Reencontro

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O acordo dourado fora feito para estabelecer uma separação terminante e restritiva entre delfins e homens: uma larga fronteira na qual nenhum dos dois lados ousava pisar. No entanto, os homens mudaram muito ao longo dos anos, e se esqueceram do acordo, se esqueceram das fadas e se esqueceram das fronteiras. O acordo dourado, para os humanos, caiu na noite dos tempos: para as fadas, restava apenas o que elas jamais imaginariam depois da decisão extrema que foi o acordo dourado: perdoar os homens, e tentar, outra vez, estar em amizade com eles.

Para isso, uma cerimônia formal foi marcada, para que o acordo dourado fosse quebrado, e então um primeiro sínodo entre fadas e homens depois de muitos anos fosse feito. O local foi o Palácio do Dragão, no País do Ouro; os delfins, na sua sábia cautela, preferiram ir ao encontro dos homens eles mesmos: uma comitiva pequena, na qual Daeset não pode estar presente pela sua saúde fragilizada, mas mandou seu filho herdeiro à frente.

— Presto minha saudação aos príncipes dos delfins. — Jin pronunciou seu discurso formalmente, recebendo à frente dos portões do palácio a meia dúzia de fadas que chegaram pelos céus: à frente delas um delfim pouco mais baixo que Hoseok, de cabelos azul índigo, lisos como água, curtos à altura das orelhas pontudas, ornadas por um par de anéis de prata. Ele tinha olhos finos, observadores, e lábios finos no seu rosto lunar: uma expressão confiante como nunca havia visto. Tinha seu peito liso exposto, sua pele branca sem as tatuagens que se habituara a ver na fada ruiva, nem os piercings, mas um par peças de tecido fino lhe cobriam os braços, desde logo depois dos ombros nus até os pulsos, combinando com a habitual calça larga, que fechava pouco antes dos tornozelos. Um estilo sóbrio, deveria dizer, sem pulseiras ou outros adornos que não fossem os brincos nas orelhas, mas ele carregava um comprido cedro de prata: um cajado, que por pouco não ultrapassava sua altura, com um aro na ponta, e quatro argolas passadas por ele, que tilintaram quando ele bateu o objeto no chão de pedra ao pousarem. Sua presença, unida à daquele cedro, era suficiente pra provar sua autoridade. Jungkook, ao lado do irmão, estava deslumbrado vendo o chefe das fadas, piscando repetidas vezes pra sua figura. Yoongi viu o jovem humano o observando e sorriu de lado, antes de dar o braço pra Jimin, que pousou ao seu lado direito.

— Sim, sim, saudações. — Ergueu o cedro levemente. — Não sou muito dado a formalidades, peço que me perdoem. — Então virou o rosto pro irmão. Ele estava especialmente bem arrumado: o vestido quase transparente de tão fino com a cauda longa tendo que ser carregada por Dust atrás deles pra não arrastar no chão de pedra, os adornos em ambos os tornozelos tilintando, as aberturas nas laterais mais altas que o normal, e uma abertura na frente mostrando o abdômen firme em torno do umbigo; as luvas começando em anéis nos dedos médios e terminando pouco depois dos cotovelos. Tão bonito, e com tantos olhares obviamente encantados sobre ele, que não podia identificar só de ver uma vez. — E então? — Sussurrou a pergunta. — Aonde está o bastardo que dormiu com você?

— Trazemos as saudações do patriarca dos delfins. — Mas Jimin o ignorou, fazendo uma reverência para o rei de longos cabelos negros; Taehyung estava ao lado direito dele, por isso não conseguiu conter o olhar, nem o leve rubor que lhe subiu às bochechas, o que acabou denunciando a resposta à pergunta do irmão mais velho. — Bem como a vontade dele... — Mas continuou firme, pronunciando o discurso do qual já sabia que Yoongi iria se esquecer. — ...carregada por este concelho.

— Uhm. — Jin sorriu pra ele, o reconhecendo formalmente como igual ao retribuir a reverência. De fato, aquelas fadas não perdiam nem um pouco pra Hoseok em beleza, apesar dos olhos completamente negros daquela fada atrás do segundo príncipe serem um pouco assustadores. — Seu povo é muito bem vindo nas minhas terras. Aliás, Hoseok, bem vindo de volta.

Hoseok sorriu, e fez uma reverência de cabeça. A fada de cabelos vermelhos tinha ficado bem íntima dos homens, coisa que deixou Yoongi um tanto admirado, até porque, bem, era Hoseok quem estava querendo briga com os humanos um tempo atrás e acabou deixando seu pai fora do sério por isso. O novo o agradava mais que qualquer vontade de sair na mão, afinal de contas. Mas o que mais o tinha impressionado de verdade era seu irmão: Jimin era cauteloso a níveis obcecados, sua prudência admirável e sua sabedoria chegava a amedrontar às vezes; seu senso de justiça, então, era algo único, por isso não se surpreendeu quando Dust contou que ele estivera fora buscando Hoseok; agora, vê-lo perdendo a cabeça por um estranho, deveria ser um bastardo muito sortudo, no mínimo. E de fato, o general do rei humano tinha uma aura de líder que dava pra sentir a metros de distância; algo nato, ou adquirido de forma tão perfeita que fazia parecer. Mas só aquilo deixou Jimin tão desarmado? Hu, com toda certeza que não.

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