Yoongi andava pelos corredores mal iluminados daquele palácio humano sem perder o seu caminho. O tecido de fibra fina da calça larga farfalhando pelos seus passos pesados: a mão segurando firme o cedro prateado, as asas baixas num descanso resoluto, os cabelos azuis se movendo como água sobre a fronte enluarada. Sabia que Jimin estava mais ao oeste, num quarto grande que pertencia ao braço direito daquele rei, e compartilhava de amor com ele naquele exato momento. Sorriu consigo, apenas um vergar mínimo no canto esquerdo dos lábios finos.
"O que ele viu naquele verme?", pensava, ainda a caminho do seu destino. Sabia que o próprio pensamento era fruto de inveja por aquelas criaturas capazes de dar o chão a eles, que tinham o céu. Os tinha observado durante sua curta estadia ali: eram cheios de orgulho nos ombros, carregando o peso de roupas pomposas, tanto os machos quanto as fêmeas. Sim, fêmeas. Não eram luzeiros, mas eram tantas, numa proporção de um pra um, e aquilo era tentador a fazer coçar a raiz das asas nas costas. Não à toa eles se reproduziam como coelhos, tão numerosos; por um lado bom pra espécie, que àquela altura ocupava toda a superfície do planeta, tão diferente deles, que só tinham as quatro ilhas flutuantes e a capital, mas por outro lado havia o que Jimin havia lhe relatado: guerra.
Balançou a cabeça, afastando as ideias confusas antes de passar pelo portal redondo que dava para um laboratório, num andar mais abaixo depois de escadas circulares em torno de uma coluna de pedra.
— Você me chamou. — Anunciou, batendo no chão seu cedro, pegando de sobressalto o humano de cabelos tão brancos quanto as roupas simples.
— Pri-primeiro príncipe das fadas. — Namjoon gaguejou, se virando de repente: o óculos de aro redondo saltando sobre a ponte do nariz. — Cha-chamei??
— Dos delfins. — Corrigiu, desagradado daquela forma com a qual os humanos os chamavam. — E sim, você chamou. — Afirmou — Nos seus pensamentos. — Andou até o outro, que tremia levemente. — O que quer de mim, médico humano?
— E-eu... — Namjoon se endireitou, achando instantaneamente medonho e impressionante que Yoongi tivesse sentido que estivera refletindo sobre ele. — Estava me lembrando de que Hoseok comentou que... que vossa majestade... — Baixou a testa, num gesto de submissão. — É um "mestre alquímico". Queria saber do que se trata.
— Se trata da conexão com o infinito que vocês humanos perderam. — Yoongi parou ao lado dele, sem se preocupar em manter a distância da qual os humanos pareciam se importar com, olhando ao longo da bancada de madeira toda ocupada com vidrarias das mais variadas formas em apoios de arame de metal e velas a óleo fazendo substâncias multicoloridas borbulharem. — Tudo o que você vem fazendo são truques. — "Apesar de Hoseok ter sentido você cutucando a barreira", pensou. — O que procura conseguir, exatamente?
Namjoon encolheu os ombros, ajeitando os óculos no rosto, corando meio que instintivamente. Yoongi o observou com o canto dos olhos, depois voltou a vasculhar aquela comprida mesa, agora percebia, cheia de outras coisas que não eram só os aparatos de destilação.
— O que quer com essas runas? — Tocou em pergaminhos abertos ali perto, aonde Namjoon havia anotado às pinceladas de nanquim as tatuagens que cobriam o torso da fada ruiva. — Hoseok usou um ritual proibido pra poder manipular o próprio sangue, mas não vai funcionar em você.
— Não queria tentar em mim. — o médico se justificou. — E-estava só estudando...
— "Só"? — Voltou a analisar o humano, sem conseguir evitar o sorriso que lhe ocupou o rosto. Aquele humano era levemente diferente, tinha sentido antes, e estava sentindo agora. — Seja franco comigo, mais curioso do humanos. — Se virou pra ele, com uma mão fechada sobre as ancas saltadas no corpo magro. Namjoon o encarou, obviamente deslumbrado. — Diga-me — "Ele reprime o orgulho", pensou. "Quando explodir será catastrófico"— O que quer aprender do conhecimento que perdeu por ser homem? O que quer de um delfim como eu?
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Fairy Tale - Vmin
Fanfic"Tempos fáceis fazem homens fracos, homens fracos fazem tempos difíceis, e tempos difíceis fazem homens fortes; e homens fortes, estes fazem tempos fáceis. Mas e os que não são homens? O que os fazem fortes, o que os fazem fracos? Quais seus ciclos...