Delfins

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Daeset era o legítimo imperador de Dafne, e seu palácio era no interior da gloriosa Hyperion, a maior e mais antiga árvore da floresta de Prasinos, a capital do reino dos delfins, ou, como os humanos chamavam, "fadas". Não que pensasse em como os humanos os deixava de chamar ou não, já que, como governante, tinha assuntos mais importantes nos quais pensar, mas vendo um humano em carne e osso pela primeira vez depois de séculos, dentro do seu palácio, e acompanhado do seu filho, sumido a meses, ele meio que não pôde evitar de se lembrar.

— E você ainda tem coragem de aparecer na minha frente?! — Esbravejou, socando o braço do trono de jade. — Filho estúpido! Uhu! — Tossiu forte, engasgado na própria respiração descompassada.

— Pai! — Jimin bateu as asas e voou até o patriarca, preocupado. — Não se exalte, por favor... sua saúde...

— Você está me tirando toda a saúde que me resta! Uhu, hum! — Limpou a garganta, com o punho fechado na mão. — Francamente...

Taehyung sentiu o peso do olhar severo daquele rei cair sobre si, mas não desfez nem um pouco a postura, ao contrário de Hoseok, que parecia devastado só de estar ali, certamente numa prece interior pra seguir sendo ignorado. Não era pra menos, aquela... "fada", bem, era no mínimo duas vezes maior que Jimin; na verdade, era gigante até pros padrões humanos, o corpo semi despido revelando um torso de músculos tão firmes que duvidava que pudesse ser furado por um chifre de javali; um verdadeiro colosso, um físico dos famosos lutadores de arena que Taehyung cresceu admirando.

— Pai... — Jimin se ajoelhou diante dele, tão menor e delicado, com as mãos nos seus enormes joelhos dobrados, cobertos numa calça larga e fina, colorida e bordada de dourado. — Me perdoe.

Ainda assim, as semelhanças eram visíveis: os cabelos longos e lisos eram naquele mesmo tom de azul escuro, suas sobrancelhas retas, seus olhos finos, seu rosto de traços maduros e lindos: a pele clara e imaculada, como marfim, e as asas no mesmo tom verde água, tais quais as do filho, apenas maiores na envergadura, em proporção ao seu tamanho.

— O que eu faço contigo...? — O rei suspirou, aflito, mas tomou as mãos de Jimin numa única e enorme mão sua, o fazendo se levantar. — Tem uma cicatriz na sua asa. — Ele disse na sua voz forte e grave, analisando a fada. — O que houve?

— Não foi nada. — Jimin juntou as asas atrás das costas, se virando de perfil para apontar pra baixo, no salão, alguns pés distantes da plataforma aonde o trono estava. — Eu... fui buscar o Hoseok, e este homem nos trouxe de volta em segurança.

— Foi buscar Hoseok? — Então foi a vez de Hoseok baixar a cabeça, com as mãos juntas atrás das costas. — Com permissão de quem? Hoseok se retirou de Prasinos por livre e espontânea vontade. Estou errado?

— Não senhor. — Hoseok respondeu, passiva e prontamente.

— Pai, eu não podia deixar! — Jimin contestou. — Foi só um mal entendido!

— Não havia mal entendido, mas você trouxe o mal entendido. — Encarou Taehyung: o general humano o encarando de volta. — Sua memória é curta como a de um inseto ou o quê? — Começou a insultá-lo, sem apresentações ou cerimônias. — O acordo dourado é bem claro quanto à linha que separa nossos mundos, e eu não quero que minha floresta apodreça sob as solas dos seus sapatos imundos.

— Bem, eu suponho que meus sapatos realmente estejam sujos... — Mas Taehyung respondeu, em um tom alto, claro e calmo. — Mas é pra isso que eles servem... — Despretensioso, até, mesmo que em sua mente ainda estivesse fascinado com o fato de ver as fadas sempre descalças e agora reclamarem das suas botas. — E quanto à minha memória, respeitável... autoridade... — Disse, depois de um tempo pensando em como chamá-lo da melhor maneira. — ...não sei o quanto os insetos das vossas terras são diferentes dos insetos das minhas. — E deveriam ser de alguma forma, pelo que ele tinha visto quando entraram. — No entanto, minhas memórias contam com pouco mais de vinte anos.

Fairy Tale - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora