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" Como abraçar uma pessoa pode ser tão complexo, em meu Deus?".
Penso que dei bobeira demais, errei em não afasta-me dela. Agora ela sabe quem eu sou, ela a Rafa agora me abraça. Se o mundo pudesse abraçar alguém, esse abraço seria como Rafaela me deu aquele dia. Era reconfortante saber que desta vez ela que quis abraça-me em forma de agradecimento. Como eu posso não sentir meu chão desmoronar por causa dela?
Eu queria poder dizer que tive uma boa noite de sono, mas a verdade é que não consegui dormir durante muito tempo, e quando finalmente o bendito veio, tive um quase horrendo pesadelo. Neste pesadelo eu a vi de vestes brancas e delicadas, com seus cabelos soltos ao vento, com aquele sorriso sincronizado ao olhar cativante. Sei que a visão dela foi a melhor parte do pesadelo, mesmo quando ela ser tornou uma criatura malévola e sombria.
No pesadelo Rafaela brincava com meus sentimentos, como se fossem apenas papéis inúteis que não tem mais serventia. Seu sorriso era de uma vilã de cinema, apesar do charme e da expressão de inocência que eu sempre admirei nela. Acordei suando ao pensar na minha querida Rafaela assim.
Eu nunca me apaixonei por ninguém nesta vida, estava feliz com as minorias probabilidades de isso acontecer até meu sacerdócio. Mas pensar nela causava uma inquetitude dentro de mim, como se eu estivesse preste a pular de um avião no meio de uma turbulência, racionando lentamente se deveria usar paraquedas.
"Meu senhor, essas coisas não deveriam ser assim!"
Depois de conseguir acalmar meu organismo de que aquilo era só um pesadelo, aproveitei para dedicar minha manhã as orações. Por mais tosco e bobo que pareça ser, a maior das minhas intenções foi encontrar um solução para esse turbilhão de sentimentos. Eu sabia que Deus tinha bilhões de coisas mais importante que meus melosos conflitos internos, mas sabia que ele sempre tinha tempo para me ouvir.
Se Jesus podia fazer água virá vinho, também poderia fazer-me esquecer aquele abraço...
Com o coração mais sossegado, bem descansado e preparado para mais um dia, após almoçar a comida que a Governanta preparou para mim, caminho até meu carro com meu escudo nas mãos. Coloco minha Bíblia no banco do passageiro, sintonizando o som na rádio católica. Dirijo com tranquilidade até a Paróquia, ouvindo Thiago Brado que aquece minha fé em questão de minutos.
Além de estar em todas as missas semanais, celebrativas e do final de semana, eu ia para igreja todos os dias ajudar o Padre Sebastião com a organização da secretaria. Meu pai pediu-me um ano para eu decidisse o que fosse melhor para mim, então por quê eu não ficaria esse período dentro de onde eu quero passar minha vida inteira não?
Estaciono com cuidado o carro, pegando no porta-malas duas caixas cheias de doações de alimentos que ganhei com um amigo empresário do meu pai. Carregando-as até a secretária paroquial, observo o meu sacerdote favorito atendendo algum fiel ao telefone. Deixo um sorriso escapar ao perceber sua dificuldade de usar a tecnologia a favor de nós, apesar daquele senhor de 84 anos ainda usar seus modos para não deixar nenhuma ovelha ser perder pelo caminho.
