And the Spirit of God moved upon the face of the waters

921 145 213
                                    


Partes em itálico são recordações do personagem.


- Eu acho que tô apaixonado, cara.

Era mais uma das noites que eu passava na casa de Choi San, meu melhor amigo. Estávamos jogando video games e comendo besteiras como sempre, acordados até tarde. E assim, de repente, ele resolveu arrancar meu chão com essas palavras. Ele sabia que eu sentia algo por si, já que havia contado há algum tempo, e fez questão de dizer que eu deveria parar. Éramos amigos há mais tempo do que se pode contar nos dedos, e esse sentimento cresceu por anos e anos até que eu não conseguisse mais conter dentro de mim.

Tivemos uma conversa séria sobre o assunto, sobre como ele nunca havia pensado em mim dessa forma, e como não queria que nossa amizade acabasse por causa disso. Eu concordei, disse que entendia, mas no instante que cheguei em casa, as lágrimas que saltaram de meus olhos diziam o contrário. Foi extremamente difícil aceitar, mas eu o amava, e quem ama quer ver o outro feliz, não é? Por isso, ao ouvir sua confissão, engoli o amargo em minha garganta e sorri, demonstrando minha felicidade ao saber da notícia.

- Sério? – Perguntei, retoricamente. – Quem é ele?

- O nome dele é Wooyoung. – Disse baixinho, mordendo os lábios para conter o sorriso que queria se formar. Olhou para baixo, envergonhado como eu nunca havia visto antes.

- Caralho, você tá caidinho. Olha essas bochechas vermelhas! – Notei, zoando com a sua cara. Ele me deu um soco no ombro, dizendo para parar no mesmo instante. Acariciei o local golpeado, rindo ainda que doesse como o inferno. O soco e o aperto no meu coração. – Como ele é?

- Ele é... incrível. Extremamente irritante, mas apaixonante no mesmo nível. Quando tô perto dele me sinto completo, como se esse tempo todo estivesse procurando minha metade perdida. E quando longe, conto as horas pra ver aquela cara bonita de novo.

- Eu vou vomitar. – Foi a minha resposta, pondo a mão na boca.

San me empurrou de leve, ainda envergonhado, mas feliz. Suas covinhas estavam à mostra ao que ele sorria, agora brincando com o tecido da coberta.

- Fico feliz por você. – Falei, sinceramente. Ele me fitou com os olhinhos brilhando, me abraçando logo após. Apoiando meu queixo em seu ombro, aproveitei para transmitir apoio por meio daquele abraço aconchegante. – Espero que um dia eu encontre minha metade também.

- E eu quero ser o primeiro a saber!

Sorri, passando a mão por suas costas.

- Você será.

Podia sentir uma única lágrima contornar minha bochecha, quente e úmida. Depois de alguns dias vindo na mesma confeitaria na esperança de ver o rapaz da faixa de pedestres novamente, finalmente tinha conquistado meu objetivo, e me arrependia amargamente. Olhando sua figura tão familiar, que aquecia tanto meu coração, me deixava angustiado na mesma proporção. Ele bebia algo num copo com canudo, mexendo no celular enquanto encostado à sua moto que eu já conseguia me recordar ter dado umas voltas. Devido a mais recente lembrança, havia chegado à conclusão que aquele rapaz provavelmente teria sido o motivo de eu ter sido internado, e saber disso destruía toda a vontade que eu tinha de falar com ele, como senti da primeira vez que o vi de relance na faixa de pedestres.

Ele namora um homem. Ele é o pecado em forma humana, só esperando uma alma fraca para se apossar. Eu já havia sido influenciado por si antes, e faria de tudo para que isso não acontecesse novamente. Estava tentado a ir até ele, cumprimentá-lo, perguntá-lo sobre como éramos bons amigos, pelo que me recordava. Sentia saudades de si e nem sabia o porquê, o que eu não conseguia entender. Ele era tão especial assim pra mim? Ou é apenas uma forma do demônio de me fazer cair em tentação?

cure-me - yungiOnde histórias criam vida. Descubra agora