And God saw the light, that it was good.

974 159 382
                                    


As folhas das árvores balançavam com o vento, meu coração batia forte dentro do peito e se eu me esforçasse, poderia ouvir o som dos talheres dentro da confeitaria. Eu não conseguia olhar para o garoto ao meu lado, sentado no banco do meu carro, tentando limpar as lágrimas com as mãos de forma desajeitada.

- Eu senti tanto a sua falta que nem sei como reagir... – Ele disse depois de um tempo, sua voz acariciando meus ouvidos.

Aparentemente ele estava na mesma situação que eu, mas a minha falta de reação se dava por não saber exatamente o que sentir. Sentia saudade? Estranheza?

- Você está bem? – Perguntou, nunca parando de me encarar. Minwoo comia sua fatia de bolo em silêncio no banco de trás, me fazendo praticamente esquecer sua presença.

- Estou. – Falei, tão baixo que achei que ele não poderia ter escutado.

- Você tá diferente.

Eu não sabia que estava diferente. De fato, não sabia quem eu era antes de acordar numa sala escura e fedorenta dentro de uma cela de grades grossas, enquanto o padre rezava por minha alma. Saber que aquele rapaz me conhecia mais do que eu mesmo me dava calafrios, ao mesmo tempo que me deixava curioso.

- Onde você estava?

Poderia dizer a verdade? Poderia confiar nele? Parte de mim gritava dizendo que sim, ele era confiável, e eu poderia apostar minha vida em suas mãos, mas a outra me impedia de dizer uma palavra.

- Eu estava... recebendo ajuda. – Respondi enfim, me virando para olhá-lo pela primeira vez desde que entramos no carro. Seus olhos estavam vermelhinhos pelo choro, e ele agora franzia a testa, parecendo preocupado.

- Eles machucaram você? – Perguntou, o rosto sério, e eu soube naquele momento que nunca poderia mentir para si. Seu olhar transmitia confiança. Me incitava a contar a verdade, exalando uma preocupação genuína.

Não tive coragem de responder em voz alta, mas antes que eu pudesse me parar, assenti, esperando sua reação. Suas sobrancelhas se curvaram numa expressão sofrida, como se sentisse minha dor. Alcançou minha mão largada ao lado do corpo, a tomando entre as suas que exalavam um calor gostosinho. A lembrança do sofrimento passado não mais me fazia chorar, mas ele parecia segurar as lágrimas com toda a força que tinha.

- Fizeram lavagem cerebral em você?

- Não. – Respondi rápido, mas percebi que se eles tivessem feito, eu não saberia. – Quer dizer, acho que não?

- Filhos da puta. – Xingou entredentes, e eu me assustei com o palavrão repentino. – Tem certeza que está bem agora?

- Sim. Estou bem. – Respondi, mesmo que sem convicção alguma. Não queria preocupá-lo, mesmo que, de certa forma, tivesse o conhecido agora. Sabia que ele me fazia bem, e isso era o bastante para que me importasse.

Seu polegar se arrastando pelas costas da minha mão me traziam uma sensação engraçada no estômago, como se alguém fizesse cócegas no local.

- Você lembra de mim? – Perguntou, com os olhinhos brilhando em expectativa. Assenti novamente. – Quem sou eu?

- Sannie.

Repentinamente, ele sorriu, soltando ar pelo nariz. Fiquei confuso pela sua reação, mas seu sorriso era tão bonito que deixei pra lá.

- Eu te amo tanto. – Disse, e eu pude ouvir meu coração batendo no ouvido de tanto nervosismo. – Você não está sozinho. Se aqueles desgraçados apagaram mesmo suas lembranças, eu vou lutar com todas as minhas forças até que você se lembre de tudo, e nunca mais vou deixar ninguém me afastar de você. Ouviu?

cure-me - yungiOnde histórias criam vida. Descubra agora