Capítulo 3

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— O que foi aquilo? — Samara pergunta quando entramos no outro quarto depois de certificar que Ryan Smith não veio atrás de nós. — O que deu nele?

— Eu também não sei — respondo, confusa.

Não era minha intenção deixar o cara daquele jeito. Ele pareceu um pouco paranoico, ficando vermelho, respirando difícil, implorando por uma coisa sem cabimento e lógica. Foi bem esquisito também contemplar sua alteração de cor.

Ainda mais porque eu estava tentando me situar depois de vê-lo pessoalmente.

A foto do site não condiz, de forma alguma, com o que vi a cores. O cara é completamente de uma beleza estonteante. Olhar profundamente claro em uma mistura de cores: acastanhado claro, quase chegando num verde que foi esquecido. Lábios chamativos, grossinhos e com um tom rosado. Os cabelos espetados caíam para todos os lados, numa bagunça própria. E aquele corpo… meus lábios ficam pesados só de lembrar.

Ele não tem um abdômen como o do homem que me atendeu quando cheguei, mas não deixa de ser igualmente tentador, com aquela tatuagem discreta perto de onde fica o cós do shorts. E o jeito dele andar e os músculos dos braços são uma coisa a parte, que podem sim deixar alguém perdido. Alguém tipo eu.

— Você não acha que devia se desculpar? — Samy questiona.

— Eu não, por quê?

— Vai ver você mexeu em uma ferida do rapaz — ela embola os lençóis sujos da cama e pega um dos limpos que trouxe do outro quarto para estendermos no colchão. — Ele ficou visivelmente perturbado.

— Eu não falei nada demais, Samara. Só estava querendo comprovar se era ele. Não sabia que ser rico incomodava o cara.

— Justamente por não saber. Eu acho que você tem que se desculpar.

Nego, olhando-a com descrença.

— Eu não vou. Não tenho motivos para me desculpar.

— Então você não devia ter dito que trabalha com a publicidade da loja do irmão dele — minha amiga está visivelmente incomodada. — Poxa, Lu, eu só queria que você tivesse vindo me ajudar, não criar um caos. Agora eles devem estar discutindo lá embaixo sobre quem vai me pagar.

Persisto olhando-a. Não acredito que ela vai me culpar pela histeria daquele cara.

— Você não tem que se preocupar — puxo o lençol com força para vestir a ponta do colchão. — Eles têm que te pagar ou você pode…

— Posso o quê? — ela bufa. — Não me diga que apelar ajuda pra um dos meus irmãos, porque eu não vou fazer isso.

— Você precisa superar a surra que eles deram no seu antigo namorado — aconselho. — Não entende que foi merecido? O cara sempre te convencia a dar seu dinheiro pra ele comprar drogas e beber, não trabalhava e só te procurava quando queria dinheiro ou transar. E aí quando você ameaçou terminar se ele não mudasse, ele te bateu. Quando se separaram, ele começou a te perseguir.

Ela faz uma careta antes de murchar no lugar. Samy é uma pessoa muito doce e inocente. Não é justo que a vida sempre lhe dê os piores caras para se apaixonar.

— Ele não encontrava trabalho — ela tenta justificar, mas logo muda de ideia. — Não acredito que me submeti àquilo. Mas, mesmo assim, eu não vou recorrer aos meus irmãos de novo. Imagine só eles vindo aqui e… — ela balança a cabeça, repelindo o pensamento. — De jeito nenhum! Esses mauricinhos poderiam colocar os dois na cadeia.

— Quem você tá chamando de mauricinho? — a voz grave que conheci há pouco invade o quarto e Ryan Smith se coloca em frente à cama depois de passos pesados, onde pode ser notado sem esforços.

Tempestade de Gelo #1 (NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora