A Casa Kim

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— Meu Rei. — Taehyung estava atravessando o pátio do palácio à frente da sua tropa: sua capa de forro vermelho esvoaçando às fortes correntes que desciam das montanhas do leste. — A que devo a honra de ser recebido pela minha majestade?

— Não é digna minha saudade pelo meu amado irmão? — Seokjin veio vindo ao seu encontro: os longos cabelos negros soltos ao vento, o diadema dourado em torno de uma gema de rubi na testa exposta; um brilho único nos olhos negros, um sorriso nos lábios fartos. — Meu general.

— Jin. — O abraçou, com força, antes de se afastar um passo e se pôr sobre um joelho. — Este general retorna à casa Kim com uma vitória. — Disse, segundo o protocolo, juntando o punho e a mão aberta à frente. — E pede a benção da vossa majestade, à qual se despoja de qualquer honra própria.

— Eu te abençoo. — Jin bateu com o leque fechado no seu ombro direito. — E a honra pela vitória é toda sua e de seus soldados. Levante-se.

Taehyung obedeceu, se levantando, ao que recebeu outro abraço logo em seguida.

— Meu Rei sentiu mesmo minha falta. — Sorriu.

— É claro que senti. — Soltou-o, e então começaram a caminhar juntos até as escadas. — O exército quase todo voltou sem você: eu fiquei preocupado.

— Estava cuidando de um assunto delicado...

— O tal anjo caído do qual contaram? — Jin abriu o leque à frente do peito, abanando, suave e elegantemente: uma mão fechada às costas retas, o tecido do manto externo arrastando no chão de pedra no ritmos dos passos leves. — Estou curioso pra ouvir sua versão da história. — Sorriu-lhe, divertido. — Me pareceu até um conto de fadas.

— Bem, não deixa de ser... — Taehyung parou antes de subirem o primeiro degrau da escadaria que levava ao palácio, virando pra trás e fazendo um sinal aos soldados que vinham atrás com uma carruagem. — Consegui ficar em bons termos com eles, então me cederam gentilmente um embaixador, que ficará conosco por um ano.

— Um embaixador? — Jin se virou também, parando de mover o leque por um instante. — Não imaginava que fosse tão sério.

— Verá por si mesmo, majestade. — Taehyung fez um gesto com a mão na direção da carruagem, bem no momento em que paravam o cavalo e abriam a porta.

Kim Seokjin era um nobre calmo e no pleno controle de suas emoções, sua postura admirável: ainda assim, quando viu aqueles cabelos escarlate, o peito exposto cheio de marcas curiosas e às costas largas um par de asas num laranja a lembrar o pôr do sol, Jin teve de cobrir com o leque seu queixo caído, mas seus olhos redondos bem abertos não escaparam à atenção do seu general, observando de soslaio sua reação à fada, que desceu da carruagem naquele seu natural jeito defensivo e agressivo, de cenhos franzidos, lábios crispando, peito aberto e punhos fechados.

— Nunca mais me ponham nessa caixa apertada de novo. — Hoseok reclamou, estalando a língua de raiva, mas se recompondo logo, indo a passos largos e firmes na direção de Taehyung e do outro, que logo entendeu se tratar do rei daquele lugar. Parou à sua frente, e fez uma reverência profunda. — Venho em nome do patriarca de Dafne, a fim de um possível reparo dos nossos laços com os humanos. — Falou, de forma tão direta e sucinta, que deixou Jin deveras impressionado. — Permita-me ficar sob a sua hospitalidade no tempo de um ano.

Taehyung fora adotado pelos Kim quando tinha apenas nove anos: ele era um escravo numa das muitas províncias que a casa Kim agregou ao seu território através da guerra na época, e o rei Kim o escolheu pessoalmente para que se tornasse irmão do seu único filho legítimo, Seokjin, que tinha então seus doze anos. Criado numa corte de conquistadores, cujo símbolo no brasão era a própria esfera dourada de um dragão ambicioso, ele logo se interessou pela arte da guerra, mais que o próprio príncipe herdeiro, e quando este teve de assumir o trono aos dezesseis anos, pela morte precoce do rei em batalha, nomeou logo seu irmão como alto general do império. Mesmo com apenas quatorze anos, podia-se dizer que Kim Taehyung era uma verdadeira máquina de guerra: suas conquistas em combate incontáveis e épicas, levando aos quatro cantos o legado da casa Kim, com seu território cada vez maior, seu exército ameaçador e seu poder inegável pela sua riqueza, pois essa era a política do clã de reis Kim: o que se não consegue com alianças, se consegue com sangue. Por isso que, do outro lado da moeda, Jin era mais que competente em conseguir aliados; um deles foi a família Jeon, que tinha terras no oeste, mas a casa sofreu um golpe por insatisfeitos do próprio país, e do ataque sobrou apenas o príncipe, Jungkook, ainda uma criança nos seus treze anos, quando Jin o adotou como irmão em nome da amizade dos clãs. Taehyung liderou a guerra contra a oposição logo em seguida, e mais um território foi agregado ao seu país, bem como a vingança dos Kim pelos seus aliados foi feita, e sua lealdade provada a muitos outros clãs que procuraram se aliar depois daquele evento.

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