So God created man in his own image.

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Minha ansiedade nunca esteve tão alta. Os murmúrios das dezenas de pessoas se embolavam em minha cabeça, trazendo um barulho muito maior que o normal e me deixando a beira de um ataque de pânico. Mas agora, mais do que nunca, eu precisava ser forte. O polegar se arrastava na aliança pesada em meu dedo anelar, fazendo a joia girar no lugar e atritar em minha pele, trazendo um calor que me lembrava que ainda estava vivo. Estava fazendo aquilo há horas, tentando me distrair da grande bagunça que estava ao meu redor.

As paredes tinham tom neutro, as mesas e cadeiras eram de madeira pesada e envernizada. Os homens sentados no altar a frente de todos conversavam seriamente e pareciam demorar demais para realizar uma decisão que em minha opinião era óbvia demais para tanta discussão. Era necessário, eu sei, mas não ajudava em nada no meu estado de angústia.

A batida do martelo do juiz foi suficiente para que todas as vozes se calassem e as atenções fossem voltadas novamente para si. O homem de idade avançada parecia estar cansado de ficar ali o dia inteiro, e possuía olheiras que não passaram despercebidas por mim, já que sofria do mesmo mal. Ele pigarreou e deu um breve depoimento, dizendo finalmente qual seria sua decisão e seguindo em frente para o próximo caso como se não tivesse acabado de mudar minha vida para sempre.

Fui praticamente forçado a sair da sala por precisar dar lugar a outras pessoas que esperavam julgamento também, mas não prestava atenção em mais nada senão o papel que carregava em mãos. Aquela simples folha de ofício com meras palavras impressas significava o mundo para mim. E era extremamente satisfatório ler de novo e de novo que eu, de uma vez por todas, possuía a guarda definitiva de Song Minwoo.

Mal podia esperar para ver seu rostinho novamente, para abraçá-la sabendo que ninguém poderia tirá-la dos meus cuidados. E assim que pisei na sala de espera, encontrei um olhar que me transmitia toda a segurança do mundo. Só naquele encontro de olhos ele percebeu que havia dado certo. Seu sorriso aberto me reconfortou mesmo de longe, e seus braços fizeram o resto. Seu abraço me transmitiu apoio, me fez acreditar que nem tudo estava perdido. Que eu podia confiar em meus objetivos, que podia seguir meu próprio caminho.

Não contive a risada ao sentir minha irmã tentando invadir o abraço, me afastando brevemente para poder pegá-la no colo. Haviam várias pessoas naquele cômodo, mas no momento parecia ser apenas nós três.

Minwoo, Yunho e eu.

Até rostos familiares serem reconhecidos há alguns metros de distância, me fazendo engolir a seco apenas por recordar tudo o que tivemos que passar até chegar aqui. Meus pais olhavam a cena distantes, tentando passarem despercebidos, coisa que não havia funcionado. Dava graças a Deus por eles não poderem chegar mais perto.

Conseguir esse documento não foi nada fácil. De fato, foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer em toda a minha vida. Eu já tinha a guarda provisória desde que havia resgatado a garotinha daquela casa infernal e era totalmente voluntário o desejo que ela tinha de ficar comigo. Porém, os Song não desistiriam tão fácil assim.

Assim que entrei com o pedido de guarda definitiva, eles lutaram contra. Jogaram todas as cartas que tinham disponíveis, relatando que eu não tinha condições de criar uma criança por motivos que pareciam justos caso eu não estivesse preparado também. As fotos das agressões que Minwoo sofreu por meses diziam mais que mil palavras, e seus depoimentos foram claros o suficiente para que eu conseguisse uma ordem judicial de afastamento. Nossos pais deveriam manter distância mínima de duzentos metros.

Pensei em desistir a cada vez que minha irmã era chamada para dar um novo depoimento e seus olhos se enchiam de lágrimas enquanto ela me pedia para ficar em casa. Era horrível ter que repassar aquelas cenas de novo e de novo, quanto mais para uma criança de oito anos, mas era necessário para que não voltasse a se repetir.

cure-me - yungiOnde histórias criam vida. Descubra agora