar por aquilo sozinha. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria vê-la. Ela precisava saber que eu estava ali. Mesmo que ela me odiasse, ou que fizesse de tudo para me afastar, eu precisava ir até ela. Não podia mais me esconder na segurança do meu escritório.

O que aconteceria quando ela me visse? Eu não sabia. Mas algo dentro de mim, algo que eu não tinha sentido em muito tempo, me empurrava para ela.

Com a decisão já tomada, dei alguns passos em direção ao corredor. Me movia silenciosamente, com medo de fazer barulho, de que ela acordasse antes de eu estar pronto para enfrentá-la. Quando vi a porta entreaberta, meu coração disparou. Eu sabia que estava perto demais da verdade, perto demais de tudo o que eu tinha evitado por tanto tempo.

Ela estava ali. Dormindo, mas claramente assombrada pelos próprios sonhos. Me aproximei ainda mais, com o medo de tocar seu mundo, mas também com a necessidade de estar ali. Eu tinha que estar ali.

E, por fim, foi isso que me fez ultrapassar a linha.

Entrei no quarto, com a respiração baixa, mas o coração acelerado. Parei. Estava prestes a dar o próximo passo, mas o medo do que ela sentiria ao me ver, depois de tanto tempo, me paralisou por um instante.

Eu estava prestes a abrir a porta para o que quer que fosse o nosso futuro.

Mas, naquele momento, o som da sua respiração ofegante cortou o silêncio pesado. Ela se agitava, inconsciente do que acontecia ao seu redor, lutando contra os pesadelos que a dominavam. E isso me fez tomar a decisão.

Com as mãos ligeiramente trêmulas, abri a porta. O rangido suave da madeira fez com que ela se mexesse, mas não acordou. O quarto estava parcialmente iluminado pela luz suave da lua que se infiltrava pela janela, dando-lhe um ar de sonho, um contraste estranho com a agitação dela.

Me aproximei da cama, passos lentos e medidos, o peito apertado de ansiedade. Não sabia o que esperar. Ela não sabia que eu estava ali, que estava observando-a, que eu era o homem por trás das câmeras, o homem que comprou sua liberdade dos pais, o homem que ainda guardava sentimentos que ela nunca soubera.

Mas agora, vendo-a ali, tão vulnerável, o desejo de protegê-la, de fazê-la sentir segurança, era mais forte do que qualquer outro medo. E me vi tocando sua testa, afastando alguns fios de cabelo molhados de suor. Seus olhos estavam fechados, mas o rosto mostrava tensão, uma luta invisível com algo que só ela compreendia.

Foi quando ela se mexeu mais uma vez, um grito abafado saindo de seus lábios, seu corpo tremendo. Sem pensar, me agachei ao lado da cama, a mão ainda pairando perto de seu rosto. A tensão na minha garganta aumentava a cada segundo, como se minha presença ali fosse a última coisa que ela quisesse ou esperasse.

De repente, ela abriu os olhos, assustados, e seus olhos se encontraram com os meus. O choque foi imediato. O medo, a surpresa e uma pontada de confusão. Ela não sabia quem eu era naquele momento, não sabia o que tudo isso significava.

E, talvez, eu também não soubesse.

- Y-yoongi...?.- Ela sussurrou, a voz baixa e frágil, ainda entre o sono e a vigília.

Eu congelei. Ela me chamara pelo nome. Eu não esperava isso, nem mesmo o tom de sua voz. As palavras que ela pronunciou pareciam tão distantes, como se ela estivesse tentando se lembrar de algo perdido no tempo.

Continua..

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