cure-me - yungi

God created the heaven and the earth

*Durante o capítulo aparecerá o termo "diácono", que significa um religioso que está no último dos sete anos de estudos (em média) que levam à carreira clerical. O diácono já pode realizar algumas celebrações religiosas, como batismos e casamentos.

**Partes em itálico são recordações do personagem.

Três semanas haviam se passado. Yuju era tudo que eu havia imaginado e mais um pouco: Inteligente, esforçada e compreensível. Tudo o que eu poderia querer numa esposa, e minha família estava mais do que contente por causa disso. Não podia afirmar se eu atendia às suas expectativas como homem, mas fazia tudo ao meu alcance para que as coisas fluíssem bem. Faltava pouco para a cerimônia, a igreja já estava reservada, os preparativos estavam praticamente terminados. O que restava além de provar as vestimentas era que eu recebesse a bênção da família Jeong.

E me preparava para esse encontro nesse exato momento, me olhando pela terceira vez no espelho procurando alguma imperfeição que pudesse passar uma má impressão. Novamente penteei meus cabelos que começavam a crescer depois de tanto tempo sendo raspados no Reformatório. Toda semana éramos levados para aparar os fios, e chegava a ser engraçado ver todo mundo com o mesmo corte de cabelo. Se me esforçasse um pouco, podia lembrar da sensação de quando tive a experiência pela primeira vez. Queria muito chorar, não sei exatamente por qual motivo, mas enquanto a máquina zumbia em meus ouvidos, um nó doloroso se formava em minha garganta e eu pressionava os lábios fortemente, impedindo que algum som escapasse.

Pensar nisso desencadeou outras memórias afundadas em meu consciente. Subitamente lembrei das primeiras semanas de internação, quando tudo era mais difícil.

Meus passos eram desordenados, minha cabeça pesava de sono e minha garganta coçava pela falta de líquido. Até o simples ato de respirar era doloroso, e eu não sabia por quanto tempo mais poderia aguentar sem desmaiar. Os dois homens me carregavam pelos braços, andando mais rápido do que eu poderia acompanhar, o que causava vários tropeços. Olhando pelas pequenas janelas no topo das paredes, podia ver que estava claro o suficiente para indicar ser manhã. E se tudo ocorresse como os dias anteriores, eu já sabia o que me esperava.

A grande porta de metal agora estava a minha frente, e ao lado desta, um crucifixo branco pregado na parede. Os dois guardas ergueram as mãos para tocarem a testa, o peito e os dois ombros respectivamente, como sempre faziam, para enfim adentrarem a sala. Assim que a porta era aberta, o contraste de ambientes chegava a assustar. Os corredores brancos e silenciosos eram totalmente opostos à sala escura e repleta de gemidos e sussurros agoniados. Haviam aproximadamente doze rapazes ali, todos em jaulas individuais, altas e estreitas, que permitiam o prisioneiro a ficar apenas de pé. Correntes pendiam do teto e eram postas em volta dos pulsos de cada um, os forçando a ficar naquela posição por um dia, dois, até uma semana.

Meu tempo começava agora, assim que as correntes geladas se envolviam em minha pele, apertadas, ásperas e impiedosas. Respirei fundo, sabendo que de nada adiantava pedir por misericórdia, gritar ou tentar escapar. Apenas fechei os olhos, esperando que as gotas de água benta entrassem em contato com o meu corpo. O padre se posicionava a alguns passos de distância, portando uma cuia com a água sagrada e um ramo de ervas que pra mim eram desconhecidas, mas para eles significavam muito mais. Ele então molhava as folhas e as balançava a minha frente enquanto pronunciava orações de salvação, deixando que o líquido que escorria por meu corpo fizesse o seu milagre. As feridas espalhadas por minha pele ardiam, provavelmente pela extração do demônio, ou apenas por estarem infeccionando.

- Eu peço ao meu bom Deus, Pai misericordioso, que retire o demônio de dentro do corpo deste homem. – Ele falava, a voz grossa e um pouco tremida, se esquivando do mal ao mesmo tempo que tentava expulsá-lo. – Liberte esta alma, Senhor, faça com que ele volte ao normal e dê mais uma chance para que se arrependa de seus pecados.