Fairy Tale - Vmin

Floresta de ovos

Cem anos. Se sua expectativa de vida fosse de sessenta anos era muito, mas Taehyung tinha acabado de conhecer um adolescente de cem anos. Bem, então se uma fada de cem anos era um adolescente, Jimin, que tinha aparentemente sua idade, deveria ter uns...

— Trezentos anos? — Ele passou um colar dourado pela sua cabeça. — Sim... um pouco mais. — Confirmou seu palpite. — Como adivinhou?

— Intuição. — Deixou que ele ajeitasse o enfeite pendendo do seu pescoço. — Como estou?

— Muito bonito. — Arrumou o colar sobre o peito largo. De fato, o general ficou maravilhoso com aquela calça do seu irmão: o cós cintura alta era largo e dourado, com uma descida em vale que deixava o ventre logo abaixo do umbigo exposto. — Dust te disse alguma coisa?

— Poucas.

— Sei... — Se afastou um pouco, apreciando a figura do humano em vestes de delfim mais uma vez. — Você está confortável?

— Estou... — Taehyung analisou a si mesmo por um instante. Na verdade, não se vestia com tão pouca roupa nem pra dormir, mas não sabia se era exatamente isso que o estava deixando inquieto, até porque aquela calça larga de estampa escura realmente lhe caíra bem, não podia deixar de admitir. — Só com um pouco de frio.

— Mesmo? — Jimin soltou uma risadinha, e Taehyung sentiu o coração palpitar com aquilo. — Dust. — Ele se virou pra pequena fada, que deu dois toques no batente da porta redonda aberta antes de entrar. — Quanto tempo temos antes do jantar?

— Algumas horas, amo. — Ele respondeu, de cabeça baixa e mãos pra trás das costas. — Vim avisar que o amo Yoongi também estará presente para a refeição.

— Ah, isso é ótimo. — Jimin pareceu empolgado, e então decidido. — Certo, temos tempo. — Foi pro meio da bagunça de coisas do seu quarto e começou a procurar. — Dust, atrase a ceia se eu ainda não tiver voltado, sim?

— Am... — A fada menor o olhou puxar o que parecia uma máquina, comprida e mais ou menos do seu tamanho, preocupado. — Si-sim, sim senhor, mas...

— Sem mas. — Taehyung se aproximou, curioso. Parecia até uma libélula gigante, mas toda feita de fitas de metal retorcidos, engrenagens e alavancas num bronze bem polido: os dois pares de asas, duas folhas de prata lisas. — Já estarei de volta; Taehyung, suba comigo.

— Mesmo? — Dust pareceu tão confuso quanto ele ao ouvir o convite, mas aceitou, subindo numa plataforma entre as asas da máquina, atrás de Jimin, de pé ali, segurando as pontas de duas antenas que vinham da "cabeça" redonda da libélula.

— Mesmo. Segure em mim. — Mandou, e Taehyung enlaçou sua cintura nos braços a tempo do bicho começar a voar em alta velocidade e ele não cair: Dust ficou pra trás numa fração de segundos e logo eles atravessaram uma fenda no tronco da velha Hyperion, mergulhando na densa e noturna floresta de Prasinos, iluminada por uma variedade imensurável de cogumelos bioluminescentes.

Foi a primeira oportunidade que Taehyung teve de observar devidamente aquele lugar sui generis desde que atravessara aquele portal de fogo: um verdadeiro ninho de folhas de todos os tamanhos em todos os tons de verde possível, de fungos multicoloridos e estranhos, de flores e frutos dos mais diversos tipos. Tudo que Taehyung conhecia até então era a floresta de pinheiros na qual fazia sua rotina de caça, atrás do castelo: era num declive suave, com as árvores altas saindo do chão como lanças apontadas ao céu, cobertas de branco no inverno. Uma paisagem monótona e quieta, excitante apenas quando o jogo entre presa e predador começava, mas nada comparável com aquilo que estava vendo agora: árvores tão grandes como montanhas, retorcidas, jogando cortinas inteiras de cipó ao longo do caminho tortuoso no qual Jimin deslisava com maestria, controlando aquele curioso dirigível como se ele e a máquina fossem um só. Sabia que a fada recorreu ao recurso por sua causa, ainda assim era curioso: tentador até, aquelas espátulas de metal batendo no ar denso a fazê-los cruzar longas distâncias mesmo com tantos obstáculos.