Impasse

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- O que vocês estavam fazendo? Ouvi uns barulhos estranhos e decidi ver se estavam bem.

Charlie olhava realmente preocupado para nós dois. Eu é que nao falaria o que tinha acabado de acontecer.

- Ah, Charlie querido. Willy estava me mostrando que não é o chocolate dele que é uma delícia.

Definitivamente não!

Meu subconsciente corria de um lado para o outro tentando bolar alguma coisa. Vamos! Funcione!

- Nós...er..est-távamos..ahn..

- A senhorita Van Carter trouxe uma comida deliciosa de sua mãe para que eu pudesse me recuperar. Então conversamos um pouco e entao notei que ela estava bastante pálida e olhava fixamente para uma baratinha que estava no quarto. Então começamos a tentar exterminar aquele serzinho e a senhorita aqui não parava de gritar completamente apavorada.

Willy do céu. Não sabia que você era um mentiroso tão sagaz. Mas talvez você não saiba que eu nao tenho medo de baratas ou qualquer outro bicho parecido.

- Ahhh! Então isso explica os gritinhos que ouvi. Eram bem engraçados.

Senti que minha cara estava prestes a virar um pimentão e Willy mal consegui conter o riso. Safado!

- Pensei em vermos como estavam o andamento para as encomendas de Bristol. Teremos um grande carregamento saindo hoje.

Charlie concordou. Para uma criança, ele era bastante sério nesses assuntos. Ainda mantinha sua inocência, como vimos alguns minutos atrás, mas ele era bastante compenetrado no que se tratava em auxiliar Willy.

- Eu vou indo então.. Não quero incomodar sabe.

- Não será incômodo algum senhorita Van Carter! Willy, ela pode ir conosco nao é?

Olhei para ele, seu semblante estava bem diferente do Willy de alguns dias atrás. Parecia mais jovial, e um tanto... Selvagem?

- Será um prazer para mim.

Dizer que uma bússola seria muito útil naquela fábrica não é exagero. O local é enorme! Caminhamos por corredores, salas, áreas de estocagem de materiais até chegarmos ao depósito onde ficavam as encomendas que sairiam para entrega, já devidamente embaladas e identificadas.

- É difícil dizer o número exato de cabeça, mas temos hoje, aproximadamente mais de 150 pessoas de várias partes do país e do exterior que compram os produtos da fábrica para revenda.

O peso do gravador no meu casaco era de poucas gramas, mas nesses momentos parecia pesar mais que um elefante.

- É realmente encantador. Tudo nesse local é. - falei olhando ao redor das milhares de caixas empilhadas praticamente até o teto.

- Tudo nesse local? Incluindo a mim?

Charlie soltou uma risadinha com a pergunta de Willy. Eu corei violentamente. Encantador até demais.

- Eu estaria mentindo se falasse que não.

Neste jogo jogam dois.

A boca de Charlie se abriu enquanto ele olhava de mim para Wonka como se estivesse assistindo a uma partida de tênis.

- MEREDITH E WILLY EMBAIXO DE UMA ÁRVOREEEEEEE...

Charlie saiu correndo ao nosso redor cantando uma musiquinha boba sobre casal enquanto eu encarava Willy que... Santo Deus! Não parava de corar!

- A senhorita é bastante atrevida não?

- O atrevimento é uma das minhas virtudes.

- E sua sagacidade o maior de seus defeitos.

A tensão. Pura tensão exalava entre nós dois no meio daquele depósito. Charlie estava alheio à conversa que acontecia pois ainda encontrava-se falando sozinho sobre como Willy e eu estávamos apaixonados e não queríamos admitir.

Crianças não mentem.

Sacudi o pensamento da minha cabeça. Deveria negar até a morte meus sentimentos pelo Wonka. Eu estava ali para jogar e conseguir material necessário para fazer com que meu chefe aceitasse a porcaria de uma matéria sensacionalista e eu enfim pudesse ser reconhecida como uma jornalista decente.

Foco, Carter. Foco.

- Willy, eu preciso ir agora. Preciso cuidar de alguns assuntos pessoais, você se importaria?

Diga que sim, diga que sim...

- De modo algum senhorita Carter, não devo impedi-la de seus afazeres. Se quiser posso pedir que um dos meus funcionários leve você até sua casa.

Droga.

- Ah, não precisa se incomodar. Eu... eu pego um táxi. Charlie! Já estou de saída, foi ótimo passar esse tempo com vocês mas preciso ir agora.

Charlie se arrastou até mim fazendo biquinho. Tão fofooooo.

- Puxa vida... Tudo bem senhorita Van Carter. Espero que consiga resolver seus assuntos e logo esteja conosco novamente.

Me despedi deles e saí da fábrica. O ar estava frio como sempre e meu nariz coçava. Dentro da minha cabeça, nada havia sido processado. Willy e eu... Ai o que eu faço? Não vou mentir que dizendo que não gostei, aquilo foi incrível. Eu me sentia um lixo por estar me aproveitando da ingenuidade dos dois. Eu era um monstro.

Apertei o pequeno botão do gravador. Precisava trocar a fita e guardar a que fora usada hoje. Olhei para ela e diante de mim sabia que aquilo poderia ser minha passagem para um futuro de jornalista brilhante.

Você joga sujo.

É, eu sei. Entrei nessa com o propósito de apenas garantir a minha estabilidade financeira e agora me vejo em um beco sem saída.

- Olá senhorita Van Carter!

Minha vizinha Rosmerta me cumprimentou enquanto eu subia as escadas até meu apartamento.

- Boa noite Rosmerta!

Eu precisava de um banho quente. E álcool.

Sentei no sofá ainda com a toalha enrolada na cabeça e tomei um longo gole de um vinho barato qualquer. Aquilo me daria uma bela dor de cabeça. Mas seria uma distração para manter um belo chocolateiro longe da minha mente.

Comecei a reproduzir a fita de hoje. Peguei papel e caneta e me atentei à cada detalhe importante sobre a fábrica.

Havia muito trabalho a se fazer.

ꜰᴏɢᴏ, ᴘɪᴍᴇɴᴛᴀꜱ ᴇ ᴄʜᴏᴄᴏʟᴀᴛᴇꜱ🍫🔥Onde histórias criam vida. Descubra agora