And God divided the light from the darkness.

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O sabor salgado de suas lágrimas estava em minha língua e suas mãos ainda se agarravam ao meu pescoço. Yunho descansava sua testa contra a minha, respirando forte em meu rosto, de olhos fechados. Por outro lado, eu o observava de tão pertinho, fascinado com o mínimo vindo de si – como seus cílios cheinhos e suas bochechas coradas.

- Me desculpe. – Sussurrou mais uma vez. – Eu não posso fazer isso.

E de repente seu calor não estava mais ao meu redor, o que me fez arrepiar pelos calafrios que me atingiram. Ergui o olhar, buscando por si, e o fiz a tempo de vê-lo andar a passos apressados de volta para a casa. Antes que ele pudesse sair do jardim de fato, o alcancei, puxando sua mão em minha direção. Mas não adiantou muito ao que ele se desvencilhou de meu toque bruscamente, sem olhar para trás.

- Por favor, não.

Ele parou de andar para pôr ambas as mãos no rosto, de costas para mim.

- Por quê? – Perguntei por impulso, a voz dolorida. – Por que está fugindo?

- Eu não estou fugindo, Mingi. – Disse, parecendo ofendido. – Em toda a minha vida, eu nunca fugi.

O Jeong se virou, com o olhar transbordando mágoa.

- Você não percebe o que acabou de acontecer? Você vai se casar. Você vai ser pai, porra.

- Yunho... – Chamei, franzindo as sobrancelhas. Dei um passo em sua direção, e ele respondeu com um passo para trás.

Não me dei por vencido, sendo mais rápido e o trazendo para meus braços novamente, o apertando contra meu peito. Seu corpo se enrijeceu, mas ele não tentou me empurrar. Levei a mão até seus cabelos, os acariciando no intuito de acalmá-lo. Não queria vê-lo chorar, e por Deus, não queria que ficasse chateado comigo. Doeria mais que tudo ver seu olhar magoado dirigido a mim mais vezes, além de não poder estar perto de si. Não tinha uma solução para tudo isso, mas faria o que estivesse ao meu alcance para que as coisas acontecessem da forma menos dolorosa possível.

- Não se afaste de mim. – Foi o que pedi, apoiando minha cabeça em seus ombros largos. Me agarrava a si como se ele pudesse escapar, e de certa forma, poderia. A qualquer instante.

- E ter que sentir meu coração sendo quebrado toda vez que olho pro seu rosto?

Sua voz estava abafada e ele não retribuía meu abraço. Aquelas palavras foram como uma facada em meu peito, fazendo uma dor excruciante tomar conta do local. Tentei falar algo, tentei achar alguma resposta para essa dor, mas não havia nada em meu poder que pudesse resolver toda aquela confusão. Não sabia exatamente nem mesmo o que eu queria, como chegaria a uma conclusão?

- Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Disse, rente ao seu ouvido. E pelo modo como ele relaxou entre meus braços, tive a certeza que lembrava daquela frase.

Se eu ficasse mais um dia dentro desse quarto, não saberia se conseguiria sobreviver. Estava enlouquecendo com aquelas paredes que pareciam me sufocar. Mesmo que não mexessem um centímetro, tinha a sensação que elas se aproximavam cada vez mais, até que me esmagassem. Agarrava meu crânio como se ele fosse explodir, enfiando as unhas no couro cabeludo, tentando me focar apenas naquela dor e em mais nada. Quem sabe assim esqueceria de tudo que estava acontecendo?

Meus joelhos imploravam para que eu me levantasse, mas não conseguia sair daquela posição. Me balançava para frente e para trás, tentando ninar a mim mesmo. Ainda conseguia sentir aqueles fios em minha cabeça, e os olhares dos "médicos" observando o meu sofrimento. Não conseguia compreender porque eles faziam aquilo comigo, mas queria que acabasse de uma vez por todas.

cure-me - yungiOnde histórias criam vida. Descubra agora