O acordo dourado, refeito

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Jimin estava descansando na cama do quarto do general da casa Kim: apenas um cobertor de pêlos espesso cobrindo seu corpo ainda frágil, e uma comprida faixa de tecido de gaze que circundava seu torso e peito por conta das duas cicatrizes nas costas, entre as suas omoplatas. O procedimento que Yoongi fez nele pra tirar-lhe o par de asas foi um processo médico e alquímico, mas nem por isso deixou de ser uma intervenção cirúrgica, e de diversas formas um trauma, pra ele, por isso estava se sentindo um tanto fraco.

— O que eu te deixei fazer...? — Taehyung ainda se lamentava, sentado à beira da cama enquanto segurava uma das mãos da fada no rosto, já sem lágrimas pra chorar — O que eu deixei que te fizessem...?

— Eu sou um delfim livre, lembra? — Mas Jimin sorriu com todo o rosto, ainda assim — Você não teria como me impedir de qualquer jeito...

Taehyung fungou, limpando o nariz com o torso de uma mão, sem soltar a alheia na outra: seus olhos amendoados brilhando, em torno seus traços avermelhados pelo pranto incessante. "Ah!... ele é tão lindo!...", Jimin não pôde deixar de admirar mesmo naquele instante, apreciando a face de simetrias e assimetrias perfeitas do homem pelo qual caiu apaixonado: sua postura, sempre pomposa, suas roupas ostentosas, seu semblante majestoso e seu ar sempre soberbo, tudo aquilo caído por terra. Grandiosas torres de pedra, reduzidas ao pó pra revelar apenas um menino, um rapaz tão novo ainda, um órfão de guerra apenas, entregue às sorte do destino, despido de orgulho, despido de glória, com as pupilas cheias de uma paixão culposa, e um coração de ouro que Jimin sempre soube que ali havia.

— Seus cabelos... — Ele estendeu a mão pra tocar-lhe os fios — ...estão ficando claros... — O antigo intenso azul índigo desbotando aos poucos num azul clarinho a lembrar o do céu coberto de névoas do nascer do dia — O-o seu irmão, e-ele me disse que...

— Uh uhm — Jimin negou com a cabeça, não discordando do que sabia que o irmão mais velho havia lhe dito, mas pra que não pensasse mais naquilo — Foi a minha escolha, Tae... — Segurou a mão maior ali no seu rosto — Foi o caminho que eu escolhi...

Ele sorriu, gentil, e seu belo sorriso se desfez sob o embasar das lágrimas que voltaram a cobrir-lhe os olhos. Sim, Jimin tinha cortado suas raízes com o infinito, e não era mais uma fada, a partir de agora. Taehyung não conseguia não sentir culpa por aquilo: não conseguia se esquecer daquela fecha que transpassou uma das suas belas asas, que os fez se conhecerem, que os fez se amarem: que fez Jimin tomar aquela decisão que o distanciava da capital das fadas, pra sempre...

— Shh... não chore... — O consolou, num suspiro e descansar das costas maculadas no travesseiro macio atrás de si — Eu não tenho seu amor mais...? General?

— Você tem — Disse, com toda convicção devida àquela realidade — Você o tem todo...

— Pode fazer amor comigo, então? — Pediu, como um súplica simples, deitando um lado da face na fronha parda: os olhos estreitados numa silhueta sinuosa, os lábios muito vermelhos numa abertura tentadora — Pra me consolar das dores que estou sentindo?

