Declínio

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Seijaku - Calma em meio ao caos.



Quando eu tinha 7 anos de idade, lembro-me de ter ganhado uma velha bicicleta dos meus pais. Era rosa mas em algumas partes a pintura já se encontrava bem desgastada a ponto de sair algumas lascas de tinta.

Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Fiquei o dia todo andando pra cima e pra baixo, mas quando o sol começou a se esconder, voltei para casa. Antes da casa dos meus pais, havia uma ladeira. Eu, no meu espírito de criança imprudente e teimosa, decidi descer a ladeira em cima da bicicleta. Quase podia ouvir a voz da minha mãe falando "Você vai cair, desce logo."

Mamãe saiu de casa apressada enxugando as mãos em seu avental. Meu choro daria pra ser ouvido em toda Castle Combe. De um lado estava eu, segurando meu joelho completamente ralado. E do outro, minha bicicleta caída.

Foi necessário apenas uma pomada e um beijinho da minha mãe para que a dor pudesse ser esquecida. Como eu queria que isso funcionasse agora.

- Está tudo bem, senhorita? 

Humpkin me olhava preocupado. Fiz o que pude para lhe oferecer um fraco sorriso.

- Tá sim, Humpkin. Obrigada por se preocupar, foram alguns... Problemas femininos, mas tá tudo bem agora.

Desci as escadas da pensão e não me lembro de como cheguei até o final. Meu corpo parecia estar no automático. Me sentia letárgica, uma morta-viva. 

Eu precisava conversar com Willy e Charlie. Precisava esclarecer essa situação o quanto antes embora tudo que eu quisesse era pegar um ônibus e ir chorar no colo de minha mãe.

Rumei a caminho da fábrica. Os grandes portões pareciam me acusar silenciosamente enquanto eu adentrava no local. Não demorou muito para que eu encontrasse com Charlie.

- Boa noite senhorita Van Carter! O que aconteceu? Seu rosto parece inchado, estava chorando? Está com dor?

Me perdoe Deus, por quebrar o coração deste anjo.

- Está tudo bem meu amor, não precisa se preocupar. - disse enquanto reprimia um soluço. - Sabe me dizer se Willy já acordou? Liguei pra sua mãe mais cedo e ela me disse que ele estava dormindo, devia estar exausto.

- Ah, eu decidi deixá-lo dormir e acabei não o acordando. Mas se quiser, pode ir no quarto dele.

Concordei com um aceno e segui meu caminho. Era estranho Willy ainda estar dormindo, esses dias devem ter sido bem difíceis no trabalho para que ele tenha apagado desta forma.

Não demorou muito e eu estava diante do quarto dele. Respirei fundo algumas vezes e entrei.

Willy dormia a sono alto, a senhora Bucket deve tê-lo ajeitado na cama. Vários papéis do escritório estavam jogados na mesinha de cabeceira e ele agora estava coberto, dormindo profundamente.

Como se minha mão tivesse vida própria, acariciei seu rosto enquanto uma lágrima solitária insistia em descer pela minha face.

- Hmmm... Mery? O que aconteceu? Eu dormi?

- Desculpa, eu não queria te acordar - falei tentando secar rapidamente meu rosto. 

- Estranho, é tão raro eu dormir assim. Que horas são?

Olhei meu relógio de pulso, eram quase oito horas da noite.

- São 19:45. Você está com fome? Posso ir ver algo para você comer.

Senti seu braço pegar minha cintura e me puxar para a cama. Fui envolvida em um abraço tão quente, tão confortável... Minha garganta se apertou enquanto eu reprimia com todas as minhas forças o choro que estava por vir.

ꜰᴏɢᴏ, ᴘɪᴍᴇɴᴛᴀꜱ ᴇ ᴄʜᴏᴄᴏʟᴀᴛᴇꜱ🍫🔥Onde histórias criam vida. Descubra agora