𝗕𝗜𝗥𝗗 𝗕𝗢𝗫, a história não registrada

11 - Por trás da porta

*Autora On*

O capítulo a seguir nada mais é uma continuação do capítulo Ligação, no ponto de vista de Victoria, personagem já revelada como sendo namorada do nosso querido Felix. Contudo, antes de mais nada, me vejo na obrigação de explicar a relação que há entre o casal.

Felix e Victoria estavam juntos há muitos anos, muito antes do fim do mundo começar. Eles eram tudo o que sobrou para o outro depois de uma série de coisas que aconteceram em suas vidas. Felix perdeu a mãe aos seis anos, enquanto o pai morreu há poucos anos dentro de uma prisão. Já Victoria, nunca passou por esse tipo de situação familiar porque ao nascer foi levada para um orfanato e ficou lá até completar sua maioridade.

Victoria e Felix se conheceram em uma loja de discos. Ela era a funcionária e ele, o cliente. Em longo prazo, após uma boa amizade se formar, um relacionamento deu início e ambos começaram a morar juntos. Era uma relação sincera e uma convivência bastante tranquila, apesar de caótica quando Victoria tentava ajudar Felix com o seu problema com vícios. Ele até tentava parar, mas sempre sofria uma recaída que o deixava mais desestabilizado. Victoria sabia que aquilo não faria bem a ele, mas quando decidiu aceitar Felix do jeito que ele era, o convívio do casal ficou finalmente pacífico e a relação, mais intensa.

Certo dia, Felix foi ao mercado, garantindo que voltaria cedo. Ambos apenas não imaginavam que, momentos depois da partida de Felix, um caos chamado apocalipse começaria a surgir nas ruas por toda a cidade, senão no mundo inteiro. Pobre Victoria! Após escutar as notícias alarmantes pelo rádio, se sentiu culpada por ter pedido ao companheiro ir ao mercado para comprar alguns ingredientes para o jantar. Ela só queria preparar algo especial naquela noite para revelar para Felix que estava grávida.

— Eu preciso fazer alguma coisa! Ele precisa de mim! - Victoria dizia consigo.

Ela andou depressa até a porta da sala que levava às escadas para o portão social, mas tropeçou no tapete da sala e caiu sobre o próprio braço, lesionando-o. Sozinha e sem nenhum tipo de auxílio médico, Victoria precisou ser mais cautelosa com o bebê que esperava e se virar de algum modo com o braço danificado. Enquanto criava uma tala improvisada para imobilizar o braço, a moça se perguntava onde Felix poderia estar e se estava bem.

As esperanças de Victoria começaram a diminuir à medida que os dias se passavam. Aos soluços e lágrimas, quando sentou-se no sofá a moça sentiu algo embaixo de si. Era o seu celular perdido, que apresentava vinte por cento de bateria. Com um largo sorriso e o peito estufado de alegria, não hesitou em ligar para Felix.

Ouvir uma voz familiar do outro lado da linha fez o coração de Victoria saltitar de tamanha felicidade. Ambos não puderam conversar por muito tempo. Felix parecia preocupado e, para Victoria, pelo seu tom de voz parecia esconder algo, mas ele garantiu que estava bem, pedindo para que não se preocupasse e prometendo que iria buscá-la se desse tudo certo.

Victoria ficou preocupada com Felix, se perguntando como ele conseguiria ir até ela sem poder usar sua visão. Contudo, ficou um pouco aliviada em cogitar que durante aqueles dias ele poderia estar acompanhado de pessoas confiáveis. Victoria sabia que era quase impossível uma pessoa tão estourada e impulsiva como Felix ter sobrevivido sozinho àquele apocalipse. Ela até pensou em revelar via chamada sobre a gestação, mas queria contar apenas pessoalmente.

Horas depois após a ligação, Victoria ficou aguardando durante horas à espera de Felix. Chegava a se perder em pensamentos, com a planta do pé batendo rapidamente contra o chão, demonstrando sua ansiedade. Seu coração parou quando alguém bateu na porta.

— FELIX! ELE CHEGOU! — eu dizia sozinha — ELE REALMENTE VEIO, COMO DISSE QUE VIRIA! ESTOU TÃO FELIZ!

A porta bateu novamente, a batida era mais forte e aparentemente Felix já tinha aberto o portão social e tido acesso às escadas que levavam diretamente à porta de sua casa. Victoria, alegre e com as pupilas brilhando, procurou a chave desesperadamente e, ao encontrá-la, foi ao encontro da porta de entrada.

A mente de Victoria repetiu incontáveis vezes a cena de abrir aquela porta, reencontrar Felix, abraçá-lo fortemente e não se distanciar mais dele e, após a revelar sobre o bebê, os três se tornarem uma família linda e feliz, sem nada com que se preocupar.

Victoria, enganada ao pensar que era Felix batendo à porta, abriu rapidamente sem considerar a possibilidade de ser outra pessoa. Para sua surpresa, era sua vizinha idosa, que estava infectada por um vírus diferente. Esta infecção não causava suicídio, mas provocava uma sensação completamente distinta nos indivíduos. Infelizmente, ao entrar em contato com a vizinha, Victoria também foi infectada pela mesma condição.

*Autora Off*