Por um triz

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Se Willy Wonka não recebe ninguém por bem, receberá por mal.

Marquei com Claire para me encontrar às 18 horas na pequena delicatessen que ficava próximo ao prédio no qual trabalhamos. Do lado do balcão, as barras Wonka pareciam rir da minha frustração.

- Mery! Aconteceu alguma coisa?
Claire havia acabado de chegar, os cabelos e maquiagem impecáveis como sempre.

- Preciso de sua ajuda Claire. Sabe onde posso conseguir corda, lanterna, roupa de proteção e coisas do tipo?

Claire me olhava como se tivesse crescido melancias na minha cabeça.

- Meredith... O que você está aprontando dessa vez? - soltou um longo suspiro.

- Simples. Vou invadir a fábrica de Willy Wonka e extrair o máximo de informações que eu puder para minha matéria.

- Vo... Você... invadir...MEREDITH VAN CARTER ISSO É LOUCURA GAROTA!

- Fale baixo! - falei colocando a mão na boca dela para que se calasse. - Eu fui até lá hoje, mas não me receberam. Ao que parece, o famoso chocolateiro detesta visitas. Então, preciso entrar lá de qualquer jeito.

Claire fechou os olhos e massageou suas têmporas antes de começar a falar.

- Isso é loucura. Pura loucura. Mery, você pode fazer a matéria sobre qualquer outra coisa. Mas não, você vai acabar presa! Ou até pior! Me prometa que vai desistir dessa ideia e procurar outro título para trabalhar. Por favor.

Os olhos dela suplicavam. Respirei fundo soltando o peso do cansaço dos últimos dias.

- Ok. Eu prometo.
Claire não viu meus dedos cruzados sob a mesa.

Saí da delicatessen e fui até uma loja de materiais para reforma. Peguei tudo que iria precisar, pois ainda hoje colocaria meu plano em prática. Comprei cordas, um macacão de jardinagem confortável, além de um alicate e algumas luvas. Minha amiga tinha razão. Era loucura. Mas eu também não poderia me dar ao luxo de perder meu emprego que foi tão difícil de conseguir. Seria minha chance de ouro e a sorte não costumava sorrir para mim duas vezes.

Quando o relógio da cozinha bateu 21 horas, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e segui pela rua. O ar estava com um frio cortante e meu queixo tremia, eu não morava muito longe da fábrica, eram cerca de dois quarteirões. Os portões estavam trancados como sempre, então dei a volta até a saída dos caminhões que abasteciam as lojas locais.

Tirei o pé de cabra da mochila e tentei forçar a fechadura mas sem sucesso. Minhas mãos doíam pelo esforço, até que olhei para o lado oposto e vi uma cerca fechada com uma corrente dourada. Saquei o alicate e tentei abrir.

- Vamos! Por favor!

Trink!

A corrente caiu no chão e sorri.

- Vamos desvendar seus segredos, Wonka.

Descobri que a entrada servia de depósito para o lixo diário. Logo que atravessei o depósito, havia uma entrada lateral que dava para uma das caldeiras da produção de chocolate.

Lá dentro estava quente e me senti bastante confortável, as máquinas cintilando no escuro davam uma visão macabra e ao mesmo tempo bela do local.

- Peça que me enviem os testes da nova goma de mascar. E quero também as novas embalagens das jujubas coloridas!

Droga! Droga, droga, droga!

Rolei para trás da bancada a tempo de me esconder de ninguém menos do que o proprietário da fábrica! Os passos foram se aproximando cada vez mais e meu coração estava acelerado. Ser pega e ir para a cadeia me parecia inevitável no momento.

- Espere... Há alguém aqui.

Meu coração bateu mais depressa.

- Diga ao Charlie que amanhã cedo iremos começar as negociações com Madagascar.

Eu não podia acreditar nos meus próprios olhos. Seguindo na direção oposta, tive o vislumbre de um pequeno homenzinho andando apressado. Não deveria ter mais de 30 centímetros. Meu queixo caiu.

- Eu sei que você está aqui. Se entregar será sua melhor escolha, sabia?
A voz dele me tirou do transe. Apertei meus lábios, um barulho e ele me acharia.

- Muitos já tentaram levar embora minhas receitas, não é a primeira vez que lido com espiões aqui. Sei o que procura, mas não irá encontrar.

Eu não quero suas receitas, seu maluco. Apenas uma entrevista. Será que é pedir muito?

Minha respiração estava cada vez mais pesada, alcancei silenciosamente meu alicate e o joguei na direção oposta causando um grande barulho ao se chocar contra as tubulações.

O barulho o assustou e na hora que ele se virou, me levantei o mais rápido que pude e saí correndo. Devo ter alcançado uns 300 metros quando ele gritou:

- Pare agora!

Não sei o que deu em mim, mas gritei de volta:

- Tente me alcançar!

Nós dois corríamos e eu já podia ver a saída. Minhas pernas doíam.
Assim que cheguei ao portão que eu havia entrado, olhei para trás antes de dizer:

- Eu irei encontrar, Willy.

A última coisa que vi foi ele tentando me alcançar quando saí e alcançava a rua. A fábrica ia se distanciando aos poucos do meu campo de visão. Caí e meus pulmões estavam queimando.

- Eu não quero suas fórmulas Willy, apenas descobrir sobre você.

Mas eu não iria desistir.

Meu nome é Meredith Van Carter, desistir sempre esteve fora de cogitação.

ꜰᴏɢᴏ, ᴘɪᴍᴇɴᴛᴀꜱ ᴇ ᴄʜᴏᴄᴏʟᴀᴛᴇꜱ🍫🔥Onde histórias criam vida. Descubra agora