Taehyung sequer reconsiderou a proposta, subindo os joelhos pra cama, puxando a corda que fechava num entrelaçar o colarinho da sua camisa. Estava só com as vestes de baixo, então foi simples tirá-las, mas Jimin ficou observando cada passo com uma atenção dobrada, como que a ver um espetáculo. Ah!... era tão bonito aquele corpo que o humano cobria com tantas peças de roupas que o aumentavam: suas retas firmes, suas curvas suaves; a pele num subtom canelado uniforme e cheia de pintinhas que Jimin adorava como se fossem estrelas do próprio céu de Prasinos. Já nu, ele avançou pela cama, sobre joelhos e mãos, e puxou as cobertas pra longe do corpo da fada cuja essência aos poucos estava falecendo. Jimin espreguiçou-se sobre os lençóis finos, ansioso pelo toque quente do corpo bonito à sua frente, que deitou sobre o seu: seus ombros tão bem envolvidos pelo abraço dos braços compridos, os peitos unidos, o quadril fino alinhado ao seu, as pernas longas sobre as quais podia descansar suas próprias. Sim, aquele encaixe, de alguma forma, era perfeito.

— Por que você quis ficar? — Taehyung começou com um beijo no topo proeminente da orelha pontuda — Você sabe como nós somos orgulhosos... — E então foi descendo, pela orelha e extensão da mandíbula — ...e gananciosos... — com beijos ora castos — ...e desonestos — ora intensos — Você disse tudo isso pra mim.

— Mmmh... — E Jimin movia-se à medida que o homem percorria-lhe a pele com os lábios, pra que tivesse mais espaço.

— Você recusou minha oferta.

— Eu sei... — Suspirou longamente, escorregando as mãos dos ombros largos pros seus braços e apertando-os, sentindo nos dedos a sisudez dos músculos tensos que o mantinham ali suspenso sobre ele — ...mas eu te amo... — Confessou-se, sinceramente, e apaixonado de um jeito inquestionável — Da mesma forma que eu não queria ver Namjoon morrer, eu não queria ter de deixar você... — Olhou fundo nos olhos acastanhados, que se ergueram para o olhar atentamente — ...por pouco eu não cedi, mas minha afeição pelos homens venceu meu medo — Sorriu largo — E agora eu posso ficar aqui. Com você. Pelo tempo que tivermos juntos.

Pelo tempo que tivermos... Sim, agora era Jimin quem teria o que seria uma morte precoce entre as fadas... O que eram umas dezenas de anos, para um ser que viveu mais de três séculos?

Taehyung então beijou-o nos lábios: ainda os lábios sensíveis de uma fada, com tristeza, com severidade, como um obrigado, como uma adversão. Namjoon talvez fosse digno daquela escolha, das fadas, de Jimin, pois ao contrário dele que tirou tantas vidas em batalha, o médico salvou várias. Mas e ele? Taehyung não se sentia merecedor, se sentia culpado, e uma parte de si queria morrer...

Mas Jimin estava ali, afinal, beijando-o em retorno com uma liberdade à qual nunca tinha se largado. Jimin estava ali, afinal, se contorcendo nos seus braços, arrepiando contra sua pele, estremecendo, apertando-lhe os braços a rasgar-lhe a carne e endurecendo consigo: o líquido pré seminal escorrendo e se misturando ao suor que os cobria.

— Eu serei o melhor por você... — Prometeu, erguendo-se sobre os joelhos e trazendo Jimin consigo com um braço em torno da sua cintura — ...eu te farei alteza entre os meus... — E o sentou no seu colo, apertando as coxas fartas em toda sua extensão enquanto derramava beijos apaixonados pela sua clavícula — ...e te farei um trono de tesouros dourados.

— Eu não quero nada disso... — Recusou, aos risos: a dor que pulsava dos ferimentos nas suas costas completamente remediado agora pelos toques dos lábios perfeitos e a cada aperto das mãos calejadas. Escorregos os dedos por entre os cabelos castanhos, deitando a testa na alheia, apreciando o infinito que podia ver no fundo das pupilas dilatadas, voltadas para si — Taehyung... — E pronunciou seu nome com cuidado, e devoção, sentindo nos peitorais unidos os corações batendo num mesmo ritmo — ...todo o meu tesouro é você. 

Fairy Tale - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora