Não me orgulhava de ter ligado para meu pai o xingando de nomes que eu nem lembrava saber, muito menos de ter ameaçado ir até à polícia caso ele tentasse chegar perto da minha irmã novamente. Mas era o que eu precisava fazer, ignorando todo e qualquer princípio que havia sido colocado à força em minha cabeça pelo Reformatório. "Obedeça acima de tudo", era o que eles diziam enquanto jogavam baldes de água gelada em nossos rostos. "Não confronte aqueles acima de você", e um soco no estômago para reforçar as palavras. E mesmo sentindo calafrios e a dor daqueles socos enquanto despejava ofensas pelo telefone, não parei. Não obedeci, não me calei. O muro que me impedia de dizer o que queria foi derrubado a chutes pela minha consciência, completamente revoltada pelo que havia acontecido.
Apertar no botão de encerrar a chamada foi como saltar em uma queda livre de um local extremamente alto. Era desesperador ao mesmo tempo que libertador. E enquanto caía, pedras me atingiam pelo caminho assim que soube que minha mãe tinha conhecimento de tudo o que acontecia debaixo de seu próprio teto, mas não ousava contrariar o patriarca. Meu estômago se revirava em nojo das pessoas que descobri que eram.
Foi difícil deixar Minwoo depois daquela noite. Queria protegê-la de tudo pelas vinte e quatro horas do dia, mas precisava trabalhar. E só depois de meia hora me despedindo e beijando sua testa com promessas de voltar logo que tive coragem de sair. Yuju assegurou que ia ficar tudo bem, me deixando um pouquinho mais calmo.
Assim que cheguei à padaria, já planejando devolver a chave do meu colega de trabalho, não o encontrei ali. Amarrei meu avental firmemente, dessa vez sem ajuda, e fiquei a postos detrás do balcão. O senhor Kang logo percebeu minha presença, me cumprimentando com um sorriso e começando a puxar assunto como o homem simpático que era.
- Agora sabe por que eu preciso de um ajudante? Yeosang é o mesmo que nada, meu filho. Chega quando quer, vai embora quando quer. – Disse, em tom risonho. – Eu não julgo, sei como é ser jovem. Vocês precisam aproveitar enquanto podem.
Acompanhei sua risada, ainda envergonhado por não ter tanta intimidade, por mais que o dono do estabelecimento fosse a pessoa mais fácil de se lidar. Queria perguntar tantas coisas a ele, mas não sabia se seria ofensivo. Mesmo assim, antes que me arrependesse, questionei cuidadosamente.
- O senhor não... acha ruim ele não ir à igreja?
- Ele vai. – Respondeu, me surpreendendo. – Ele só não entende ainda os ensinamentos do Senhor, mas fico feliz que ele está tentando, por mais que não tenha ido desde algumas semanas atrás. Quero que ele descubra por si mesmo do que gosta, sabe? Uma hora ou outra ele consegue.
Assenti, absorvendo suas palavras. Meu primeiro instinto foi pensar que o senhor ao meu lado era a reencarnação do pecado, me tentando a deixar a Igreja. Porém, no instante em que esse pensamento surgiu, me repreendi. Existiam tantas religiões no mundo, por que impor a alguém o que eles deveriam acreditar?
- Eu só não gosto das tatuagens. Pense numa coisa que acho feia? – Confessou, torcendo o rosto, mas rindo logo depois. – Um dia ele apareceu com uma do nada, eu podia fazer o que? Não dá pra tirar mais. Não sei o que faço com esse menino.
Ri de forma sincera, não fazendo mais perguntas. Observei quando Lia saiu da cozinha com uma grande bandeja em mãos, recheada de pães quentinhos e cheirosos, e tratei de abrir a vitrine para que ela pudesse despejá-los. Nos cumprimentamos apenas com acenos de cabeça antes que ela retornasse ao seu local de trabalho.
Atendi uma boa quantidade de clientes até que Yeosang resolvesse dar as caras. Não sou curioso, longe de mim, mas foi impossível não notar o carro de onde ele havia saído. Era caro, com toda certeza, julgando pela aparência. No banco do motorista, uma mulher de óculos escuros conduzia o veículo, parando bem em frente ao estabelecimento. O Kang se inclinou para beijar os lábios pintados de vermelho e logo se despediu, vindo ao meu encontro com um sorriso radiante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
cure-me - yungi
FanficMingi nasceu em uma família extremamente religiosa. Tudo o que fazia era estritamente regulado pelos pais, que assim que perceberam as tendências homossexuais do filho, o enviaram para um Reformatório, onde ele poderia ser curado. Quando sua estadia...